A saga Ace Attorney não tem tido o melhor tratamento no que se trata de lançamentos fora da série principal. Excluído crossovers, neste grupo apenas o primeiro Ace Attorney Investigations foi lançado fora do Japão, um jogo protagonizado pelo procurador Miles Edgeworth numa aventura que se assemelha mais os point & click ocidentais que o seu equivalente asiático.
…Até agora! A duologia de Great Ace Attorney, após uma geração de consolas, finalmente saiu em inglês.
Largando a temática de “20 minutos no futuro” da série principal, voltamos atrás no tempo para o fim do século XIX, onde seguimos as aventuras do estudante universitário Naruhodo Ryunosuke, antepassado de Phoenix Wright, com os seus compatriotas japoneses na Grã-Bretanha. Com o objectivo de o grupo estudar o sistema legal do império desta ilha europeia, Ryunosuke fica envolvido em casos de assassinatos onde, tal como o seu descendente, age como advogado de defesa para defender os suspeitos inocentes de serem julgados de forma errónea por estes crimes.
Notavelmente, esta história de investigação criminal também incorpora as personagens de Artur Conan Doyle, ou mais exactamente as suas versões dos livros de Arsené Lupin (por motivos legais), Herlock Sholmes e Dr. Wilson que acrescenta ao charme do jogo.
Great Ace Attorney segue o mesmo formato já conhecido onde o decorrer da aventura é partida em duas secções. As de investigação onde o jogador faz a procura de pistas e fala com testemunhas e outras personagens para perceber detalhes do crime. E as secções no tribunal onde temos de desmantelar o caso apresentado pelo procurador e desvendar os verdadeiros factos do assassinato.
No entanto, foram introduzidas algumas mecânicas que vieram de Professor Layton vs. Phoenix Wright: Ace Attorney. No julgamento existe agora a possibilidade estarem várias testemunhas presentes ao mesmo tempo, onde o jogador consegue retirar mais informação quando estas reagem ao que as outras personagens estão a dizer.
Outra mecânica muito mais interessante é a introdução de um júri que determina se o acusado é inocente ou culpado, decisão que normalmente é dada pelo juiz no mundo de Ace Attorney, inspirado pelo sistema judicial japonês. Os jurados têm uma enorme tendência de considerar o teu cliente culpado muito facilmente, por diversas razões como o caso parecer simples a nível superficial, ou a típica discriminação que se pode esperar entre várias nacionalidades no século XIX, chegando rapidamente a uma decisão unanime pouco favorável.
Numa das mecânicas que gostei mais do jogo, nós temos de demonstrar ao júri que as razões pela sua decisão são na verdade pouco consistentes entre os seus membros virando os seus argumentos uns contra os outros, porque a este ponto as palavras de um advogado de defesa caiem em ouvidos surdos, como objectivo de perlongar a duração do julgamento.
É uma boa desculpa para introduzir algumas personagens secundárias muito engraçadas. Mas trouxe um pouco de melancolia, visto que era algo que foi mencionado em Apollo Justice (dado a indicação que seria usado em Ace Attorney 5) mas não deu em nada, devido a restruturação que houve nas equipas na Capcom após o 4º titulo.
Na parte de investigação os objectos e locais onde temos algo a investigar são nos orientados, com alguma subtileza, que torna a experiência menos frustrante para aqueles que acham estes segmentos uma leitura do “Onde está o Waly?”. Para apimentar a experiência também temos “batalhas” de dedução com Herlock onde temos de corrigir o trajecto logico deste detective carismático.
Como é típico de Ace Attorney as excentricidades de animações das personagens não desapontam. Algo que é consistente até mesmo por aqueles que não são muito importantes ao enredo principal do jogo, facilmente marcando o jogador com grandes momentos individuais. Até mesmo personagens mais sérias como o Procurador Van Zieks, um dos maiores obstáculos de Ryunosuke, tem maneiras absurdas para demonstrar a fúria e desprezo que ele tem pelas acções do protagonista, momentos que nunca são dispensados.
A música segue um estilo um pouco diferente do que é comum à série, no lugar de música mais contemporânea, temos um estilo mais tradicional europeu que assentaria que nem uma luva aos videojogos de Professor Layton.
O estilo gráfico é marcante e detalhado, que faz com que as opções gráficas limitadas na versão de PC (usada nesta critica) simplesmente criminal num jogo que foi lançado originalmente para uma consola portátil.
Great Ace Attorney já está disponível para Nintendo Switch, PlayStation 4 e PC.