Game design é uma combinação de lógica, arte e paixão, e há experiências que só um jogo pode proporcionar; algo que nos faz sentir parte do que estamos a vivenciar, e não como um mero espectador. Pensar, agir, falhar, repetir, falhar, vencer. Isto é The Alters, um dos meus títulos favoritos de 2025.
Das mesmas mentes criativas e geniais de This War of Mine ou do brilhante Frostpunk, chega-nos agora ao mercado The Alters, um dos projectos mais ambiciosos do estúdio. Estes três temas têm várias coisas em comum, tanto na abordagem da jogabilidade, como na forte carga emocional. This War of Mine explora a sobrevivência em tempos de guerra, mas contado do ponto de vista dos civis que terás de gerir. Já Frostpunk aborda a tentativa de sobrevivência de uma colónia num mundo pós-apocalíptico completamente gelado. Já The Alters, convida-nos a e explorar a mineração e viagens espaciais, num desconhecido planeta que assusta, mas que não nos consegue sair do pensamento. Embora cada um destes jogos se desenrole em contextos radicalmente distintos — guerra urbana, colapso climático ou isolamento espacial — todos nos confrontam com o mesmo núcleo temático: decisões difíceis, sacrifícios morais e o peso humano da sobrevivência em situações extremas.
Ao contrário dos dois títulos mencionados acima, The Alters conta com uma narrativa bem mais explorada e com mais peso. Controlas Jan Dolski, um minerador espacial que sofre um acidente num planeta hostil. O jogo começa quando acordas de uma enorme queda, e poucos minutos chegam para descobrires que és o único sobrevivente da tua equipa de expedição que rumou ao desconhecido na incessante procura por Rapidum, uma descoberta que pode mudar o rumo da humanidade.
Jan não conseguirá fazer nada sozinho, e é através da sua base que se consegue conectar às comunicações terráqueas e reportar a situação. Estas curtas comunicações iníciais servem para nos ajudar conhecer os recursos que necessitaremos para sobreviver, como os gerir; e nos dar a conhecer alguns dos segredos da matéria que originou tudo isto. Rapidum é extremamente poderoso, mais do que o nosso protagonista poderia pensar.
Esta matéria é capaz de criar clones de si mesmo (os alters); clones formados com algumas rotas criadas das suas memórias. É curioso como não consegues sobreviver sozinho, mas precisas de sobreviver contigo mesmo. Cada Alter é uma versão do Jan de uma vida alternativa, com as suas próprias características, personalidade, estados de humor e necessidades emocionais. Numa dessas memórias Jan decide abdicar dos estudos e ficar com a mãe, virando um técnico de manutenção. Noutra realidade ele vira um cientista, etc. Estes pedaços dele mesmo têm personalidades únicas, e o primeiro contacto após acordarem e darem de caras com o nosso Jan, não é fácil, mas é muito única. Cada Alter trabalha melhor quando está motivado, e precisa de descanso e alimentação. As suas tarefas e habilidades únicas podem ser usadas para nosso proveito, como por exemplo utilizar o biólogo na estufa, dando uma melhoria no tempo de produção de alimentos; ou então o Cientista, que é a meu ver o Alter mais importante da base, já que é o único que consegue utilizar a sala de pesquisa para continuar a evoluir e progredir para sair daquele pesadelo.

Ao contrário de This War of Mine e Frostpunk, que se focam mais na gestão, The Alters conta também com exploração em terceira pessoa, controlada por comandos responsivos ainda que com poucas funções de mecânicas. Colectar recursos nas várias superfícies do planeta é vital para a sobrevivência e para a locomoção da nossa base. Isto é feito através de extração de matérias como metais, matérias orgânicas, e poderá ser adquirido através de ferramentas como scanners que detectam os locais certos, e são a base para tudo neste jogo. O maior problema é que o terreno é extremamente radiativo, especialmente durante a noite (altura ideal para recolher à base), além de anomalias estranhas que durante muito tempo ficam apenas a existir no desconhecido do conhecimento.
Já na base, é onde se passam as situações mais importantes da narrativa, impactado pelas nossas escolhas. O meu primeiro contacto com a base foi abismal, e transmitiu uma sensação constante da nossa pequenez enquanto espécie, perante a grandiosidade daquela incrível construção. A sua escolha visual e a arquitectura, foram pensados para impactar o jogador. Trata-se de um pneu gigante locomovível, composto por cápsulas que podemos manipular ao longo da jornada. Será aqui que à partida os teus Alters estão seguros, já que a façanha é revestida por uma barreira anti-radiação, desde que tenhas filtros necessários, bem ao estilo do carvão de Frostpunk por exemplo. Na base poderás construir pequenas cápsulas como dormitórios, enfermaria, oficina, laboratório de pesquisa, e até salas de diversão. Cada espaço é pensado para colmatar algumas necessidades dos teus irmãos clones, e requisitadas até por eles em algumas partes do jogo.
Os dilemas dos Alters são muitas vezes complicadas. Poderás consultar as suas histórias e escolhas que deram à sua presença naquela viagem. Egos gigantes e lutas contra vício estão presentes em algumas das decisões mais complicadas que já tive de fazer num videojogo. As escolhas são muito importantes, e serão elas a definir o teu sucesso. Isto é perfeito para o incrível factor de repetição que este jogo tem incluso, já que é impossível ver tudo numa só jornada. Aliás, jogando na dificuldade normal, provavelmente irás ver um game over que a meu ver é necessário para progredir posteriormente.
A atmosfera é brilhante, tanto na componente sonora como na visual. A equipa de desenvolvimento está mais uma vez de parabéns, são já uns mestres na arte de criar esta imersão. The Alters mergulha-te completamente num ambiente de tensão, isolamento e mistério; muito alinhado com a componente emocional que a narrativa carrega. A banda sonora combina sons ambientes minimalistas, ruídos industriais e rudimentares, e o tema enquanto navegamos pelas secções de memória dos nossos alters é simplesmente brilhante, ainda que lembre um pouco do que já vivi em Frostpunk.
The Alters encontra-se disponível no dia 13 de Junho para Xbox Series X, PS5 e Steam. Um agradecimento especial à editora pela cedência de uma cópia digital para PS5.