Desde muito pequeno que revelei um gosto interessante pela saga Star Wars. Desde o primeiro filme, conhecido hoje por Uma Nova Esperança, fui inteiramente avassalado por este mundo magnífico, ambientado numa galáxia muito, muito distante. Uns anos mais tarde, na Nintendo Wii, tive a inesquecível experiência de jogar as duas aventuras The Force Unleashed, cujo primeiro jogo será possivelmente um dos meus favoritos de todos os tempos, tendo em conta o impacto que teve no “eu-criança”.
O sentimento que tive em Star Wars The Force Unleashed, de me sentir verdadeiramente como um Jedi, com os poderes da força e o icónico sabre de luz, só se voltou a reproduzir em 2019, com o lançamento do Jedi Fallen Order, o antecessor do jogo que analiso hoje. Sentia-me novamente como o “eu-criança”, porém em vez de balançar os braços por todos os lados no Wii Remote, de forma a fazer movimentar o sabre de luz no The Force Unleashed, estava sentado, a explorar os planetas maravilhosos que rodeavam esta incrível história, a de Cal Kestis.
Então, agora em 2023, temos finalmente a continuação desta grandiosa epopeia galática que, no geral, não fica nada atrás do antecessor: aliás, Jedi Survivor oferece uma sequela digna de Fallen Order, uma verdadeira aventura Star Wars, que há já muito, muito tempo, não tínhamos. Jedi Survivor é o que muitos chamariam de uma sequela perfeita: mantém o formato do primeiro jogo, porém evolui em quase todos os níveis: graficamente, em termos de mecânicas, exploração, tudo o que possam imaginar. Porém, nenhum jogo é perfeito, e são as pequenas imperfeições que muitas vezes estragam a experiência ao jogador.
Esta continuação da história do Padawan Cal Kestis começa com a sua aparente captura pelos guardas do senador Daho Sejan, que estava à procura do tão falado Jedi que havia sobrevivido ao massacre da Ordem 66. Porém, isto tudo era uma forma de Cal, que se encontrava de momento a trabalhar para Saw Gerrera, se chegar mais perto do Senador, de forma a extrair-lhe informações sobre os restantes Jedi. Isto porque Cal continua na sua demanda para encontrar os restantes Jedi que sobreviveram ao massacre, de forma a reunir a ordem novamente. Porém, após um desastre nessa missão em Coruscant, Cal parte para um planeta chamado Kobo, de forma a se voltar a encontrar com Greez, um dos seus antigos companheiros.
Enquanto que Jedi Fallen Order funciona como uma história de introdução a Cal Kestis, o seu droide BD-1 e o resto da tripulação, Jedi Survivor funciona como uma história de reunião, já que começamos a história apenas com Cal e BD-1, já que os outros companheiros partiram para outros planetas, para seguir com as suas vidas. Ao contrário do primeiro jogo, em que no final de cada nível sempre havia aquela certeza de que haveria alguém na Mantis (a nave de Cal) à nossa espera no sítio onde havíamos partido, em Jedi Survivor senti-mo-nos a maioria das vezes sozinhos, apenas com a companhia do nosso fiel droide. Ao longo do tempo, vamos conhecendo outros companheiros: logo no início do jogo somos introduzidos a Bode, e em Kobo conhecemos uma panóplia de outros NPCs, só que nenhum destes tem a profundidade que uma personagem como Greez ou Merrin tinham.
Com estes novos NPCs, e com a reintrodução de certas personagens ao longo da história (que não irei “spoilar“), é-nos logo introduzida uma das primeiras mecânicas de jogo, que é a ajuda de um companheiro na batalha. Não esperava muito desta aparentemente simples mecânica, mas em certos momentos-chave, ela foi a minha salvação: logo no início do jogo, foi Bode que me salvou da minha morte aparente, matando um Purge Trooper que por pouco não me tirava a vida. Cada uma destas personagens tem uma habilidade especial, que apesar de não serem absolutamente necessárias para a progressão de jogo, dão jeito muitas vezes em situações apertadas como a que havia referido anteriormente.
Para minha satisfação, esta não foi a única mecânica de jogabilidade que foi introduzida em Jedi Survivor. Logo no início, além de mantermos todas as habilidades da força do jogo anterior, é nos também posto a dispôr uma espécie de grappling hook, que tornou o platforming do jogo mais interessante no início do jogo. Isto porque Jedi Survivor tem IMENSO platforming. Para quem não gostou desse aspeto em Fallen Order, provavelmente vai detestá-lo também em Jedi Survivor. Porém, além do wall running já presente no jogo passado, desbloqueamos também outra habilidade que melhora bastante não só a progressão do platforming, mas também o combate, que é o air dodge.
