O anúncio de Super Mario RPG veio mexer em assuntos do passado, em marcos incontornáveis da história dos videojogos. Super Mario RPG marca a primeira grande parceria de desenvolvimento entre duas gigantes: a Squaresoft (que mais tarde viria a ser Square-Enix) e a Nintendo. Por outro lado, foi também o último grande título que a Squaresoft viria a ter em mãos da Nintendo, tudo por causa do anúncio pouco tempo depois o lançamento do RPG do canalizador que veio estremecer as terras do país sol nascente: o desenvolvimento de títulos da Squaresoft em exclusivo para a Sony Interactive Entertainment, e de um tal Final Fantasy VII.
Com uma produção fora de série, com nomes já com algum estatuto na indústria, como Kensuke Tanabe, koji kondo, Chihiro Fujioka, Yoko Shimomura e Hironobu Sakaguchi, todos sob a alçada de Shigeru Miyamoto, tinham como missão fazer Super Mario virar uma estrela num jogo do género de RPG, com combates por turnos. Hoje, 27 anos corridos, a conclusão é uma: Super Mario RPG: Legend of the Seven Stars foi um sucesso. No Japão, foi dos títulos mais vendidos durante várias semanas, ultrapassando praticamente mais de meio milhão de unidades vendidas; no Ocidente, com lançamento apenas nos Estados Unidos da América, Legend of the Seven Stars viria a ser para muitos jogadores, o primeiro RPG a ser jogado numa consola de mesa.
Com a fórmula de RPG de Super Mario a recair sobre a série Paper Mario e a saga Mario & Luigi, Super Mario RPG: Legend of the Seven Stars foi se tornando um clássico de culto – até ao anúncio que Super Mario RPG viria a ter o tão esperado remake.
Com a produção a cargo da empresa japonesa ArtePiazza – responsável por vários remakes e ports de títulos Dragon Quest para as portáteis Nintendo, tendo ainda no currículo títulos de menor orçamento para DSiWare e na Wii, Opoona -, o remake de Super Mario RPG é um título que mescla o moderno com o clássico, onde os visuais, os efeitos sonoros, a música, a acessibilidade e personalização da aventura, foi adaptada aos moldes atuais da indústria.
O que parecia mais um dia comum no Reino do Cogumelo, com o Bowser a raptar a Princesa Peach para mais uma cena onde Super Mario brilha como protagonista, rapidamente se transforma numa aventura singular, com uma autêntica viragem de papeis, onde Bowser se torna um benfeitor, Princesa Peach assume o papel de guerreira, e juntamente com dois novos elementos: Mallow e Geno, passam a ter como missão reparar a Star Road – concessora de desejos, recuperando as sete estrelas da Smithy Gang.
Super Mario RPG é o título perfeito para iniciantes no género; é um jogo que avança progressivamente na dificuldade, explicando de forma muito simples todo o funcionamento de gestão de combates por turnos, desde o conceito de defesa – ataque, a esquemas básicos de como tirar proveito das fraquezas do inimigo. A Nintendo sabia bem o que pretendia com o título original – um jogo para todos os jogadores -, e este remake traz exatamente o mesmo espírito, tendo ainda como complemento, novas opções de qualidade de vida.
Durante os embates de Super Mario RPG, o jogador coordena três personagens em combates orientados à vez, onde pode explorar elementos como ataques físicos ou elementais, existindo ainda habilidades especiais e ataques em conjunto. Ao contrário da maioria dos combates por turnos, Super Mario RPG não deixa o jogador apenas a aguardar a hipótese de ataque e defesa, pois estimula-o a interagir carregando nos momentos certos no botão de ação, premiando-o caso consiga executar com exatidão, que tanto pode resultar num ataque crítico, como numa defesa perfeita. Esta decisão de colocar a atenção à prova o jogador a todos os instantes, torna os combates mais dinâmicos e divertidos. Ainda sobre os encontros de batalhas, o jogador pode gerir a entrada e saída de personagens, e as personagens que se encontrem ausentes da batalha, conseguem a mesma experiência no final de cada combate.
Super Mario RPG não é um jogo que exige atenção máxima em cada combate, não pede que o jogador esteja sempre níveis a cima do pretendido e dispensa o chamado – grind -, tarefa árdua que outros títulos da mesma época por vezes exigiam. Para além de Super Mario RPG entregar uma proposta justa em dificuldade, este remake oferece duas opções de desafio: uma em que torna as batalhas mais acessíveis e a dificuldade padrão, tal como o remake foi idealizado pelos produtores.
Toda a aventura de Super Mario RPG cria uma sensação de peregrinação, onde todos os elementos do grupo têm o seu momento, alimentando com um estilo de humor intemporal. Super Mario RPG tem o ritmo perfeito de uma narrativa que se vai alimentando gradualmente, onde leva o jogador a criar intimidade com cada personagem, levando-o a rir-se ou a emocionar-se, conforme a história vai avançando. Embora sempre num tom ligeiro, e com uma ambientação leve e divertida, a história de Super Mario RPG é para ser desfrutada por jogadores de qualquer idade. A proposta original já assim o dava a entender, e o remake consegue obter o mesmo resultado. É uma aventura perfeita com altos e baixos, com ótimos vilões, reviravoltas e feitos inesperados, inclusive nas mecânicas de jogo, com mini jogos a intrometerem-se em várias fases da aventura para retirarem o jogador da monotonia das a batalhas e da ação dos combates.
Super Mario RPG é um remake feito cm carinho, sem tirar a identidade do jogo original. Visualmente foi totalmente refeito, com reflexos, um sistema de iluminação fantásticos, sombras e texturas totalmente dentro dos padrões modernos de um jogo isométrico dos moldes actuais da indústria. E só. A ArtePiazza, fez muito provavelmente aquilo que lhe foi pedido e não foi muito mais além disso. E o trabalho, embora tenha sido bem feito, e de ser totalmente claro o que pretenderam fazer – Nintendo e Square Enix, a verdade é que se nota os pontos fortes de uma aventura que caminha para os seus 30 anos de existência e as inúmeras mecânicas que foram pioneiras e se mantêm até aos dias de hoje, contudo também se sente com estrondo as suas fraquezas, como por exemplo a ausência de vozes e de uma banda sonora mais encorpada (ainda que os arranjos modernos seja magníficos).
Super Mario RPG pode ser concluído com pouco mais de uma dezena de o horas de jogo, a um ritmo normal, e a sua conclusão a 100 por cento pode ascender às duas dezenas. Dado a sua proposta e a forma como se desenrola a aventura, é um tempo de jogo que se ajusta perfeitamente, sem se tornar repetitivo e comprido em excesso. Após a conclusão da história, o jogador tem ainda a opção de desafiar novamente os chefes, só que desta vez com um grau de dificuldade maior, oferecendo mais estímulos, onde por vezes um turno em falso, é fatal.