Sonic e a sua trupe regressam ao grande ecrã para um terceiro filme que promete ser um dos mais ambiciosos com a presença do anti-rival mais destemido: o Shadow. Será que a Sega e a Paramount Pictures têm que puxar o travão de mão neste franchise ou estaremos a presenciar um das mais bonitas histórias de redenção no que diz respeito às adaptações cinematográficas? “Vive e aprende”: a Squared Potato traz-vos a opinião escrita por um fã de longa data do ouriço azul mais conhecido da cultura pop.
“O patinho feio que virou cisne”
Há seis anos, quando as redes sociais vociferavam o terror perante um trailer contendo um design extremamente dúbio do Sonic, os fãs do icónico personagem nem imaginavam o que estaria para vir. Respondendo às críticas, o realizador Jeff Fowler tomou a decisão de “transformar” o que a Internet apelidou de “Ugly Sonic”. Essa “mudança de visual”, digamos assim, é a que perdura até hoje e, quando temos um terceiro capítulo sob a forma de uma longa metragem a estrear nas salas de cinema, sabemos que essa decisão poderá ter salvo o ouriço das trevas que são… “as adaptações cinematográficas de videojogos”.
Antes de Sonic The Hedgehog ter estreado nas salas de cinema no início de 2020, o salto dos videojogos para o grande ecrã nunca correu da melhor forma. A única excepção expressiva é capaz deve ser Mortal Kombat (1995), que marcou a última década do século XX e perdura até aos dias de hoje (em parte, por causa da orelhuda remistura techno).
Apesar do primeiro filme ter um enredo muito simples – digno de um “filme de domingo à tarde” – a prestação de Ben Schwartz como Sonic e, claro, Jim Carrey como Doctor Robotnik fez com que ofuscasse esse aspeto menos conseguido. Foi o balanço certo que tanto agradou o público mais infantil como fãs de longa data do ouriço azul.
Já em Sonic The Hedgehog 2, lançado dois anos depois, conseguiu trazer Tails e Knuckles a este universo cinematográfico e foi mais fiel aos acontecimentos dos videojogos. Foi, sem dúvida, uma sequela muito competente, apesar de manter o registo infantil em algumas instâncias, porque, afinal de contas, é esse um dos principais públicos alvo destes filmes.
Knuckles The Echidna, a série spin-off lançada em abril deste ano, mostra o lado mais espalhafatoso e foleiro que este franchise pode enverdar. No entanto, chega-nos, agora, às salas de cinema, o terceiro capítulo: Sonic The Hedgehog 3.
“A aventura do Sonic” no grande ecrã
Quando presenciei a cena pós-creditos do segundo filme e mostraram um vislumbre do Shadow, o popular personagem desta saga, a minha mente recuou cerca de 20 anos. Regressei ao meu quarto onde tinha o meu televisor CRT, um poster alusivo vigésimo aniversário do ouriço colado na parede e a Dreamcast da qual rodava o disco do Sonic Adventure 2 que fazia ranger o laser dessa consola (para quem teve, sabe o que quero dizer)
Foi neste título que foi apresentado Shadow the Hedgehog. Uma espécie de vilão que, depois se torna num anti-herói em anos seguintes. A estória de Sonic Adventure 2 é toda ela, épica mas, ao mesmo tempo, é atabalhoada. Tem a sua dose de ridículo quando vendo em retrospetiva e está repleta de personagens que, de uma forma ou de outra, intrometem-se na narrativa.
Quando a promoção do Sonic The Hedgehog 3 arrancou, os fãs, rapidamente, aperceberam-se que o argumento iria ser baseado nos acontecimentos de Sonic Adventure 2. Desde o uso do tema “Live and Learn” e a inclusão de personagens como Gerald Robotnik, parecia prenunciar, que, mais alguns momentos-chave voltariam a acontecer.
Não foge muito à verdade, apesar de considerar que o trio de argumentistas deste filme – Pat Casey, Josh Miller e John Whittington – ponderaram bastante sobre quais os elementos seriam adaptados. Sem revelar detalhes, creio que as decisões na estória foram bem delineadas e, para quem conhece o enredo do jogo da Dreamcast, não ficará desiludido. E, claro, existem alguns easter eggs deste jogo em particular que deixarão fãs de longa data com um sorriso estampado no rosto.
A força dos atores-dobradores
Gerald Robotnik, avô do Doutor Robotnik, é também interpretado por Jim Carrey. Este duplo papel é levado com a conhecida dedicação que o ator norte-americano acarreta. Mostra o lado extravagante e, ao mesmo tempo, o lado negro que este personagem possui.
O carisma de Ben Schwartz como Sonic está mais aperfeiçoado do que nunca e a entrevista exclusiva do Squared Potato ilusta bem esse aspeto. Aliás, nota-se claramente a química do elenco nos diálogos. Colleen O’Shaughnessey e Ildris Elba como Tails e Knuckles complementam-se perfeitamente e, neste filme, a sua amizade com o Sonic é posta à prova
Relativamente a Keanu Reeves como Shadow: foi um bom casting. O timbre grave de Reeves adequa-se perfeitamente à personalidade do ouriço negro. A sua relação com Maria é credível qb, apesar de não ter muita profundidade.
No entanto, o confronto emocional entre Sonic e Shadow é, sem dúvida, o momento mais surpreendente desta longa metragem. Apesar da mensagem simples, é eficaz e realça bem o antagonismo entre ambos. É pena que, imediatamente a seguir a essa sequência, o espectador é presenteado com um momento estapafúrdio entre o clã Robotnik.
Esta decisão criativa ilustra bem este yin-yang que compõe esta trilogia: tem coração, mas, ao mesmo tempo, é imaturo.
No que diz respeito à dobragem portuguesa, tenho de realçar o trabalho notável por parte dos dobradores. Conseguiram adaptar o argumento para a realidade nacional sem desvirtuar a versão original. Destaco, particularamente, o trabalho da Marta Mota, que, a meu ver, foi a que conseguiu melhor transmitir a essência do personagem Tails.
Dito isto: é incrível pensar que, ao terceiro filme, Sonic The Hedgehog continua ainda com prego a fundo no pedal do acelerador. É o filme com mais personalidade e possui as melhores cenas de ação da trilogia. A Variety, entretanto, confirmou que Sonic The Hedgehog 4 já está em desenvolvimento com lançamento previsto para 2027.