A saga de The Legend of Heroes, especialmente a série dos Trails, é sem dúvida uma das mais intimidantes de sempre, sendo preciso jogar cerca de 10 jogos para se poder entender a história e continuidade desta mesmo saga. Sendo que se tratam de RPGs enormes, é sem dúvida um investimento de tempo significativo.

O jogo que vos trago hoje é o mais recente da saga, tendo saído finalmente no ocidente. Ora que vos apresento The Legend of Heroes: Trails Through Daybreak, uma nova entrada com um novo protagonista e leque de personagens, tentando dar uma lufada de ar fresco na história.

Uma nova história refrescante

Apesar de não ser tecnicamente preciso jogar os jogos anteriores da série, penso que o jogo espera algum entendimento do seu mundo e lore, com algumas menções e personagens dos jogos anteriores também presentes, se bem que não são propriamente o foco da história.

O nosso protagonista nesta nova história chama-se Van Arkride, um spriggan que consegue resolver quase todos os problemas que não podem ser resolvidos pelas autoridades comuns, como os bracers ou a polícia. Durante uma manhã, o nosso protagonista Van, enquanto ainda se encontrava a dormir no seu escritório, recebe uma visita de Agnés Claudel, uma aluna da escola de Aramis, que veio com um pedido bastante peculiar, envolvendo praticamente um legado de família misterioso. Após uma conversa entre os dois, Van aceita ajudar Agnés com a sua missão, começando então a aventura.

Sendo um jogo de Trails, obviamente que esta premissa que aparenta ser simples facilmente se irá desenvolver em vários caminhos e histórias novas, com dezenas de personagens carismáticas, cada uma com os seus motivos e objetivos. Apesar de nos encontrarmos com o que é na sua maioria uma grande dose de personagens novas, sinto que o jogo conseguiu dar a atenção necessária a todas. Quando cheguei aos créditos, após as várias horas de aventura que tive com aquele grupo enorme, senti que estas personagens conseguiram ser todas memoráveis. Considerando a quantidade enorme de personagens que irás conhecer, é sem dúvida o aspeto mais impressionante de toda a história.

E, já que esta análise se trata da versão ocidental do jogo, temos aqui também uma tradução bastante boa, com uma excelente dose de talento a dar a voz às variadas personagens. Algo que infelizmente desaponta um pouco, é que nem todo o diálogo tem áudio, havendo várias situações onde apenas temos o texto para nos guiar.

É sempre bom testemunhar uma equipa que consegue manter consistência num dos aspetos onde é mais competente, e esta nova entrada na série dá-nos uma história emocional com um leque impressionante de personagens que irão sem dúvida deixar a sua marca.

Uma evolução visual, mas modesta

Graficamente, não há muito que falar. Temos aqui um motor que sem dúvida é mais avançado que o da última entrada na série, demonstrando uma qualidade de modelos bastante superior, com vários detalhes visíveis especialmente nas suas roupas e acessórios. As animações também demonstram uma melhoria substancial, agora com os vários ataques especiais e as cinematográficas a demonstrar mais movimento de forma dinâmica e natural. Os cenários, apesar de simples, demonstram uma boa representação da visão artística do jogo. Ao juntar os vários aspetos visuais que constroem os vários cenários, os mesmos são visualmente belos, independentemente de se tratarem das ruas e subúrbios das cidades, ou das florestas e planícies dos exteriores.

Um motor que sem dúvida mantém a essência da série, não tentando modificar demasiado a sua estética, apesar da simplicidade visual, o respeito à arte é impressionante, deixando-nos com algo que, apesar de não impressionar em termos técnicos, impressiona pela sua atenção ao detalhe nas personagens e os seus cenários bem construídos.

O sistema de combate mais fluído e acessível da saga

O sistema de combate mantém a sua base já estabelecida, sendo combate em turnos, com todas as personagens possuindo uma série de habilidades únicas com várias utilidades. Temos 2 recursos que podemos usar para as habilidades, o CP para os crafts e s-crafts, e o EP para as arts.

Os crafts são geralmente ataques com as armas e buffs especiais, como poderes fazer um ataque em cone ou linha com a tua arma, que pode atrasar o turno dos inimigos, ou diminuir o dano que causa, por exemplo. As arts funcionam como o sistema de magia do jogo, podendo realizar uma série de ataques à distância com vários elementos à escolha, como fogo, gelo e vento. As arts maioritariamente servem para te aproveitares das fraquezas dos inimigos, podendo fazer mais dano. Para poderes recuperar CP apenas precisas de atacar, derrotar e ser atacado pelos inimigos, havendo aqui uma recuperação bastante passiva do recurso. Para recuperares o EP, tens de utilizar consumíveis ou utilizar um dos vários pontos de recuperação espalhados nas zonas.

Os s-crafts são considerados os ataques especiais das personagens, gastando bastante CP para realizares um ataque cinematográfico que faz bastante dano. Estes ataques apresentam uma melhoria significativa comparado com os jogos anteriores, usufruindo ao máximo das animações melhoradas que o motor nos apresenta. Isto resulta em s-crafts mais dinâmicos e criativos, aumentando a sensação explosiva destes ataques.

