Se és fã do género de survival, presente em jogos como The Forest ou, mais recentemente, Green Hell, então Stranded Deep provavelmente já anda no teu radar.
Mas será que este título da Beam Team Games consegue viver acima das expectativas já lançadas deste mercado? Terá Stranded Deep algo de diferente a adicionar à panóplia de experiências que já existem, e a destacar-se? São estas algumas das questões com que iniciei a minha jornada, e agora deixo-te esta análise como testemunho desta viagem.
Em Stranded Deep, tu defines a tua própria história
Bem, normalmente, o primeiro ponto que gosto de referir para te contextualizar numa análise é referente à leve ideia da história introdutória do jogo. No entanto, Stranded Deep não tem história, portanto passemos ao próximo. Não? Demasiado rápido? Bem, deixa-me então explicar: Stranded Deep só tem duas cut scenes. A de início e a de fim de jogo. E tanto uma como a outra são tão breves quanto abruptas…
A ideia de que começas a tua aventura após um terrível acidente de avião já não é novidade neste mercado há bastante tempo. É aliás, já um cliché. Acho que ambas as cut scenes só existem porque algo tinha de existir para te fazer aterrar de pára-quedas neste mundo aberto. Aliás, após a rápida aterragem, somos guiados por um igualmente breve tutorial que te faz perceber como se procede ao crafting de ferramentas no jogo, e assim que tens o básico para sobreviver e conseguires dormir a primeira noite num abrigo, estás completamente por tua conta.
Acordas e… Não há história, não há objectivos, não há indicações, não há rumo! Sentes-te totalmente perdido. O que é que é suposto fazer? Para onde é que tenho de ir? O que faço? Bem… É tudo totalmente colocado nas tuas mãos. Tens fome? Talvez começar por aí seja uma boa ideia. Mais vale pensar no assunto de barriga cheia. E aqui defines o teu primeiro objectivo como personagem.
A partir daqui, terás de explorar e rumar por este mundo aberto processualmente gerado, navegando entre pequenas ilhas, recolhendo recursos, satisfazendo as tuas necessidades, lutando e enfrentando as maiores bestas da natureza e as suas adversidades. Esta é a tua história, e tal como na vida real, acontece que não vens ao mundo contemplado com um guião.
Adapta-te a esta tua nova casa
Esta sensação desconfortável e fria de falta de rumo, eventualmente, desvanece quando começas a navegar pelo menu de crafting, e a perceberes o que é que podes começar por construir.
Talvez seja boa ideia começar pelas ferramentas mais utilitárias? Ou garantir bens de primeira necessidade? Ok, para eu construir X tenho primeiro de construir Y, com material de W… É bom que tenhas a tua tablet LCD ou um documento Word à mão para apontares o que precisas, e traçares a tua estratégia sem gastares muitos recursos.
E se definirmos já uma ilha como a nossa base? A nossa casa? O que é uma boa base? É uma questão que te colocas a ti mesmo nos primeiros instantes em que te encontras sozinho. Desde já dou-te a dica de que a melhor ilha para começares a construir a tua base é uma ilha central. Rodeada de ilhas adjacentes com bons recursos, comida, plantas, animais, sucata, onde possas também encontrar metal e outros componentes.
Tendo isto em mente, é importante falar do spawn destes recursos. Na tua ilha, a maioria das coisas que fizeres será permanente. Se recolheres todos os cocos dos coqueiros que tens à disposição, não verás estes fazerem spawn novamente. O mesmo se passa para uma boa porção de recursos. Plantas como a Yucca e rebentos de novas palmeiras podem ser gerados novamente, mas é preferível que vás buscar os seus recursos em grande parte a outras ilhas, onde estão constantemente a regerar praticamente todos os dias.
Mas como progredimos? Tudo muito à base do crafting obviamente, com novas criações disponíveis a cada nível que desbloqueamos a construir mais coisas. Cada novo nível traz-nos grandes novidades tecnológicas e reforço às anteriores, sendo possível até que alguns objectos passem a necessitar de menos recursos para serem construídos. A acompanhar esse progresso, tens também o evoluir da tua personagem, nomeadamente em termos de capacidade física, resistência, etc. Sendo que certas actividades passam a se tornar mais fáceis e rápidas de execução com o tempo.
