Se leste o título e decidiste ingressar nesta viagem, das duas uma: ou também partilhas da mesma nostalgia que eu que cresci com jogos playstation, ou tens curiosidade em descobrir mais sobres estes afamados 3D platformers de outros tempos. De qualquer das formas, sê bem-vindo a esta discussão onde espero que tenhas espaço para que possas acrescentar também a tua opinião sobre o tema. Salta daí e aperta o botão do círculo para scrollares!
Quem está a par das últimas notícias deste mês, sabe bem o impacto positivo que teve a mais que bem-vinda revelação da aposta da Sony na maior aventura de sempre do Astro Bot. É verdade que esta ainda é uma mascote muito recente na longa história de vida da marca, onde muitas outras brilharam e se apagaram ao ritmo de crescimento de uma geração de jogadores. Mas isto é algo que sinto que pode estar prestes a mudar. Ou melhor, precisa de mudar rápidamente antes que este pequeno robô se torne também ele vítima deste processo.
Já há algum tempo sinto em falta no leque de ofertas dos estúdios mais competitivos, precisamente uma mascote forte e fresca num género muito preso ao passado como são os 3D platformers. É certo que na Nintendo podemos sempre contar com alguns títulos de Super Mario e companhia, onde algumas aventura se desenrolam a três dimensões em universos propícios a roubar muitos sorrisos às famílias em casa; que agora a Microsoft com a aquisição da Activision nos trocou as voltas nos rodopios do Carlos El Topo Que Gira; e que na PlayStation a Insomniac continua a brindar-nos com um tratamento de excelência ao nosso lombax favorito da galáxia que atesta as areias do tempo, enquanto aguardamos por mais aventuras do nosso Sackboy; No entanto grande parte dos IPs de 3D platformers que marcaram o início da era da exploração das aventuras em 3D, encontram-se efectivamente mais que enterrados, sem grandes sucessores espirituais, e sem esperanças de retornos vitoriosos.
Daí que me tenha juntado à tão saudosa resposta ao anúncio de Astro Bot, e na mesma semana tenha quase atirado a carteira ao ecrã após anúncio do financiamento de um dos mais belos indies 3D Platformers que cruzou recentemente o meu olhar: The Big Catch! (efectivamente!). Eu sei, apesar de não terem a mesma força, temos tido bons platformers como Kao the Kangaroo, Kena e o inesquecível Stray, mas são todos aventuras praticamente encerradas, e hoje quero me focar em IPs consolidados com mascotes recorrentes, que podes crescer a seguir na indústria a cada nova instalação. Não são poucos, é de facto, mas os que ainda se encontram no ativo contam-se pelos dedos (de uma mão!).
Ora, num meio cada vez mais diversificado e em que só se pensa em disparar framerates como metralhadoras e em puxar pelos gráficos hiper realistas até aos limites da computação, quer me parecer que quem fica para trás são as aventuras com grandes emoções talhadas para as crianças e a família. Isto claro, falando de plataformas não-Nintendo. Não pretendo começar a redigir uma tese sobre introdução aos videojogos para crianças, nem sobre os benefícios cognitivos que este género de jogos em específico trouxe à minha geração.
Mas de facto, acho que estes contribuíram em muito na criação de um vínculo especial com estas medias em tão tenras idades. Não só pelas suas narrativas apaixonantes e pelos seus cenários garridos e personagens fantasiosos de expandir os nossos mundos imaginários, mas também pelas curvas de aprendizagem mais forgiving a par de um nível de motivação que instruía persistência para chegarmos a doces cinemáticas. O controlo e a leveza dos movimentos, timings, destreza da coordenação com belos ciclos de animação, o saltar e esquivar obstáculos, orientação na navegação pelos mapas aliado ao desejo por explorar mais interações, criou uma geração que soube se adaptar posteriormente aos mais diversificados desafios impostos pelos outros géneros. Infelizmente este em específico pareceu ao mesmo tempo se diluir com os outros.
