A saga The Legend of Heroes (Eiyū Densetsu) é uma saga já com algumas décadas às suas costa, da já veterana Nihon Falcom Corporation (ou simplesmente Falcom). É uma saga que começou no final dos anos 80, e deu origem a diversas sub-sagas. Dessas sub-sagas, a mais famosa e que, até aos dias de hoje, ainda continua a entregar jogo atrás jogo, é a saga Trails.

Trails in the Sky First Chapter foi lançado, originalmente em 2004 para o PC e mais tarde para a PSP, seguido da sua sequela direta Second Chapter em 2006. Esta sub-saga apenas chegou ao ocidente em 2011 (First Chapter) nas mãos da XSEED para a PSP e em 2014 para o PC enquanto o Second Chapter em 2015 para a PSP e PC.

Nota: Em diante passaremos a usar FC para mencionar First Chapter e SC para Second Chapter).

Para a XSEED este foi sem dúvida um trabalho de amor! Nota-se o mimo dado à localização, algo nem sempre presente, com uma enorme quantidade de texto, algo pouco visto, ainda mais tendo em conta que os JRPG já costumam ter um elevado número de palavras.

Foi decidido analisar ambos os jogos juntos, uma vez que estes funcionam como se fossem um grande jogo, dividido em duas partes, com muitas semelhanças entre eles. Convém destacar que o FC tem uma narrativa que, por si só, acaba no fim do jogo, pelo que, se alguém decidir apenas jogar este jogo, conseguirá ter uma experiência que não seja inconclusa, mas que se desejar obter todas as respostas terá que jogar à segunda parte.

História

O mundo evoluiu muito nos últimos 50 anos. Graças à Orbal Revolution deu-se uma grande evolução em todos os ramos da sociedade, desde o mais humilde cidadão até aos grandes exércitos e realeza. Com este Orbal Power (Orbments) é possível utilizar todo o tipo de máquinas, aquecimentos, iluminação, transportes, entre outros, incluso, quando combinado com outros aparelhos, melhorar as capacidades do utilizador e a possibilidade de usar “magia”.

Esta história começa no ano 1203 do Septian Calendar, na pequena cidade de Rolent, em Liberl, na pele de Estelle Bright e o seu irmão adotivo Joshua Bright. Ambos têm o sonho de se tornarem Bracers, membros de uma organização não governamental que se dedica a proteger as pessoas e a resolver diversos tipos de conflitos, e na qual o seu pai, Cassius Bright, possui dos mais altos ranks em todo o continente. Para isso, decidem empreender numa viagem para obterem os certificados necessários para poderem se tornar membros na sua totalidade, no entanto, rapidamente ver-se-ão envolvidos numa série de situações e casos que poderão pôr em risco o destino do seu país.

SC tem início imediatamente no dia seguinte ao final de FC. Aqui voltamos a seguir Estelle no seu caminho, a procurar algo de muito valioso que lhe foi tirado, numa aventura muito pessoal para ela. Mas não só, das sombras surgiu uma organização que pretende abalar o sistema, não apenas de Liberl, mas de todo o continente de Zemuria. Estelle, juntamente à sua mega carismática equipa, fará o possível para o evitar.

A história tem um ritmo lento, com muita exposição, mas é aqui que reside o encanto da saga Trails. Os personagens falam muito e todos têm a sua história para contar. Incluso, os NPCs além de terem muito diálogo opcional, depois de diversos segmentos da história principal (e às vezes de missões secundárias) mudam o seu diálogo, e este vai evoluindo. É algo único e, se jogares FC e SC um atrás do outro, vais notar essa evolução e, inclusive, conhecê-los pelo seu nome e preocupares-te por esses NPCs (não te esqueças de falar sempre 2 vezes com cada personagem, quase sempre têm mais diálogo).

Os personagens principais são todos muito carismáticos, todos com muito tempo para brilhar e bem caracterizados. Da minha parte, posso dizer que Estelle Bright se tornou na minha personagem favorita nos videojogos. Além dos irmãos Bright, alguns dos personagens que nos acompanharão são a Scherazard, membro da Bracer Guild e professora de ambos, Tita uma adorável adolescente, aprendiz de engenheiro, Olivier, um bardo que viaja pelo país “conquistando” o coração de todos os que o conhecem, entre muitos outros.

