No ano em que Star Wars faz 42 anos de existência, chegamos finalmente ao capítulo final da saga de Skywalker. O último filme onde iremos ver estas caras tão familiares caminhar sobre as estrelas uma vez mais, com algumas já entre elas… Adianto já que até hoje, nunca tive grandes problemas com esta jornada apesar de apenas 3 dos 8 filmes (sem contar com este) serem bem aceites pela comunidade. Não sou de todo uma fã hardcore como muitas pessoas que conheço, mas esta é de facto uma saga que mexe comigo.
Dito isto, peço já desculpa em avanço, pois depois de ver este filme, não podia ser menos fervorosa na minha opinião. Adianto desde já também, que não foi fácil analisar este filme sem trazer spoilers à mistura. Mas podes estar seguro, que só mesmo quem viu o filme é que entenderá uma coisa ou outra.
Um filme com a premissa de que este parte, coloca um imenso legado em jogo, e deveria ser tratado com uma dignidade imaculada. Ainda para mais quando não temos entre nós, estrelas que viveram imenso esta saga e que não viram o seu último papel no ecrã.
Antes de falar do enredo, acho melhor expor já aqui o que o filme tem de bom. Porque no final de contas, estamos a falar de uma obra de J.J. Abrams, e o mesmo nem queria dirigir mais nenhum filme da saga. Acho que na altura, esta trilogia já lhe cheirava a fumo. Abrams, tem nos presenteado com excelentes produções, como Westworld, os novos filmes de Star Treke Super 8, que comprovam a sua sensibilidade e versatilidade no mundo cinematográfico. Este filme infelizmente vai deixar mossa na sua reputação, mas não julgo que deva manchar a sua imagem.
Com efeito, temos aqui cenas de acção muito bem descritas, com algumas coreografias interessantes nos duelos de sabres de luz. Tão dignas que até houve um momento em que como manda a tradição, eu pensei cá para mim: “Pronto, este também vai já perder o braço.” Mas é de um filme da Disney que estamos a falar…
Uma interpretação que quero destacar, é a de Adam Driver como Kylo Ren, que na minha opinião cresceu muito como actor nos últimos anos. Apesar de ter tido o impacto de ser mais um adolescente da Disney na sua fase de rebeldia em O Despertar Da Força. Aqui apesar de a sua personagem estar praticamente em cacos, conseguiu captar-me de alguma forma, e na última meia hora, entrega um Kylo Ren (sem capacete) que gostaria de seguir e ver ser mais desenvolvido no futuro…
As composições, procuram representar sempre ambos os lados da Força, explorando e destacando os tons azuis e vermelhos, o escuro breu e a luz estelar em profundidade de campo. Neste ponto destaca-se também a procura pela essência do 5° e 6° episódio da saga. E com efeito, exploramos imensos cenários que conseguimos reconhecer imediatamente da trilogia original.
Esta produção, tinha tudo para nos dar um capítulo final digno de merecer pelo menos uma visita ao cinema… Não fosse o argumento tão horrível.
Star Wars: A Ascensão de Skywalker sem ponta por onde se lhe pegue… é queimar e pronto!
Por acaso no caminho para o cinema, estávamos a falar em cenas difíceis de engolir. Sabes? Aquela sensação de quando tens uma batata frita daquelas às fatias, entalada na garganta, e a sentes a descer muito ligeiramente e muito devagar, como que se ela te estivesse a cortar por dentro… Até que te dá aquela sensação de pontada nas costas em que parece que vais morrer ali… Precisamente. Este enredo é algo que mata a saga muito lentamente, daí que seja o episódio final.
Há sem dúvida uns espólios do que é um bom filme de Star Wars. Aliás eles focaram-se muito nos episódios 5 e 6 para nós entregar isto… Mas isto é triste, é só triste. Quatro marmanjos para escrever isto. O que raio é que se passou para isto ter luz verde? Ou luz do mijo, como já ouvi lhe chamar. Quem é que no seu perfeito juízo leu este argumento e pensou que era uma boa ideia fazer este filme? Seguramente se calhar se lesse o guião com mais tempo, poderia até achar aqui algo interessante de ser transposto para o grande ecrã, mas queres apostar? Aposto que no rascunho original o Palpatine até tinha de cantar uma música e dançar com quantas cores a Força tem! À Disney, qual Scar, do Rei Leão, que canta o “Be prepared for the birth of a Century (…)”. Pensando bem, até pagava bem o preço do bilhete para ir ver só essa cena em específico.