O combate, desta vez, apresenta uma fluidez maior, com a capacidade de poderes mover a personagem livremente durante a sua área de movimento possível, facilitando o alinhamento das habilidades. Com isto, tornou-se possível acrescentar efeitos extra, como poderes fazer mais dano quando executas um craft quando estás de lado ou atrás dos inimigos. Este movimento adicional também alterou a forma como realizamos ataques combinados com o grupo. Desta vez, apenas precisas de te aproximar de uma personagem, onde irás verificar um círculo à volta da personagem que estás a controlar e a personagem que irá cooperar no ataque. Estas cooperações podem ser um ataque extra da outra personagem, ou adicionar a um dos teus crafts um dano elementar extra. Ao atacares os inimigos, irás preencher a barra de stun dos mesmos, e, quando preenchida, os inimigos irão ficar atordoados, não podendo agir durante um turno, dando a oportunidade para poderes fazer o máximo de dano possível durante este espaço de tempo.

Tudo isto torna o sistema de combate por turnos muito mais fluído, mas há uma adição especial que é bastante interessante. Quando encontras os inimigos nas zonas, podes escolher atrasar ou ignorar o combate por turnos e lutar com eles em tempo real. Este sistema de combate em tempo real é bastante simples, com a capacidade de poderes fazer ataques normais, um charged attack mais forte e também esquivares-te dos ataques com um dodge. Este sistema é mais eficaz para os inimigos mais fracos, podendo tornar os combates mais mundanos mais breves. Para inimigos mais fortes, este sistema pode ser utilizado para preencher a barra de stun e atordoar os inimigos antes de entrares no combate por turnos, ganhando vantagem ao início do combate.

Penso que esta dinâmica entre tempo real e turnos foi executada de uma forma bastante competente. O foco do combate mantém-se sempre nos turnos, mas o combate em tempo real faz com que o jogador perca menos tempo em lutas menos interessantes contra inimigos mais fracos.

Como fã do sistema de combate da série, penso que este sistema de combate é sem dúvida o melhor que a equipa já fez. Apesar de ter demorado mais de 100 horas a terminar o jogo, nunca em nenhum momento me senti cansado com o sistema de combate.

Fora do sistema de combate, temos aqui uma estrutura já familiar, com uma série de capítulos envolvendo a missão da história e momentos onde temos várias missões secundárias e também a capacidade de passar o nosso tempo livre com uma ou mais das variadas personagens que vais conhecendo. As missões de história, como é óbvio, apresentam uma qualidade superior, repletas de diálogo e algumas cinematográficas. Também é onde temos as maiores dungeons, sendo geralmente bastante simples, apresentando alguns caminhos para explorar e encontrar baús com itens e equipamento. Nestas missões de história é onde encontras a maioria dos bosses, apresentando um desafio agradável, com bastantes bosses memoráveis e visualmente interessantes. Mecanicamente, os bosses são bastante simples, apresentando o típico do género, onde tens de tomar atenção às fraquezas e aos ataques mais fortes dos mesmos, gerindo os melhores momentos para defender e atacar.

As missões secundárias tratam-se de resolveres os vários problemas aas pessoas das várias cidades e localizações que visitas. Estes problemas são bastante variados, desde de tentares encontrar uma mala com projetos secretos de uma empresa, de modo a evitar que os mesmos sejam expostos ao público, ou então algo como ajudar uma rapariga a encontrar o seu namorado desaparecido, com uma pequena dose de mistério e surpresa durante a investigação. Apesar de se tratarem de missões secundárias, estas apresentam conceitos que ajudam a tornar a experiência muito mais digestível. Podem-se tratar muitas vezes de “fetch quests“, mas os vários conceitos e a diversidade de problemas que irás encontrar acrescentam uma variedade agradável a estas missões.

No final das intermissões da história, irás ter alguns pontos de tempo livre para poderes gastar em encontrares-te e relaxar um pouco com uma das várias personagens do grupo ou secundárias. Estas atividades são pequenos momentos menos focados na escala grande dos acontecimentos da história, dando a entender um pouco mais das nuances das personagens. Ao passares o teu tempo livre com uma personagem, irás melhorar a tua relação com ela, fazendo com que essa personagem ganhe uma melhoria nas suas estatísticas.

De uns toques de piano emocionais a um hino de rock entusiasmante

Já não é surpresa para ninguém que a música nos jogos da Nihon Falcom é sempre de pura qualidade. Aqui mantém-se a tradição, com uma junção de melodias suaves de piano emocionais para os momentos mais pesados e íntimos da história e hinos de rock cheios de entusiasmo para aqueles momentos explosivos aquém de uma anime. A sonoridade irreconhecível da equipa, mesmo passado tantos anos e jogos, é deveras um aspeto impressionante, e manter uma qualidade tão elevada é algo que merece o seu devido mérito.

Um grande agradecimento à editora por nos ter fornecido uma chave do jogo para análise.

CONCLUSÃO
Açucarado
9.2
the-legend-of-heroes-trails-through-daybreak-analiseThe Legend of Heroes: Trails Through Daybreak leva-nos a um novo capítulo na saga com uma estreia carismática do novo protagonista Van Arkride. Uma aventura colossal com dezenas de personagens memoráveis e um sistema de combate evoluído.