Remasterização em videojogos tem percorrido um longo, porém recompensador caminho com um ou outro percalço pelo meio. Uns destacam-se por entre os seus pares como Uncharted: The Nathan Drake Collection, Wipeout Omega Collection e até Mass Effect Legendary Edition caracterizando-se como trabalhos laboriosos. Outros, como este Tales of Symphonia Remastered em análise, representam o outro verso da moeda, um com uma tonalidade pouco positiva dado o pouco ou inexistente trabalho feito.
Tales of Symphonia identifica-se como o quinto Tales Of, estreando-se na Nintendo Gamecube em 2004 (versão europeia) e pela PlayStation 2 no mesmo ano exclusivamente em terreno nipónico. Esta versão na consola da Sony trouxe mais conteúdo, mas com um desempenho a trinta fotogramas por segundo, ao contrário dos sessenta na Gamecube. Para muitos isto é uma infelicidade pois Tales of Symphonia Remastered, baseado na versão Steam cuja base utiliza a versão PlayStation 2, beneficia de uma maior taxa de fotogramas para melhor sensação de fluidez na ação.

O enredo utiliza-se da velha máxima “com pouco, faz-se muito”: Lloyd Irving, um espadachim determinado e corajoso, aventura-se numa demanda pelo mundo fictício Sylverant, ao lado de vários amigos conhecidos por ocasião, para proteger a escolhida Colette, esta rumo a uma peregrinação para ampliar poderes que irão permitir regenerar o mundo e consequentemente salvá-lo. Uma premissa simples e pouco restritiva, permitindo desabrochar progressivamente várias temáticas como racismo ou estatuto social, sem nunca distrair do objetivo principal.
Apesar de ser um produto com praticamente vinte anos, o enredo mantém as tendências previsíveis neste tipo de RPG com traços nipónicos: uma epopeia de proporções épicas com múltiplos clichês, atravessando vários locais com imensa infortuna de todo o tipo pelo caminho. Conforme supramencionado, a abordagem a vários temas faz deste Tales Of um dos pilares de destaque na série, mas a jóia da coroa são as personagens principais, cada uma repleta de personalidade, experiências e vivências, assim como a motivação individual para cada um persistir na demanda.

Felizmente, não obstante a sua idade, e para amantes de RPG mais facilmente consumíveis como eu, Tales of Symphonia Remastered introduz elementos simples na jogabilidade que nunca complicam em demasia, sendo suficientemente interessantes de explorar com mais afinco, como habilidades por desbloquear com algumas nuances ou facilidades visuais em perceber qual equipamento é considerado um upgrade. São decisões que ajudam a encarrilhar as mecânicas com maior facilidade, transformando-se num ambiente mais propício para desfrutar da narrativa.
Assim como tudo referido até ao momento, o próprio combate não degenera e mantém esta tendência simplista, oferecendo um sistema que enfatiza combinações de ataques e diversos estilos de luta, conjugando ataques básicos com habilidades, estas últimas dependentes de um atributo chamado SP. A utilização de ambos inicia uma mecânica de pseudo resource management, com habilidades a despender SP e ataques básicos a restaurá-lo. É possível, inclusive, controlar companheiros de equipa individualmente, mas sempre preferi que fosse o sistema a fazê-lo, raramente necessitando do contrário para ultrapassar obstáculos.

Senti, porém, inconsistências com o combate em Tales of Symphonia Remastered. As batalhas tradicionais são o pão-nosso-de-cada-dia, tarefas relativamente simples de concretizar sem penar muito a mioleira. Já os bosses, inimigos mais fortes, são um autêntico totoloto: uns incrivelmente fáceis, outros desnecessariamente difíceis que nem o level grind (custoso) safou, apenas uma boa pitada de sorte em descobrir a estratégia indicada.
Com a banda sonora a prestar excelente serviço em todos os cantos, enaltecendo o decorrer da aventura, e apesar desta remasterização única e exclusivamente tocar apenas nos modelos das personagens e na resolução interna (a sério) quase é perdoável Tales of Symphonia Remastered deter problemas com a camera ao ponto de, por exemplo, acidentalmente chocar contra inimigos no mapa mundo e iniciar uma batalha. Estas frustrações não são casos isolados, com problemas no cell-shading e uma otimização geral sofrível de um jogo com duas décadas numa máquina moderna.
Tales of Symphonia Remastered já está disponível para Nintendo Switch, PlayStation 4 e Xbox One.