As minhas recentes aventuras pelo mundo indie levaram-me a conhecer agora Summer Catchers, um joguinho de 2019 feito pelo estúdio Noodlecake para plataformas mobile, e agora portado para a híbrida Nintendo Switch.
Com uma premissa simples, partimos numa jornada onde procuramos alcançar as terras do Verão, abraçadas pelo mar e embaladas num manto verdejante onde a vida floresce. Um local nunca conhecido da nossa personagem principal, que vive desde sempre nas terras gélidas onde a neve se amontoa metros de distância acima do nível do chão, e onde a vida é fria e desolada.
Esta sempre sonhou com o calor de um dia de praia, em que até poderia andar com uns quilos de roupa a menos. Embora eu viva no Algarve, onde dizem que é sempre Verão o ano inteiro, não podia deixar de me rever mais nesta personagem, sendo que desde criança o Verão sempre foi a minha estação do ano favorita, sendo mais fã de uma boa t-shirt e calções do que das blusas de algodão e casacos que nos fazem parecer chouriços. Sendo fã de sair à noite sem ter de me preocupar em levar comigo um casaco com receio de gelar.
Assim, juntei-me à nossa personagem e lá partimos no nosso carrinho de madeira à descoberta de novas paisagens e vivências, a par e passo que abrimos caminho até ao Verão. Logo devo dizer que entrou em mim uma certa sensação nostálgica ao me recordar daquele célebre jogo que muita gente deve ter jogado no browser há uma década atrás, chamado Robot Unicorn. “When it’s cold outside / Am I here in vain? / Hold on to the night / There will be no shame.” Aqui tal como nesse goldie da internet, seguimos o mais que podemos, atravessando armadilhas e prevalecendo sobre obstáculos com uma mão-cheia de ferramentas que adquirimos sempre que nos deixamos ficar pelo caminho.
A grande diferença é, no entanto, que Summer Catchers é constituído por secções com checkpoints, novas personagens, novas missões para ir completando a cada run, um ambiente totalmente diferente e uma nova casa de reparações onde rapidamente podemos comprar mais ferramentas para conseguirmos quebrar as barreiras que cruzam o nosso caminho e as novas armadilhas que surgem. Já Robot Unicorn, por outro lado, tratava-se de uma jornada continua, sem checkpoints, ou seja, se perdesses morrias e tinhas de fazer tudo do início. Pelo que te esforçavas verdadeiramente para conseguires ir o mais longe que conseguisses, só para descobrires que secções te esperavam mais à frente e que surpresas encontrarias nas animações dos seus fundos.
Esta última parte também é verdade para Summer Catchers, onde apesar da elevada concentração que o jogo requer na pista, somos brindados com algumas criaturas e animações curiosas que aparecem no fundo, quase escondidas do jogador. Criaturas e situações verdadeiramente inesperadas e que nos distraem por umas fracções de segundo, que são mais que suficientes para nos fazerem tirar os olhos do ecrã deste sidescroller e não vermos surgir um novo obstáculo.
Claramente, o objectivo nunca é que partas e completes todo o percurso numa só run, pois dificilmente saberás a quantidade necessária de ferramentas que precisas de levar contigo nestas viagens. Sendo cada ferramenta específica para nos safar de uma situação igualmente precisa, mais tarde ou mais cedo irás comer terra quando levares o segundo hit e o teu carro ficar para trás.
Além disto, tens sempre uma lista de objectivos que podem ser, por exemplo, plantar x sementes, recolher frutos pelos caminho, etc.. Estas tarefas desbloqueiam por fim o derradeiro Boss da secção, que te fará dar tudo por tudo para conseguires fugir e ires mais longe. Somente nestas ocasiões é que realmente poderás chegar a algum lado, com uma contagem decrescente dos metros que te faltam para chegares ao fim do nível. No entanto, estas partes são bastante desafiantes, sendo mesmo daqueles casos em que a malta do cuphead é capaz de querer partir uns comandos… Eu, por exemplo, tive de fazer umas boas pausas para bem da minha sanidade, pois se já era desafiante só o modo normal, o Boss vem a adicionar uma camada extra de ataques e armadilhas que temos de evitar enquanto tentámos concentrar-nos em antever o que virá a subir pela direita do ecrã.
A minha melhor sugestão é mesmo tirar partido dos controlos no ecrã táctil. Estes são a base original para que este jogo foi pensado, e de facto fazem toda a diferença em termos de eficiência. Isto porque sempre que te apercebes de uma armadilha no caminho, tens de acionar 1 das 3 opções de ferramentas disponíveis no momento, e andar com as setas ou analógico para cima e para baixo não é tão imediato quanto vais desejar que fosse. Além disso, entre essas 3 opções por vezes pode não estar nenhuma ferramenta que te ajude a salvar a pele naquela situação, pelo que podes experimentar prescindir de mais uma fração de segundo para trocares uma ferramenta por outra aleatória. Uma vez trocada uma ferramenta, para desajudar, tens um cooldown para poderes voltar a trocar alguma outra novamente, pelo que se não te sair a sorte grande, conta já com um hit.
Summer Catchers é, de facto, uma azáfama em certa medida, que contrasta bem com a arte sonhadora e abstractiva das suas paisagens e fundos que vamos descobrindo sempre de paletas cromáticas diferentes em cada secção. Com um estilo visual em pixel art e uma animação de peso e medida bem fluída, temos uma banda sonora inspirada no estilo retrowave que nos providencia adrenalina como se já não tivéssemos que chegue. Essa é também, no entanto, uma companhia muito bem-vinda.
Summer Catchers já está disponível para Nintendo Switch, Android, iOS, e na Steam para Windows, Linux e Macintosh.