Nota importante: Em nome da redação da Squared Potato gostaríamos de agradecer ao Ricardo Mesquita (@ric_mesquita), já um célebre membro desta nossa comunidade e vencedor da 1ª edição do concurso Batatas a Murro, que redigiu e nos facultou para publicação esta análise ao filme The Batman de Matt Reeves. A ele o nosso muito obrigado, e desejamos a todos uma boa leitura.


É incontestável que as produções da Warner Bros relativas aos heróis da DC têm sido, no mínimo, discutíveis e que a tentativa de reunir tais personagens dentro de um único universo é cada vez mais um fiasco que a Warner parece não conseguir, ou não querer, resolver.

É por isso importante que se comece esta análise a The Batman assegurando que o filme de Matt Reeves que estreou no passado dia 3 em nada se relaciona com o saco de gatos que é actualmente o DCEU, sendo sim o arranque de um novo universo que existirá completamente separado do DCEU e que pretende apenas centrar-se no domínio de Gotham City em geral e do Batman em particular.

Matt Reeves teve assim a tela completamente em branco para nos trazer a sua visão do Cavaleiro das Trevas e de Gotham City. E o resultado não só agrada bastante como ainda se distancia de várias formas das anteriores versões cinematográficas deste personagem.

É que este é um Batman diferente, é uma Gotham diferente, é um estilo diferente, que se afasta do gótico-industrial de Burton, do delírio néon de Schumacher, do pretenso realismo de Nolan ou do declínio decrépito de Snyder, apostando num grunge vingativo que assenta em tons castanho empoeirado e vermelho de raiva, que juntos à obrigatória escuridão de Gotham, criam a paleta de cores com as quais o diretor de fotografia Greig Fraser apresenta novamente um trabalho extraordinário, depois de já nos ter convencido com Rogue One, Mandalorian e Dune.

Mas onde este filme especialmente se distancia dos demais é no género, assumindo-se claramente como um filme neo-noir que vai buscar influências fora dos tradicionais filmes de super-heróis, tendo óbvias inspirações nos thrillers de serial killers, no terror, no filme noir e no grunge, não faltando referências ou mesmo menções a clássicos como Se7en e Zodiac de David Fincher e a Halloween e Christine de John Carpenter e até o Something In The Way dos Nirvana faz uma perninha.

Outro exemplo do distanciamento das anteriores versões do Cruzado de Capa surge na banda sonora, que ficou a cargo do excepcional Michael Giacchino que nos traz um score mais sério e mais duro bem em linha com o estilo e género que The Batman segue. É certo que este novo tema do Batman pode não ser tão trauteável como os de Danny Elfman, Elliot Goldenthal ou Hans Zimmer, mas não tenho dúvidas que este tema, que tem evidentes influências de Chopin e John Williams (mais especificamente da marcha fúnebre e da marcha imperial), ficará bem presente na memória dos fãs do Cavaleiro das Trevas.

Mas obviamente The Batman também foi beber aos comics do homem-morcego, e o argumento final de Matt Reeves e Peter Craig tem evidentes inspirações em arcos como “The Long Halloween”, “Year One”, “Earth One”, “Ego” ou “Hush” de onde a dupla de argumentistas retira conceitos, factos, acontecimentos, origens, caracterizações e características de personagens para construírem um argumento que, absorvendo do material de base, é na verdade totalmente novo e particularmente ambicioso. 

Um argumento que nos oferece um Batman mais negro, mais intenso, mais violento, mais arrojado ao mesmo tempo que nos apresenta a faceta de investigador e detective sempre presente no Batman dos comics e tão descurada nas adaptações cinematográficas. Traz-nos também uma história de superação, abordando a dor e angústia de Wayne na tentativa de fazer as pazes com o seu passado, e de como o Batman evolui da figura do vigilante vingador a para a de herói capaz de transmitir esperança. 

E se o argumento é de alta qualidade, também há que dizer que o elenco lhe faz justiça e que tanto o realizador como os directores de casting, Lucy Bevan e Cindy Tolan, só podem estar orgulhosos da equipa que juntaram. 

E começando pelo protagonista, é certo que a escolha de Robert Pattinson para interpretar Batman acabou por gerar algum ruído junto de alguns fãs que ainda o olhavam como o vampirinho de Twilight mas, sinceramente, quem viu Pattinson em Cosmopolis, Good Time, The Lighthouse ou Tenet já estaria à espera que viesse agarrar o lugar categoricamente. E assim acontece, Pattinson é um Batman incrível e o seu Bruce Wayne é precisamente aquele que o argumento pede, mesmo que se ouçam vozes que o apontem como demasiado emo ou angustiado.

Mas não é só o protagonista que se destaca, Jeffrey Wright é um grande James Gordon que, sendo ainda tenente, surge neste filme quase como o side kick do morcego, Paul Dano traz intensidade, frieza e terror a um personagem que muitos julgavam estar condenado ao ridículo, John Turturro, está simplesmente perfeito na pele de Carmine Falcone, Colin Farrell, para além de completamente irreconhecível, mostra-se à altura de nos dar um grande Penguin quando o argumento assim o exigir, Andy Serkis encaixa que nem uma luva nesta versão de Alfred e, claro, Zoë Kravitz, uma das maiores surpresas deste filme, que nos traz uma Catwoman com mais densidade, mais história e mais sumo que deve olhar de frente e sem qualquer medo para a Catwoman de Michelle Pfeiffer.

Aqui chegados já terá dado para perceber que The Batman me convenceu, mas isto não significa que o filme não tenha as suas falhas, já que, francamente, também as vai tendo, mas a única que me parece ser relevante aqui mencionar é uma questão de cadência perto do final do filme. É que apesar do filme ter perto de três horas, na verdade o ritmo ao longo da maioria do filme parece ser sempre o indicado, sem lentidões nem pressas, o que ajuda a que o tempo voe sem que realmente nos apercebamos disso. Só que no último acto, quando o Riddler põe em marcha o seu derradeiro plano, o ritmo oscila e o filme parece que olha para o relógio e fica com muita pressa em acabar (sim, é irónico dizer isto de um filme com duas horas e cinquenta e seis minutos, eu sei) o que destoa em demasia da cadência quase irrepreensível que apresentava até aí. Mas a verdade é que isto não belisca minimamente a qualidade global do filme, que para além de ser uma competentíssima primeira entrada deste universo ainda nos deixa em pulgas pela inevitável sequela e pelas séries spinoff que têm sido apontadas à HBO Max.

CONCLUSÃO
Selo de Qualidade
9
Redação
Veterano nestas andanças, acompanhou de perto a guerra entre a SEGA e Nintendo, e sonha um dia com o regresso da estrela cadente Ristar.
the-batman-analiseEm suma, The Batman é indiscutivelmente merecedor de “Selo de Qualidade” e categoricamente recomendo que o vejam, de preferência numa boa sala de cinema!