O combate do jogo já apresentava mecânicas tais como o dodge normal, o parry com sabre de luz, ataques leves e pesados. Por causa disso, esta jogabilidade acabou por ser muito comparada a Sekiro, ou a outros jogos Souls-like; não só por causa disto, claro, já que outras mecânicas como as bonfires, ou mesmo a dificuldade elevada do jogo estavam lá. Porém, fiquei satisfeito quando reparei que a Respawn Entertainment fez um grande esforço para, de certa forma, se livrar deste rótulo Souls-like que havia ganhado com Jedi Fallen Order, inovando as mecânicas já existentes, e adicionado novas, tais como o air dodge já referido anteriormente, uma habilidade de atrasar o tempo, e provavelmente a mudança mais importante, as combat stances e suas respetivas árvores de habilidades.
Estas combat stances foram, sem dúvida, a maior adição ao combate de Jedi Survivor, que o deixou fresco, sem parecer uma simples cópia do jogo anterior. Além do sabre de luz normal, e o de duas pontas do estilo Darth Maul que ganhámos em Jedi Fallen Order, no planeta Dathomir, temos agora as opções de usar dois sabres de luz, um sabre de luz mais um blaster, e ainda um sabre de luz mais pesado, parecido com o do Kylo Ren. Cada uma das stances traz a sua árvore de habilidades, que permite que os jogadores invistam nos seus poderes favoritos para ter em cada habilidade de combate. Fui notando que a melhor combat stance é sem dúvida a dos dois sabres de luz, que desbloqueamos logo no prólogo do jogo, porém cada jogador pode investir na posição que quiser, tornando cada uma agradável ao seu playstyle.
Não foi só o combate que recebeu desejadas inovações, mas também a exploração de planetas. Jedi Survivor chegou até agora o mais perto possível de um dia termos o jogo open-world de Star Wars que todos desejamos, com a sua exploração bastante melhorada comparando com Fallen Order. Temos um planeta principal, chamado Kobo, que é uma espécie de hub onde os jogadores podem fazer variadas coisas, como crescer plantas, jogar uma batalha de hologramas com NPCs presentes na Cantina de Kobo, e aceitar side-quests. Este planeta é absolutamente gigante, cheio de sítios por explorar e colecionáveis por encontrar. Cada um dos outros planetas é uma espécie de versão reduzida de Kobo no que toca a side objectives, porém tal como Fallen Order, são planetas bem distintos no que toca ao ambiente e à exploração.
Quanto aos side objectives e colecionáveis, Jedi Survivor evoluiu em tudo comparando com Fallen Order. Além das comuns caixas com pedaços de sabres de luz ou ponchos que podíamos encontrar no jogo anterior, agora podemos não só encontrar outros outfits nessas caixas, como também sabres de luz inteiros para se customizar completamente. Também já é possível alterar a aparência do nosso droide, BD-1, também usando as bancadas de customização do sabre de luz. Porém, além das caixas, há agora também dungeons, onde resolvemos puzzles de forma a progredir e a encontrar todos os segredos lá presentes. Apesar de serem interessantes, não posso deixar de mostrar a minha frustração com algumas destas dungeons, já que eram muitas vezes extremamente confusas de se explorar.
Enquanto que, no geral, Jedi Survivor é um jogo excepcional, a performance do jogo consegue muitas vezes arruinar a experiência. No modo performance, na PS5, poucas eram as vezes que tinha 60fps constantes, e imensas eram as vezes que tinha um screen tearing horroroso no ecrã. Escrevo esta análise após testar o jogo já com diversos patches incluídos na versão para PlayStation 5, que pouco fizeram para melhorar estes problemas aqui referidos. Tenho a dizer que, se não fosse este problema enormíssimo, Jedi Survivor seria considerado pela maioria como um jogo soberbo, porém não consigo recomendar o jogo enquanto se apresenta assim, com uma performance tão fraca como esta.
Apesar deste grande problema, não posso mentir: diverti-me imenso com Jedi Survivor. Aquela experiência que referi no início desta análise, que tive apenas com os The Force Unleashed, voltou a repetir-se com este jogo, e não podia estar mais satisfeito com isso. Não é perfeito, e está longe de o ser, mas The Force Unleashed também não o era, e não deixou de ser um dos jogos mais marcantes na minha infância. Por isso, só tenho a dizer: fãs de Star Wars irão certamente adorar Jedi Survivor como eu adorei.
Acrescento um agradecimento à EA por nos ter cedido um código do jogo para análise.