Decorriam os últimos dias de 2018 quando chegou às salas Spider-Man: Into the Spider-Verse que indiscutivelmente foi um sucesso tanto para a crítica como especialmente para os fãs e que pelo caminho até conseguiu arrecadar um óscar numa categoria que quase parece ter dono.
E esta era a fasquia que Spider-Man: Across the Spider-Verse tinha que atingir e bem sabemos que já não são muitas as sequelas que conseguem alcançar a qualidade do original e menos ainda as que conseguem ser ainda melhores que o original. Pois bem, não vale sequer a pena fazer suspense, desde o passado dia 1 de Junho que temos mais um filme para incluir nesta lista.
É que Across the Spider-Verse é tudo o que Into the Spider-Verse foi, mas claramente em superior. A sequela não se coíbe de ir ainda mais longe, de se expandir e ousar mais e o primeiro exemplo disso é a própria animação, que claramente já tinha sido fantástica no filme anterior, mas que é praticamente irrepreensível neste filme ao ponto de me arriscar a dizer que não há um único frame deste filme que não me apeteça imprimir, emoldurar e colocar na parede. O estilo é, naturalmente, muito semelhante, mas é mais cuidado, mais audaz e sobretudo mais impactante.
Também a banda sonora segue um estilo semelhante ao anterior. E se é verdade que, tal como no filme anterior, a maioria dos temas não seriam daqueles que isoladamente eu ouviria (por mera questão de gosto pessoal, sublinho) tenho que conceder sem qualquer reserva que encaixam que nem uma luva no registo do filme, numa espécie de simbiose praticamente perfeita entre imagem e som.
Já no que diz respeito à história, também aqui notamos imediatamente a intenção de fazer mais e arriscar mais. A história continua a ser a de Miles que vemos debater-se e evoluir no decorrer 140 minutos de filme, mas a Gwen ganha mais espaço, mais protagonismo e ao contarem-nos também a sua história enriquecem tremendamente a personagem. Também os antagonistas têm mais camadas e as suas motivações acabam por ser compreensíveis e até podem gerar alguma empatia. Não são vilões por serem vilões, há alguma profundidade no que os move.
E depois, claro, temos cameos e easter eggs a rodos, mas o difícil equilíbrio entre o “fan-service” e a “solidez de argumento” é aqui conseguido magistralmente. Em momento algum estes cameos e easter eggs são forçados. Surgem espontaneamente e com fluidez natural e alguns são particularmente cuidados e de extremo detalhe. A título de exemplo, basta ver como um simples bagel pode ser uma origin story.
A propósito disto, o filme é estupidamente divertido com diversas tiradas e momentos de humor, sem que, mais uma vez, pareça forçado. Sempre com naturalidade e fluidez, consegue com sucesso provocar várias gargalhadas na sala.
Por fim, e não entrando em detalhes para evitar a todo o custo spoilers, tenho que dar apenas uma última nota relativamente ao final, já que este fica totalmente em aberto e apenas teremos a conclusão deste arco no Spider-Man: Beyond the Spider-Verse que tem estreia prevista para Março do próximo ano. Isto já era mais que sabido por quem acompanhou a produção, mas concedo que possa apanhar de surpresa os fãs mais distraídos. Ainda assim, garanto-vos que isto em nada belisca a qualidade geral do filme, apenas vos deixará desejosos que “Beyond the Spider-Verse” não demore a chegar às salas.
Mas enquanto Março não chega, vão às salas e desfrutem da maravilha que é este Spider-Man: Across the Spider-Verse. E depois juntem-se a mim numa merecida vénia ao trabalho destes produtores, realizadores, argumentistas, animadores e a todos os envolvidos nesta autêntica banda desenhada em formato de filme.