Mas espera! Já que era para ser assim, se é para irmos pelo fan-service, ao menos que fizessem fan-service bem! Se é para rebentar e acabar com esta saga, faziam as coisas como deve ser até isto ser quase uma paródia. Traziam o Vader de volta, e já agora também o Jar Jar, traziam aquela gente toda… Uma cena tipo à Harry Potter, quando o Harry está frente a frente com o Lorde Voldemort no filme do Cálice de Fogo, e vê os fantasmas das pessoas que esse matou… Uma cena assim aqui, com a Rey a receber o apoio de todos qual Gohan no derradeiro Kamehameha contra o Cell!
Mas espera. E as incoerências? Ainda vale a pena falar sobre elas? Um gajo que consegue lutar contra a Rey pelo controlo de uma nave que tenta descolar, não é capaz de derrotar um punhado de marmanjos, que não lhe fazem frente, com uma perna às costas?
Mais um gostinho amargo para acompanhar? Depois de tanta “evolução” (sem build-up atenção) da personagem para depois ter aquele desfecho? É esta a ascensão? E o nome que a Rey assumiu no final do filme? Já se decidiam… Ou redimiam-se naquela cena à lá Floribella, ou cortavam com esse nome de vez.
Algo que também me dói imenso neste filme, é a forma tão artificial com que as cenas da princesa Leia foram coladas no meio disto tudo. Eu sei que é difícil construir uma cena em torno de falas que já não podemos mudar, de alguém que já não está cá entre nós. E no entanto por um profundo respeito e amor ao seu trabalho e a tudo o que representou, decidiram partilhar connosco, cada pedaço extra que detinham dela para celebrarmos a sua vida mais um pouco. E com isto, é perceptível e louvável o desafio que tiveram em mãos. Mas para cada mensagem, há um emissor e um receptor, e esta ciência costuma depois funcionar invertendo os papéis. No entanto, aqui os diálogos com a Leia, não fazem muito sentido e são forçados.
As cenas dela, aliás todo o filme, sente-se totalmente esticado. As cenas da Rey e do Ren, como dizem, são praticamente o Bip Bip e Coyote. No filme anterior, eu sei que estive mais de meia hora no cinema a olhar para um ecrã e a soluçar entre lágrimas, por causa da cena em que Leia flutua pelo espaço, bem como numa das cenas finais desse filme. Esse filme foi mais choro do que outra coisa para mim. Aqui… Não nos despedimos muito dignamente da personagem e da actriz. Merecia um momento mais sentido, melhor construído, porque aqui só vemos pequenos detalhes deste adeus. O problema deste filme é sobretudo o esticar da antecipação e o querer colocar mil e uma coisas no caminho, que depois acontecem demasiado depressa e perdem o sentimento. Pergunto-me o que sentiria a Carrie Fisher ao ver este último filme.
Com isto tudo, é claro que ainda há muitas pontas soltas que ficam a pairar. Parece que o filme todo é só baseado no Zé da esquina que te sussurra “Pst.. ei, quero-te contar um segredo… Mas agora não que ainda é muito cedo, vamos empatar mais um pouco.. mas não te esqueças. Eu sei qualquer coisa sobre ti, que tu queres saber.” E o Zé volta.. e volta… E vale a pena partilhar que o Bruno Dores consegue explicar uma destas pontas soltas. Diz saber a resposta ao mistério que acabou por não ser respondido no filme. O que é que Finn queria dizer á Rey? “Olha, Rey, tenho uma coisa para te dizer: este filme é uma porcaria.” Mas vendo os personagens a desaparecerem este pensou: “Pera lá… é melhor não dizer nada que os espectadores ainda saem já a meio do filme antes do intervalo.”
É isto… 40 anos para isto. Pensava eu que ia ver o Star Wars: A Ascensão de Skywalker, mas afinal fui ver um verdadeiro The Nightmare Before Christmas! A Força nunca esteve connosco. Aliás, o moto da saga passou de “May The Force Be With You.” para “We hope.” porque foi precisa muita esperança para trazer isto para o grande ecrã.
Apesar de contar com uma sala de cinema meio vazia, imagino que ainda haja imensa curiosidade desse lado em ir ver o filme, só pela descarga de consciência em ir ver este episódio final… Mas muito sinceramente, ninguém vai sair daqui minimamente entretido. É daquelas coisas que mais vale fazermos de conta que não existe. Os menos fanáticos poderão ainda achar algo interessante, mas… parece que o século XXI não tem mesmo nada para oferecer a este universo cinematográfico de Star Wars.
Com uma série tão boa quanto The Mandalorian, e um jogo tão aclamado pela crítica quando Star Wars: Jedi Fallen Order, parecia mesmo que este era O Ano para Star Wars…