Quando o maléfico Gargamel decide voltar a capturar os Smurfs, o plano passa por enfeitiçar as bagas vermelhas que eles adoram, de forma a adormecê-los e a poder localizar a aldeia escondida, através de um mapa de sonhos dos Smurfs. Felizmente, como em praticamente todas as histórias, existe sempre a oportunidade de travar os planos de qualquer vilão! Na pele azul de um dos habitantes da aldeia, com a ajuda do Grande Smurf, vais ter de mergulhar nos sonhos dos Smurfs adormecidos e acordá-los dos respetivos mundos em que estão presos. Ao longo de mais de 30 níveis, agrupados em 12 etapas, a história de The Smurfs: Dreams vai-se desenrolando e aos poucos a aldeia volta a ganhar vida.
No decorrer da viagem pelos sonhos de cada Smurf, vamos encontrando caras conhecidas da clássica série de animação, dos amigáveis Smurf dos Óculos, Smurfina, Smurf Vaidoso e Smurf Guloso (o Chef), aos vilões Gargamel, Azrael e Boca Grande. Todas estas personagens surgem na história e nas dinâmicas de jogo de forma orgânica, não sendo forçada a sua integração. The Smurfs: Dreams inclui ainda uma lista de adversários e de itens que podem ser usados tanto como arma como enquanto ferramentas de progressão no mapa, interagindo com elementos do cenário de forma inteligente, criativa e dinâmica. Tal como noutros títulos do género, para alcançar o objetivo, grande parte do desafio passa por saber combinar elementos do cenário, tempo de reação e os movimentos certos.
Fora da pequena aldeia, que tão bem conhecemos, os principais caminhos do jogo cruzam as estrelas, ao longo de constelações às quais chegamos com o impulso de uma almofada gigante, plantada no meio da aldeia. Entre bolos e chocolate, à deriva no espaço, em castelos flutuantes ou pelo meio da floresta, os equilibrados níveis de The Smurfs: Dreams contam com cenários magníficos, detalhados e extremamente coloridos. Ainda assim, os elementos dentro dos níveis tornam-se ligeiramente repetitivos, nomeadamente em termos de adversários e obstáculos.
Do pesadelo nasceu um sonho
Enquanto alguém que acompanha a marca no pequeno (e no ainda mais pequeno) ecrã há vários anos, sinto que The Smurfs: Dreams é o salto de qualidade que o clássico The Smurfs Nightmare, lançado há mais de 25 anos para Game Boy Color, merecia. Com a mesma premissa e um ponto de partida similar, ambos os jogos conduzem o jogador pelo universo The Smurfs, numa jornada viciante, que agora se apresenta com mais liberdade, mais complexidade e uma história ainda mais elaborada.
Há muitas referências neste jogo que nos podem remeter para clássicos recentes e que podem ser tidas em conta para criar uma ideia, ainda que vaga, de como funciona o jogo. Se em The Smurfs Nightmare encontrávamos elementos clássicos de Super Mario, agora encontramos elementos de Super Mario Odyssey, por exemplo, do movimento a algumas dinâmicas. Com o avançar da aventura, sentimos também presente a influência de Little Big Planet e do recente sucesso da série, Sackboy: A Big Adventure. Sem alongar muito este tópico, à ideia saltam-me ainda outras referências, como Crash Bandicoot 4: It’s About Time, Asterix & Obelix XXL e Ratchet & Clank: Rift Apart. Estes nomes e elementos acabam por enriquecer a experiência e por afastar a simplicidade que a própria marca pode carregar às costas. Ainda que The Smurfs: Dreams seja original e tenha o seu próprio valor, o facto de nos remeter para títulos de qualidade e exemplos de boas práticas dentro do género é uma clara mais-valia.
The Smurfs: Dreams é altamente bonito. Os gráficos e a arte estão no ponto certo e o Smurf Guloso acertou em cheio na receita. As cores vibrantes, o contraste e a atenção ao detalhe são impressionantes e tornam o jogo irresistível. Estando no domínio da fantasia, The Smurfs: Dreams não sofre com a pressão do realismo, abrindo portas à imaginação e a uma abordagem disruptiva. Apesar de ser, a nível global, muito bom, os gráficos e a arte são os principais pontos a destacar neste mais recente título da série. Porque os ouvidos também consomem, a banda sonora e os efeitos sonoros deixariam o Smurf Músico orgulhoso, na medida em que oferecem ainda mais magia à criativa história que nos vai sendo contada.
Para descontrair, desafiar e Smurfar!
Em termos técnicos, não há praticamente nada a apontar. De controlos simples, tudo é bastante intuitivo, da leitura dos cenários ao movimento pelo espaço. Ainda assim, há que ter em conta que a perspetiva em profundidade nem sempre colabora, mas felizmente a indicação do ponto de aterragem permite enquadrar as personagens no espaço. Algumas dinâmicas do jogo, sobretudo com o avançar da aventura, incluem como eixo de desafio elementos como a manipulação da profundidade e do reflexo, tornando este ponto ainda mais determinante.
Com a possibilidade de ser jogado com companhia, em modo cooperativo, The Smurfs: Dreams é uma boa sugestão para o multiplayer local, tantas vezes ignorado. Em família ou com amigos, a diversão está garantida! Por outro lado, não sendo necessária uma segunda volta pelos níveis, a não ser para acabar de colecionar cogumelos e itens em falta, a essência do jogo deixa no ar a vontade de voltar a caminhar pelos percursos mágicos da obra e de ver novamente a aldeia a ganhar vida.
Para ser honesto, o meu maior receio em relação a The Smurfs: Dreams passava pela ideia de que pudesse ser demasiado descomplicado e até infantil, de forma a tornar-se acessível a um maior número de faixas etárias. As cores vivas, o brilho e as animações transpareciam essa mesma simplicidade. Felizmente, o medo desfez-se após dois ou três níveis, tornando claro que é preciso ter destreza de raciocínio e agilidade para combinar movimentos, interações com o cenário, a ação dos adversários e o uso de itens em simultâneo. The Smurfs: Dreams é efetivamente desafiante, requerendo várias tentativas para completar determinados segmentos.
O nível de desafio em The Smurfs: Dreams é crescente, tornando o progresso muito mais interessante. Falhar deixa de ser opcional para se tornar totalmente aceitável e parte do processo. Possivelmente por isso, não há grande perda de progresso com o respawn ao longo dos níveis, estando esse mesmo progresso praticamente sempre, e quase ao segundo, assegurado. A cada respawn, o nosso Smurf reentra no checkpoint anteriormente alcançado, com duas vidas, que poderá usar como escudo. Como tal, evitar cair do mapa, ser atingido por adversários ou tocar em elementos causadores de dano é essencial.
Em termos de tempo, aproveitando bem cada etapa, demorei cerca de oito horas até ver rolar os créditos e completar todos os níveis com relativa profundidade. Esta é uma duração aceitável, que podia eventualmente ser prolongada com algum fator de exploração, por exemplo dentro da própria aldeia, ou com elementos clássicos do pioneiro de 1999, sobre o qual escrevi uns parágrafos acima, mesmo em estilo de mini-jogo.
The Smurfs: Dreams, da Microids e da Ocellus Studio, foi lançado a 24 de outubro e está disponível para PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox Series X & S, Xbox One, Nintendo Switch e PC.
+ Pontos Positivos
- Arte e gráficos encantadores
- Dinâmicas inteligentes
- Desafio equilibrado
- Banda sonora extraordinária
– Pontos Negativos
- Pouca variedade nos cenários
- Pouca exploração fora de cada nível
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