A revelação do jogo que vos trago hoje foi uma que me deixou num estado de surpresa enorme. No Playstation Showcase de 2021, deparámo-nos com a revelação de Project Eve, um projeto coreano com uma protagonista invulgar no mundo dos jogos da Playstation. O trailer estava repleto de cenas de ação com animações impressionantes, capturando o meu interesse instantaneamente. Mais tarde, foi confirmado que este projeto teria o nome de Stellar Blade, um novo jogo de ação publicado pela Playstation e desenvolvido pela coreana Shift Up.

O jogo demonstrava inspirações claras de projetos como Nier: Automata, Sekiro e jogos de ação como Devil May Cry e Bayonetta, com um combate frenético num mundo pós-apocalíptico. Mais tarde, confirmou-se que parte da música seria composta pelo estúdio Monaca, que, para quem não sabe, trata-se do estúdio responsável pelas bandas sonoras de Nier e Nier: Automata.

Ora, considerando que o meu interesse por jogos de ação japoneses e pela música fantástica do estúdio Monaca, sinto que Stellar Blade tem uma fórmula que se encaixa perfeitamente no tipo de jogador que eu sou. Será que esta estreia da Shift Up no mundo dos AAA nas consolas está ao nível da competição? Eis que estarei eu aqui para tentar responder a essa mesma pergunta.

Uma terra inapta para a vida humana

Stellar Blade começa no meio de uma guerra no planeta terra, onde temos os Naytibas, uma raça de monstros aterrorizantes, a tomar controlo total do planeta. Nós controlamos Eve, um membro do 7th Airborne Squad, que está a ser enviada do espaço como reforço na luta contra os Naytibas, juntamente com outros membros.

Após aterrar, a porta do nosso airpod é aberta por Tachy, outro membro do squad, ajudando-nos a sair e servindo como o guia para esta fase introdutória do jogo. Aqui ganhamos controlo da Eve, onde iremos começar a lutar com uns inimigos e a adaptarmo-nos às mecânicas básicas do sistema.

Esta parte introdutória não perde tempo, dando ao jogador uma boa ideia do que esperar do ambiente do resto do jogo. Penso que a história, apesar de ser difícil de seguir por vezes, apresenta uma competência bastante sólida. Não é algo que irá “explodir” a cabeça do jogador, mas detém certamente de um conceito interessante, com alguns toques à filosofia, momentos tristes, momentos felizes, e personagens carismáticas. Não se trata de uma história que irá revolucionar, mas certamente irá ser o suficiente para manter o jogador imerso durante a sua duração.

Tenho a acrescentar também as missões secundárias, onde irás ter um número delas com histórias únicas, separadas do enredo principal. Estas histórias são focadas nas personagens que te pedem ajuda, iniciando a missão. Estas missões servem como uma forma extra de imersão no mundo, sendo um excelente incentivo da parte da equipa para mergulharmos no conteúdo secundário.

Uma apresentação repleta de detalhe

Os vários cenários do mundo apocalíptico são apresentados com um detalhe sólido, tentando manter a variedade nas superfícies, criando um aspeto mais autêntico e livre de repetição. O jogo também usufrui de uma consistência sólida na iluminação e no ambiente das várias zonas que irás explorar.

Onde o jogo impressiona mais é na sua qualidade de modelos. As personagens apresentam uma qualidade bastante alta e detalhada, com uma atenção especial aos detalhes e textura dos materiais da roupa. A protagonista Eve usufrui de dezenas de roupas desbloqueáveis no jogo que se encaixam perfeitamente no modelo da personagem, todas com a mesma qualidade altíssima.

Outro fator onde o jogo impressiona são nas animações, tanto da protagonista, como dos inimigos. Estas animações usufruem de um movimento quase real, havendo uma atenção a detalhes mínimos como a inércia que o corpo leva ao atacar com uma espada, tendo uma reação natural de balanço. Os ataques cinematográficos, mais comuns durante os bosses, apresentam uma animação e direção excelente, dando a entender a mestria da nossa protagonista, mostrando o quão “badass” ela é.

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A única falha na consistência da apresentação provém dos diálogos, onde as animações tendem a ser um pouco simplificadas, e por vezes é possível ver as animações a serem saltadas, não havendo uma transição suave. No entanto, a apresentação apresenta uma consistência agradável, com os pontos fortes a serem sem dúvida os mais importantes.

Simplificar o complexo

As inspirações em metroidvania são imediatamente sentidas, com a existência de zonas com uma progressão maioritariamente linear, mas com vários caminhos escondidos onde poderás encontrar alguns segredos, como melhorias relativas a poderes equipar mais equipamento ou melhorá-lo, melhorias para a tua vida ou beta charge, e também umas caixas com receitas para poderes criar uma roupa para a Eve utilizar.

Por vezes, também te irás deparar com zonas mais abertas, onde terás também vários dos segredos já mencionados espalhados pelas mesmas. Estas zonas, devido à natureza mais aberta, são muito menos lineares que as anteriormente mencionadas, encorajando o jogador a explorar, mas nunca o obrigando. Penso que o jogo atinge um bom balanço nas zonas abertas e nas zonas mais lineares, nunca chegando a um ponto de estagnação neste aspeto.

Algo que me surpreendeu foi o fato de todas as melhorias que podes encontrar durante o jogo serem mais do que precisarás. Explicando melhor, se quiseres ter a tua vida no máximo, por exemplo, não precisas de apanhar todas as melhorias que se encontram no jogo, havendo um pequeno número delas de sobra, dando mais hipótese aos jogadores que possam ter perdido algumas delas durante as suas aventuras.