Prepara-te para grandes adversidades
Este planeamento de gestão de recursos é, realmente, o que te move neste mundo. No entanto, temos ainda de ser cautelosos devido a quatro grandes pontos: a Natureza que joga contra ti, o teu sentido de orientação (pois não queres perder-te da tua base… Um pouco como quando vamos à praia e deixamos de distinguir a nossa sombrinha, sabes ao que me refiro?), a tua saúde (porque o que é importante é ter saúde!) e, por fim, o teu progresso. Este último, só pode ser salvaguardado no abrigo da tua base.
Pelo que se estiveste 1 hora a jogar e morreste (porque não tinhas contigo recursos para colmatar a desidratação e debilitação da tua saúde, ou porque foste atacado por um animal, ou porque te afogaste), essa hora em que estiveste a recolher recursos e a fazer progressões foi completamente perdida.
Quanto a adversidades, e apesar de notar aqui a ausência de humanos, nomeadamente canibais que é o nosso pão nosso de cada dia (espera… o quê?) neste género de jogos, a Beam Team Games conseguiu colmatar a ausência de um inimigo pré-determinado pelo contexto histórico com uma panóplia de monstros e criaturas que poderás encontrar.
Em suma, o teu inimigo mortal é a Mãe Natureza. E o mundo sente-se vivo. Quase tão vivo quanto um episódio da Vida Selvagem narrado na voz de Eduardo Rêgo. Com efeito, a meteorologia é também mutável, naturalmente.
… Outras adversidades para o Jogador
Com toda esta vida, e sendo que estamos a falar de um mundo aberto que procura aproximar-se do realismo, é importante agora falarmos na performance de Stranded Deep. É um pouco estranho, digo eu, que numa PlayStation 4 Pro, um jogo cujas texturas até não estão exageradamente realistas, sem grandes efeitos (aliás, como irei falar a seguir) faça aqui e ali um freeze frame. Embora me pareça que este ocorre mais propositadamente quando estamos em pleno alto-mar a metade do caminho para outra ilha mais longínqua, devido ao carregamento da mesma.
Os controlos, sendo que joguei esta versão final, como já referi, na PlayStation 4 Pro, são também de deixar a desejar, e a animação é um pouco desajeita no momento das interacções. Por exemplo, se estás no meio do mar, com um tubarão atrás de ti, e estás a tentar subir para a jangada, és levado a manter pressionado o botão x, supostamente para subires a jangada. Mas o que acontece é o extremo oposto. Vês a tua personagem elevar-se sobre algo invisível mas não se coloca na jangada, ou então sobe e cai de novo na água…
Bem, podes ter sorte e subir com sucesso para essa plataforma… Mas eu desisti de me fiar nisso, e confiei antes nas minhas capacidades a saltar da água para essa superfície, e tive mais sucesso. Igualmente isto aplica-se a outros comandos, nomeadamente que envolvem manter um botão pressionado. Devo dizer, não fiquei fã destes controlos.
Visuais
Já no campo gráfico em si, nota-se um certo downgrade entre as versões de consolas e PC, com alguns detalhes que desapontam, como as texturas pouco detalhadas.
No entanto, Stranded Deep só me desapontou genuinamente num único detalhe muito específico: a representação do brilho à superfície da água. É simplesmente um objecto branco, plano, e extremamente pixelizado. Parece que meteram aquilo no Photoshop e esticaram infinitamente… É mesmo um detalhe que me faz imensa comichão por não se enquadrar no registo visual do jogo inteiro que, à parte das texturas, quando vistas de longe, até participam de uma paisagem algo encantadora de se apreciar.

Banda Sonora
No campo da banda sonora, poucas são as faixas que nos acompanham.
No entanto, como quantidade nem sempre é igual a qualidade, posso dizer que as mesmas são leves mas eficazes a criar ambiente. Especialmente a faixa que te acompanha quando te aproximas da tua morte. Faz o teu coração saltar, incrementando o ritmo e o suspense pelo derradeiro momento final, enquanto freneticamente tentas remediar a tua situação.
Stranded Deep já está disponível para PlayStation 4, Xbox One e na Steam para PC, Mac e Linux.