Ao longo do tempo, fui descobrindo que uma das melhores experiências que se pode ter enquanto espectador é sentir-se completamente absorvido pelo conteúdo que estamos a observar, seja filme, série ou videojogo, por exemplo. A sensação de ver o mundo à nossa volta desaparecer completamente, e transformar-se pouco-a-pouco no mundo mágico em que nos estamos a aventurar é, para mim, normalmente sinal de que estou a observar algo indubitavelmente “grandioso”. Sinto-me imensamente satisfeito por conseguir começar esta análise dizendo que o novo filme de Makoto Shinkai, Suzume, é um exemplo perfeito desta sensação.
Entrei na sala de cinema com expectativas já altíssimas, o que normalmente é raro no meu caso, porém estava confiante na qualidade do filme, julgando pelas reviews que já haviam chegado das terras nipónicas, onde o filme já havia estreado há uns tantos meses, e também, obviamente, pelas obras anteriores deste realizador, como Weathering With You, e claro, o que é considerado por muitos como o melhor filme de animação de todos os tempos, Your Name.
Ao entrar na sala de cinema, o que não esperava foi a maravilhosa, “avalanche” de magia que Suzume haveria de oferecer, mostrando-se não só digno das expectativas que já tinha, mas de ser reconhecido também como um dos melhores filmes de animação dos últimos tempos.
Para quem ainda não havia ouvido sequer falar deste filme, segue-se uma breve sinopse da aventura que se pode esperar de Suzume:
Do outro lado da porta, está todo o tempo do mundo.
Suzume conta a história duma adolescente de 17 anos e a sua jornada através de um Japão devastado por várias calamidades e onde ela terá de fechar as portas que causaram estes desastres.
A jornada de Suzume começa na pacata cidade de Kyushu, no sudoeste do Japão, quando ela conhece um rapaz que lhe diz estar à procura de uma “porta”.
Suzume encontra numas ruínas e cercada por água, uma porta envelhecida pelo tempo, em pé e isolada como se tivesse sido a única coisa a escapar da catástrofe que se abateu no local. Atraída pelo seu poder, Suzume roda a maçaneta… e várias portas abrem-se por todo o Japão, desencadeando uma onda de destruição sob todos os que estiverem por perto. Suzume terá de fechar estas portas para impedir a destruição total.
Enquanto que muitos podem dizer que as histórias dos filmes de Shinkai não têm sido o seu maior forte, eu discordo totalmente, já que tanto nas suas obras mais recentes, como em Suzume, ele pegou num tema específico, e criou um enredo totalmente ligado ao sobrenatural clássico japonês, com referências aos deuses que controlam a natureza, por exemplo, desenvolvendo assim aventuras profundamente emocionais, quase sempre baseadas no clássico romance rapaz-rapariga, mas oferecendo-lhe o seu toque pessoal, que faz com que os filmes sejam sempre obras totalmente novas.
Graças a este já referido “toque pessoal” de Makoto Shinkai, conseguimos rapidamente entender a dinâmica dos seus filmes, quase sempre focada no desenvolvimento das suas personagens, e na inclusão de catástrofes naturais. O meteoro em Your Name, as cheias em Weathering With You, e finalmente, os sismos em Suzume, são marcos de grande importância nos seus filmes. Principalmente neste último, já que Suzume funcionou quase como um memorial às vítimas das catástrofes naturais que ocorreram no Japão, principalmente ao sismo de março de 2011, que ficará para sempre na memória dos japoneses, e que sem dúvida ficou na memória de Shinkai.
Quanto ao desenvolvimento das personagens, não foi certamente tão acentuado como em Your Name, em que participaram da ação principal não só Mitsuha e Taki, mas também os seus amigos, a avó de Mitsuha, o seu pai, entre outros.
Em Suzume, somos igualmente introduzidos a imensas personagens, porém estas não têm um foco tão grande na história principal, tendo cada uma delas o seu próprio “arco”. Isto faz com que Suzume pareça mais uma jornada e nem tanto um filme onde acontece tudo ao mesmo tempo, o que acabou por se tornar extremamente positivo, ao vermos Suzume a reencontrar-se com os amigos que havia deito ao longo da viagem.
Tendo passado a parte da história, chega o que é provavelmente o ponto forte principal do filme, e o que tem sido a marca principal de grandeza nas obras de Shinkai: a sua animação. Desde as vistas panorâmicas de Tóquio, até as cenas de maior ação, Suzume impressionou do início até ao fim com os seus visuais impressionantes, que poucos estúdios alguma vez conseguirão emular.
Não me pude deixar de rir com a minha própria piada seca: “com esta animação, ver uma personagem a fechar uma porta nunca foi tão épico!”. Ainda até este momento, acho que foi uma das melhores frases da minha autoria.
Porém, para tornar as cenas realmente épicas, ou românticas, ou animadas, teve que acompanhar uma banda sonora e produção áudio de grande qualidade. Adivinhem lá… Foi exatamente o que recebemos! As obras musicais dos RADWIMPS, de Kazuma Jinnouchi, e o tema principal de Toaka têm-me a partir daí acompanhado quase todos os dias. Com músicas apenas tocadas com piano, outras com orquestra e coro, outras com quarteto de cordas, e uma até interpretada por uma Big Band de Jazz!, Suzume foi acompanhado por uma das melhores bandas sonoras dos últimos tempos vistas em filmes.
Por fim, temos toda a produção de áudio geral do filme, que foi soberba. Por momentos, senti-me totalmente absorvido pelos sons ambiente, ou pelas diferenças de áudio existentes tendo em conta a distância de diferença de uma personagem com a protagonista. Muitas vezes, o poder que os efeitos sonoros têm num filme é desvalorizado, porém este é um filme que poderá ajudar a fazer entender a sua importância, se for visto numa excelente sala de cinema.