Creio que no que toca a videojogos adaptados de obras de terror, estes só podem provir das histórias de Robert Louis Stevenson ou H.P. Lovecraft. É verdade que Stephen King tem bastantes obras de renome. No entanto, não creio que tenha a profundidade ou criação de cenário mental que os anteriores possuíam. Com isto, chega-nos então The Sinking City.
Conceito
Um jogo inspirado nas obras de Lovecraft, (o qual, por acaso, faria hoje anos) que nos traz a mais fiel adaptação ao misticismo que se encarrega de dar vida às histórias criadas pelo autor. Essa passa-se na cidade de Oakmont, em Massachusetts, numa cidade fictícia. No entanto, está muito bem desenhada, de forma a que qualquer recanto seja alcançável em pouco tempo. Isto evita cortes no ritmo de jogo (esses acontecem à mesma, mas noutras situações).
História
Encarnamos aqui o papel de Charles Reed, após descobrir que os habitantes de Oakmont sofrem de pesadelos semelhantes aos seus. A única diferença que o separa dos restantes, é que após os pesadelos, os habitantes desaparecem do mapa. Sendo um veterano de guerra, Charles dedicou-se à investigação privada. Semelhantemente, sendo auto-didacta, embarcou numa viagem para desvendar os seus maiores medos.
Chegando à cidade, somos colocados perante um tutorial para nos ambientarmos à maneira como que as investigações são feitas. Ainda assim, a informação é sucinta e concisa, não dando sequer a mão ao jogador. Muito ao estilo de The Vanishing of Ethan Carter.
Algo bastante interessante é a maneira como os casos secundários se interligam com os primários. Quando a investigação é feita a fundo, desvendamos informações que nunca iríamos descobrir se não tivéssemos enveredado por aquele ramo.
Mas não é preciso muito tempo para descobrirmos que a cidade é controlada por facções. Estas são constituídas em grande parte por Famílias, ao estilo de O Padrinho. Estas, tal como na obra, controlam tudo o que se passa na cidade.
À medida que vamos progredindo na história, vamos desvendando detalhes obscuros sobre a cidade de Oakmont. Prosseguindo com o devido cuidado, apenas devem colocar confiança em quem acham que merece. Uma escolha errada pode acabar num desfecho trágico.
Pontos Fortes
Antes de mais nada, é desnecessário dizer que o diálogo está bem estruturado. É óbvio que a Frogwares é consumidora de livros, o que por si só já constitui um ponto forte para a construção de falas e desenvolvimento de enredo.
A nossa atenção e perspicácia serão testadas ao limite, podendo ainda colocar a dificuldade (tanto de combate como de investigação) no grau mais elevado. Assim, cria-se uma jornada desafiante, onde muitas decisões serão tomadas com base no instinto.
Discordo que todos os videojogos tenham de ser open world, e este é um desses casos. Algo ao estilo de Dishonored era mais viável, com hubs específicos. O que é que isto causa? Tempos de carregamento eternos.
Pontos Fracos
É, simplesmente, um gasto desnecessário no processamento do jogo e, como resultado, o ritmo abranda, causando perda da imersão. Uma comparação que me vem à mente é Bloodborne, que também sofria bastante disso ao início.
Dado que a investigação é preponderante no jogo, traz alguns problemas, como por exemplo o facto ser repetitiva. Não ao ponto de ser informação repetida mas, por exemplo, ao investigarmos um local, algumas pistas não estão ao nosso alcance até encontrarmos “A” pista que as desvenda. Isto pode fazer com que tenhamos de revistar o mesmo local duzentas e cinquenta e sete vezes. Não só num local, muitas vezes temos de recorrer ao arquivo para desenvolvimento de uma história. Isto faz com que andemos para trás e para a frente durante demasiado tempo para desenvolver enredo.
Aliado ao desperdício de um mundo aberto, temos ainda um combate infrutífero. Assim que que colocamos combate num videojogo, tem de ser algo que permita ao jogador sentir que será relevante. Mas, de facto, não me lembro da última vez que vi alguém nos livros de Lovecraft ter coragem para lutar com os monstros que lá aparecem. É desnecessário e quebra a imersão, o que na minha opinião traz consigo um grande peso. Pois pior do que um jogo mau é um jogo com tudo para dar certo, mas arruinado pela tentativa de o fazer parecer mais do que é.
Conclusão
The Sinking City é um videojogo que merece ser jogado pela brava atitude de prestar homenagem a H.P. Lovecraft, e mecânicas que, com certeza, irão ser utilizadas em futuros jogos. No entanto, não é algo que valha o preço a que está agora, muito menos uma prioridade sobre os vossos jogos preferidos. É uma experiência a ser tida em conta, com expectativas baixas, de forma a criarem o vosso próprio mundo e opinião crítica sobre o desenvolvimento da história.
The Sinking City já está disponível para Xbox One, PlayStation 4, no Humble Bundle e Epic Games para PC, e na Nintendo Store para a Nintendo Switch.