Chegando agora à altura de lapidar o mercado atual, em toda a sua oferta, precisamos de encontrar palco para que estas mascotes com valor insubstituível possam continuar a viver as suas narrativas mais light hearted, e a brilhar numa vibração de cores e animação que traziam mais felicidade ao coração do jogador que os universos apocalípticos, depressivos e intensamente massivos que trazem fortes cefaleias atualmente! Narrativas essas, faziam os jogadores sonhar. Hoje? Nem tanto, mas bem que merecíamos.
Efectivamente, e nem a propósito, ainda neste mês fomos apanhados de surpresa com o anúncio das entradas em catálogo do PS Plus Premium, para Tomb Raider e Sly Cooper, e novamente assistimos ao movimento de jogadores caírem da cadeira com a onda de nostalgia a inundar-lhes o saco lacrimal.
Com isto, é só uma questão de tempo até Soul Reaver, Spyro, e muitos outros voltarem a ser convocados, no entanto questiono-me até quando é que vamos aceitar que para pensarmos em bons 3D platformers consolidados, tenhamos de pensar no que jogávamos há três gerações de consolas atrás? Não é com remasters, ports e “re-ports de ports” que vamos continuar a pagar vezes e vezes sem conta para continuarmos a arrastar estes cadáveres até às novas gerações para jogar o mesmo jogo. Recordava-me aquando dos The Game Awards que temas como o de Kingdom Hearts nos traziam lágrimas aos olhos sempre que tocam numa orquestra, numa apresentação, ou mais recentemente num trailer do recém anunciado lançamento da saga para os PCs dos jogadores da Steam (apesar de já estar disponível na Epic Games Store). De facto quando penso no dinheiro que essa saga já nos levou para continuarmos a revivê-la a cada geração de consolas que sai…. lá deitamos mais uma lágrimazita.
É claro, que não se trata só deste sub-género em si, há também toda uma conjuntura de personagens memoráveis e narrativas de gerações mais anteriores à época, onde o side scroll era baril e o que estava a dar, mas cujas comunidades já atiraram a toalha ao chão (estou a olhar para ti Ristar). O que nos faz relembrar o quão mal tratadas têm sido não só as mascotes desta indústria, mas também as gerações mais novas de consumidores da atualidade por lhes terem sido “roubados” estes impactantes momentos de criação de um vínculo para a vida. É como um pacto: nunca vi um fã de NiGHTS verdadeiramente a desistir de lutar por um futuro da sua saga.
Mas já vi nos constantes atropelanços de um ouriço azul, um futuro que parecia cada vez mais negro à anos atrás, no entanto meio que levado a ferros, lá finalmente conseguiu-se descobrir o caminho para mantê-lo entre nós; ou o ritmo apressado dos monstros de bolso que têm de bater objetivos anuais de vendas insanos em merchandise a troco de jogos mal acabados, mas que agora encontram pela frente uma competição finalmente há altura de fechar a torneira a este chulanço desmedido; quer me parecer que com a ausência de mascotes tão firmes na atualidade, e as sepulturas das anteriores tão bem impressas na memória, a comunidade já tem maturação para democratizar esta media onde tanto desempenhamos o papel de protagonistas a cada iteração, como podemos mostrar o caminho que entendemos que tem espaço para existir para incluir os mais novatos e descontraídos.
Não sei se concordarás comigo nesta reflexão, mas após uma desintoxicação de jogos playstation cada vez mais demanding, e ver cada vez mais curto o meu tempo disponível para jogar, comecei a optar por perseguir experiências como as que em tempos me fizeram mais feliz, seguir as aventuras de velhos amigos ao longo dos tempos, e efetivamente o registo de cefaleias diminuiu mas a biblioteca nem por isso aumentou tanto assim. Por mais 3D platformers com que no futuro possamos continuar a crescer, aqui ficamos a aguardar saudosamente pelo teu amadurecimento, Astro Bot.