Um ano depois do lançamento da primeira trilogia remasterizada, eis que chega uma nova coletânea de jogos Tomb Raider para as plataformas contemporâneas com Tomb Raider IV-VI Remastered. Terá Lara Croft dos finais dos anos 90 envelhecido como um bom vinho ou será que estaremos na presença de uma tentativa desesperada de lucrar com a nostalgia de outros tempos? Eis o veredito da Squared Potato…

No dia 14 de fevereiro de 2024, dia de São Valentim e dia de aniversário fictício da personagem Lara Croft, a Asypr lançou Tomb Raider I-III Remastered – cuja análise está disponível aqui – permitindo a muitos jogadores de regressar aos cenários emblemáticos desses títulos e a gerações mais novas a oportunidade de presenciar a gnese dos jogos de ação-aventura a três dimensões.

O trabalho apresentado por este estúdio é, nada mais nada menos, que um port dos três primeiros jogos Tomb Raider com ligeiras melhorias. Com um simples pressionar de um botão, conseguimos mudar rapidamente do estilo gráfico poligonal da geração 32 bits para o trabalho de aprimoramento que a Aspyr fez. Em termos de jogabilidade, o estúdio deu a possibilidade do escolher entre dois estilos de controlos:os clássicos “tank controls” e os modernos. Tal como o nome sugere, neste último estilo, conseguimos guiar a câmera de jogo com o analógico direito (algo mais parecido com um jogo de ação-aventura na terceira pessoa lançado nos dias de hoje).

Juntamente com os títulos da trilogia tal como foram concebidos à época, a Asypr fez questão também de incluir as expansões – como é o caso de Unfinished Business – contendo alguns níveis bónus. Sem contar com o PC, relembro que foi a primeira vez que os jogadores de consolas tiveram oportunidade de experienciarem esses mesmos níveis de forma oficial (por exemplo, a comunidade de fãs já tinha feito isso com as suas próprias mãos na “velhinha” Sega Saturn). De forma sucinta, a primeira coletânea foi um esforço seguro e bem sucedido em trazer uma trilogia marcante da História dos videojogos da última década do século XX

“O canto de cisne” da saga clássica

Com a transição de um novo século à porta, Lara Croft e os jogos Tomb Raider já apresentavam alguns sinais de desgaste. O ritmo incessante de lançamentos anuais por parte da Core Design fez com que a estória levasse um rumo algo… inesperado.

Em 1999, Tomb Raider: The Last Revelation foi interpretado como um canto de cisne da franquia. O estúdio sempre quis que o quarto jogo fosse, efetivamente, o derradeiro. Contudo, por imposições da editora, não foi bem assim que aconteceu. No ano seguinte, Tomb Raider: Chronicles foi um epílogo em jeito de “lado B” das aventuras da Miss Croft e quando foi lançado, em 2003, uma sequela para a Playstation 2 em 128 bits… saiu um tiro pela culatra.

Esta “segunda trilogia” Tomb Raider pode ser considerada como sendo pertencente a uma fase descendente de Lara Croft. No entanto, em termos pessoais, confesso que me diverti bastante com The Last Revelation. Foi um dos jogos que acompanhou as minhas sessões de jogatana na Dreamcast, e, na altura, representava uma espécie de port 128 bits. Para além disso, este título mostrou uma notória evolução de personagem com uma dinâmica interessante com o seu mentor, Werner Von Croy.

Mas quando foi confirmado o lançamento desta coletânea, a minha primeira reação foi: será que vão melhorar Tomb Raider: Angel of Darkness? Apesar de não ter jogado no lançamento, este título deixou um sabor amargo em quase todos os fãs. Eu não fui exceção. Para além da presença de bugs gráficos nos momentos mais inesperados (quem não se lembra do loop de Lara a gritar?), as mecânicas introduzidas – como ter uma barra de resistência enquanto seguramos os recantos de prédios – não foram bem recebidas e, em muitos casos, pareciam até um retrocesso quando comparado com os jogos anteriores.

“Por uma unha negra…”

E foi exatamente por esse título que comecei por experimentar quando peguei no comando da Nintendo Switch. Acho que a maior parte dos fãs tem muita curiosidade em saber o trabalho que Asypr depositou neste remaster (não é, por acaso, que o modelo da Lara Croft encontre-se centrado nos materiais promocionais). Após um loading algo moroso entre jogos no menu principal – algo que permaneceu quando invocava o menu de pausa – comecei um “novo jogo”. Tal como na coletânea anterior, temos a possibilidade de escolher entre dois estilos de controlos já mencionados.

O design dos níveis de Angel of Darkness foi concebido para ser usado os denominados “tank controls”. Por isso, há um evidente “choque” entre os dois estilos de controlos. Foi uma experiência penosa tentar habituar-me aos controlos modernos num jogo de 2003. A adaptação dos controlos modernos é algo difícil; imagino para uma pessoa que esteja a jogá-lo pela primeira vez.

Ao contrário dos jogos anteriores em que partilhavam o mesmo motor gráfico, Angel of Darkness é um caso à parte. As melhorias gráficas não são assim tão evidentes e, em muitas das vezes, ficamos na dúvida de qual é que representa a versão da Aspyr.

A experiência de jogo é praticamente igual. Ou seja, existem poucas melhorias. Por um lado, respeita a visão artística do jogo de 2003, porém, considero uma oportunidade perdida em não ter melhorado a jogabilidade. É curioso pensar que o derradeiro capítulo desta primeira fase Tomb Raider seja, na verdade, o que pior envelheceu nesse campo. Mesmo assim, tem o estilo gráfico mais apelativo dos seis jogos clássicos. No entanto, considero relevante a sua inclusão, porque, encerra a estória da Lara Croft e tem também as suas sequências icónicas.

No que diz respeito aos outros títulos desta trilogia, o trabalho é semelhante ao lançamento do ano passado. Um aspeto interessante é que conseguimos jogar com estilo de gráficos poligonais em 60 fotogramas por segundo. Para conseguir esse efeito, temos que selecionar essa opção no menu das opções. Caso contrário, é-nos apresentados os 30 fotogramas por segundo.

Para quem conhece este jogo de trás para a frente e queira explorar cada recanto de cada cenário, a Asypr presenteou, novamente, um modo fotografia. Mesmo que não se interessem em tirar chapas, este modo permite navegar por cada nível para deleite dos maiores apaixonados desta saga.

Algo que me surpreendeu foi terem incluído o nível – exclusivo, na altura, para o PC – alusivo a uma promoção de marketing com o jornal britânico The Times relacionado com a efeméride dos 75 anos do descobrimento do túmulo do rei egípcio Tut. A banda sonora continua intacta, que, por sua vez, é uma ótima notícia neste departamento.

Tomb Raider IV-VI Remastered já está disponível para a PlayStation 4|5, Xbox Series X|S, Nintendo Switch e na STEAM para PC. 

Agradecemos à editora a cedência de uma cópia para análise.

CONCLUSÃO
Preservação competente
7
tomb-raider-iv-vi-remastered-analiseTomb Raider IV-VI Remastered é o "fechar de um ciclo" da estória da Lara Croft dos anos 90 e início dos anos 2000, mesmo que os títulos desta trilogia não sejam tão impactantes como a primeira. No entanto, Tomb Raider: The Last Revelation continua a ser um jogo interessante no franchise que não pode ser colocado à parte. O trabalho de remasterização da Aspyr é focado em pequenas melhorias, que respeita o legado original da Core Design. Sinto que foi uma oportunidade perdida de não "renascer" Angel of Darkness. É, sem dúvida, a melhor forma de poder experienciar estes títulos em hardware contemporâneo.