Decorria o ano de 2014 quando a Warner Bros anunciou a produção deste filme com o intuito de o lançar em Março de 2018. Mas em 2016 a data prevista para estreia acabou por ser tomada por outra produção da Warner (o reboot de Tomb Raider) e The Flash acabou por ficar sem data de estreia definida até que em Julho de 2019, quando finalmente apresentaram Andy Muschietti como realizador do projecto, depois de anos de rumores e de uma lista praticamente interminável de potenciais realizadores, a Warner apontou para o lançamento em Julho de 2022. Depois veio a COVID-19 e os efeitos da pandemia nos lançamentos em sala acabaram por patrocinar mais um conjunto de sucessivos adiamentos.

Mas os problemas com a produção deste filme não ficaram apenas pelos adiamentos. Vários foram os nomes associados ao projecto, não só realizadores como também argumentistas e actores que acabaram por sair pelos mais diversos motivos, sendo o mais comum as diferenças criativas com o estúdio. A acrescentar a isto, o saco de gatos do DCEU continuou sem se conseguir impor e sem conseguir estabelecer um rumo digno e numa autêntica cereja no topo do malfadado bolo desta produção, até o protagonista Ezra Miller decidiu começar a coleccionar acusações como se fossem Pokémons.

E agora, quase dez anos depois de ter sido anunciado e com uma revolução em curso no universo cinemático da DC, The Flash chega finalmente aos cinemas com toda esta coletânea de problemas e esta bagagem que, naturalmente, deixa qualquer espectador de pé atrás.

Por outro lado, os trailers não tinham mau aspecto e “Flashpoint”, o arco que o filme adapta de forma muito, muito, muito livre, é de longe dos meus favoritos do Flash. Sendo que, para além de tudo isso, o regresso de Michael Keaton ao manto do morcego era motivo mais que suficiente para que eu estivesse na primeira sessão que me fosse possível ir. E assim o fiz, reticente, mas com alguma esperança.

Contudo, o filme não demora a mandar essa esperança às urtigas. É certo que a perseguição que o Batman de Affleck enceta nos primeiros minutos é interessante e até merecia um destaque mais cuidado, mas logo a primeira sequência de acção do protagonista é sofrível, chegando mesmo a rasar o cringe. E para isso muito contribui a tentativa, claramente falhada, de ir polvilhando a cena com momentos de humor bem como os efeitos visuais que são, na melhor hipótese, banais, sendo que a espaços são mesmo maus.

E em boa verdade estes dois problemas vão-se repetindo ao longo do filme todo. Os momentos de humor são sempre forçados e raramente cumprem o objectivo e os efeitos visuais nunca convencem, bem pelo contrário. Depois, tanto a história como principalmente os diálogos podiam e deviam ser mais polidos. É tudo banal, desinteressante e acima de tudo inconsequente. E essa inconsequência é o mais irritante de tudo. Esforçando-me para evitar spoilers, nada neste filme aparenta servir para o que quer que seja. Nem tão pouco para o desenvolvimento e crescimento do personagem principal, que faz até questão de comprovar no final que na verdade não retirou qualquer lição do sucedido.

A acrescentar a tudo isto, Ezra Miller brinda-nos com uma interpretação fraquinha. Se eu até tinha apreciado o actor na versão do Zack Snyder da Justice League, aqui simplesmente não me convence.

Mas há que admitir que nem tudo é mau. A despedida de Ben Affleck ao manto do morcego continua a comprovar que havia ali potencial para muito mais, sendo que não deixa de ser curioso que, com esta participação, Ben Affleck passe a ser o actor que interpretou o homem morcego em mais filmes, sem que tenha sequer um único filme a solo do Batman. O que prontamente se lamenta.

Continuando a falar de Batman, mas agora na versão Michael Keaton, esta participação só peca por ser escassa. Ainda assim, mais que suficiente para ser dos melhores momentos do filme. Claro que é, essencialmente, por navegar na nostalgia, mas foi claramente positivo ver novamente Keaton a envergar o manto.

Nota igualmente positiva para a Supergirl de Sasha Calle que em tão pouco tempo de ecrã consegue causar mais empatia que o próprio protagonista. Sasha parece encaixar que nem uma luva no papel, e só é pena que o personagem esteja condenada à inconsequência neste filme.

Por fim, positivos também os vários Easter Eggs e cameos que vão surgindo ao longo do filme, mas em particular no decorrer do clímax da trama, onde eu espero genuinamente que os espectadores possam chegar sem spoilers para aquele que é um forte candidato ao melhor momento do filme. Inconsequente, claro, é sempre essa a tónica do filme, mas que foi bonito de se ver, lá isso é indiscutível.

Mas enfim, a verdade é que são muito poucos os filmes cuja produção coleccionou percalços e problemas que depois chegam às salas com qualidade (recordo-me apenas de uma excepção, e sei que faço parte duma minoria que aprecia o filme) e este The Flash infelizmente não é excepção. A ideia que fica é que foi uma oportunidade perdida de fazer algo efectivamente grandioso. Pela história base, pelos cameos e até mesmo pelo soft reboot que se avizinha no universo da DC, este The Flash podia e devia ser muito melhor. Infelizmente ficou-se pela inconsequência, o que é um manifesto desperdício.

CONCLUSÃO
The Flash
5
Redação
Veterano nestas andanças, acompanhou de perto a guerra entre a SEGA e Nintendo, e sonha um dia com o regresso da estrela cadente Ristar.
the-flash-analiseUm filme que vale a pena ver essencialmente pelo que deveria ser acessório (cameos, Easter Eggs e algum revivalismo) mas que não consegue cumprir minimamente com o que seria suposto ser o principal. Está condenado a ser mais um filme de domingo à tarde.