Todos os níveis estão recheados com vários puzzles, sendo geralmente de caráter simples, mas satisfatório. Os puzzles maioritariamente envolvem mover caixas para criar plataformas para podermos trepar para zonas que se encontram inalcançáveis, ou algo como mover objetos para umas plataformas específicas, tentando abrir uma porta com um segredo com uma combinação específica de caixas em certas plataformas. Apesar da simplicidade, estes puzzles são uma boa pausa do combate e jogabilidade mais geral do jogo, dando uma agradável dose de variedade nos níveis.

Apesar da exploração sólida, onde o jogo verdadeiramente brilha é no seu combate. O combate do jogo detém de uma base simples e familiar. Temos Um ataque básico e um ataque forte, podendo fazer combos juntando os 2, podemos bloquear e esquivar-nos, e também fazer um perfect parry, que se trata de um bloqueio no tempo perfeito de um ataque de um inimigo, fazendo com que o mesmo perca o seu balanço, que é um recurso que o inimigo vai perdendo à medida que fazes estes perfect parries. Ao perder todo o seu balanço, o inimigo fica num estado vulnerável, sendo possível fazer um ataque cinematográfico que faz bastante dano.

Juntamente com estas mecânicas básicas, tens as beta skills e burst skills, que são habilidades especiais que fazem mais dano e também podem ter outras utilidades. Uma das melhores beta skills trata-se de um ataque numa área à frente, capaz de atacar vários inimigos em simultâneo, sendo uma excelente forma de crowd control. Estas habilidades utilizam recursos limitados, que irás recuperar à medida que lutas e derrotas inimigos. Mais tarde, também terás acesso a uma arma de fogo com vários tipos de projéteis, que dá outra opção ao jogador para atacar inimigos que estão à distância.

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Apesar das variadas mecânicas de combate presentes, o mesmo é bastante acessível, sendo bastante natural de controlar. O combate é sem dúvida a melhor parte do jogo, com animações espetaculares e uma sensação de que estás a derrotar os inimigos de uma forma eficaz, mas também com bastante estilo. Isto é reforçado por uma variedade bastante impressionante de inimigos, com dezenas de inimigos visual e mecanicamente diferentes.

Em termos de missões secundárias, temos as missões já mencionadas mais acima na análise, mas também temos, juntamente, algumas “fetch quests” que, na minha opinião, são um pouco desnecessárias. De qualquer forma, estas não ocupam muito tempo, tudo graças a um sistema de fast travel conveniente, onde podes mover-te entre qualquer um dos pontos de fast travel presentes na zona.

Algo que achei bastante impressionante foi a facilidade de descobrir os caminhos de forma mais natural. Os cenários, geralmente, têm pequenas dicas visuais, como uma luz a apontar para um caminho, ou uma tinta mais presente numa superfície, de modo a puxar a atenção do jogador para certos pontos, sendo geralmente o caminho que se deve seguir para proceder na história, ou, em algumas situações, alguns baús secretos escondidos nos mapas. Estas dicas também são utilizadas para se saber que paredes podes trepar, sendo um dos jogos onde a exploração é mais natural e simples.

Em relação aos bosses, temos uma excelente utilização das várias mecânicas do jogo, com o boss a apresentar várias combinações de ataques e combos. Algo que é sem dúvida interessante, é que os mesmos nunca impedem o jogador de ter alguma liberdade em usar as mecânicas que bem entende. Caso queiras ignorar por completo mecânicas como o perfect parry e tentar abusar de beta skills e burst skills para derrotar o boss, a opção é completamente viável, e irá ser também eficaz.

Rock coreano com o toque único do estúdio Monaca

A banda sonora de Stellar Blade é um aglomerado variado de rock e metal coreanos, juntamente com a sonoridade única dos coros melancólicos do estúdio Monaca. Esta dualidade dá-nos a intensidade devida para os momentos mais entusiasmantes das lutas com os bosses, juntamente com a exploração e os momentos mais calmos a serem embelezados pelas melodias imprevisíveis do estúdio Monaca. Isto faz da música do jogo bastante presente, apresentando também uma qualidade bastante alta. A música não serve apenas para servir o que está na imagem, sendo também uma boa fonte de expressão para os vários momentos e ambientes do jogo.

Acessibilidade

Em termos de acessibilidade, temos algumas boas opções. O menu está dividido em categorias, havendo algumas opções relativas a:

  • Motion Sickness: ponto no centro da imagem, motion blur, camera shake e rotação automática da câmara;
  • Som: subtítulos e mostrar o nome da personagem que está a falar;
  • Assistência visual: tamanho e sombreado da interface, modos para daltónicos, tamanho e sombreado dos subtítulos, modo de alto contraste;
  • Controlos: opções gerais de controlos, como sensibilidade da câmara, quick time events automáticos, entre outros.

Infelizmente, não é possível alterar os controlos do jogo, sendo algo desapontante. Espero que, eventualmente, uma atualização possibilite esta opção.

Um agradecimento especial à Playstation por nos ter fornecido um código do jogo para análise.

+ Pontos Positivos

  • Combate frenético
  • Exploração sólida
  • Inimigos visualmente excelentes

– Pontos Negativos

  • Animações simples nos diálogos
  • Algumas fetch quests desnecessárias
CONCLUSÃO
Encandescente
9.5
stellar-blade-analiseStellar Blade é uma estreia impressionante da Shift Up, demonstrando a capacidade do talento coreano na indústria dos jogos. Um jogo de ação extremamente sólido e polido, com visuais e história competentes, e uma jogabilidade fenomenalmente executada.