A história está cheia de momentos emocionantes, momentos cómicos, tristes, plot twists. Está cheia de momentos de exposição em que os personagens apenas querem, por exemplo, almoçar, momentos em que conectas com eles ainda mais. Como referido, o FC começa muito lentamente, sem muitos momentos a destacar, mas passado esse momento inicial, torna-se em algo inesquecível.

No FC a história principal ronda as 40 horas e no SC tem em torno de 50. Realizando as missões secundárias e falando com todos os NPCs, este número pode aumentar algumas dezenas de horas.

Visuais

Os visuais claramente mostram a idade do jogo. A arte e retratos dos personagens estão a um nível bem alto, tendo os diálogos diferentes expressões sempre que os personagens importantes falam. A modelação dos personagens ao início, parece estranha, mas rapidamente nos habituamos ao seu estilo, os seus detalhes, e como se combinam com a personalidade e retratos destes.

Jogamos com uma perspetiva mais isométrica, sendo que podemos rodar a câmara em 360 graus na maioria dos cenários. O mundo 3D apresenta uma qualidade correta (ainda para mais se pensarmos que corre na PSP).

Visitaremos muitas cidades e natureza, apresentando, geralmente, uma atmosfera muito agradável, evitando também aquela sensação de cenários sem vida e/ou com falta de detalhes. Inúmeras cidades bem diferenciadas, prados, praias, grutas, mansões, barcos, naves voadoras, florestas, dimensões paralelas, muitos são os cenários que o jogo apresenta. Destaco os detalhes nos interiores de edifícios, aldeias e cidades que visitaremos que ressaltam muito mais na versão do PC. Isto sim, muitos dos cenários entre ambos os jogos serão os mesmos, uma vez que voltaremos a muitos desses locais visitados anteriormente.

Jogámos a versão da PSP e um pouco a do PC. Como é óbvio, a versão do PC está melhor, além de texturas HD, apresenta 60 frames. A versão da PSP corre muito bem, sendo a principal diferença a diminuição da qualidade das texturas e o facto de as caixas de diálogo ocuparem mais espaço no ecrã.

Jogabilidade

Trails in the Sky apresenta um sistema de combate por turnos. Poderemos ter até 4 personagens em combate. No FC, por exemplo, teremos quase sempre Estelle e Joshua como membros permanentes na equipa.

O combate em si tem lugar ao tocar no inimigo (estes são sempre visíveis ao andar pelo mundo). Numa primeira visualização, dá a sensação que se trata de um tactic RPG, mas não é bem assim. Apesar de o campo de batalha apresentar “quadrículas” como nos tactics, o jogo desenrola-se e tem a duração do típico RPG por turnos, porém, terás de ter também em consideração a tua posição, quanto te podes movimentar, a àrea de ataque de certos ataques, etc. É um sistema de combate até relativamente rápido (se jogares na versão do PC, incluso tens à tua disposição o turbo mode que permite acelerar o ritmo do jogo).

Em combate, tens à tua disposição, além dos ataques normais, os ataques especiais (crafts) e a magia (arts). Para usares esses crafts necessitas de CP que ganhas ao atacar e ao receber ataques dos inimigos. Para usares as arts necessitas de EP (o MP de toda a vida) e requer certo tempo para os poderes lançar. Muitos desses Crafts e Arts conseguem afetar uma área de ataque maior, às vezes em círculo, outras em linha e algumas até podes escolher exatamente o ponto/área de ataque sem importar se está lá um inimigo ou não. Normalmente, quanto mais forte o poder, mais terás que esperar pelo teu turno seguinte.

Os Crafts são exclusivos para cada um dos personagens, enquanto que os Arts dependem de como são equipados. Dependendo do atributo de velocidade, e do tipo de ataque anteriormente usado, é definida a ordem de batalha que pode sempre ser vista na barra à esquerda. Nessa barra existe também uns bónus que potenciam os personagens (ou inimigos) se calharem no seu turno. Os personagens também possuem um ataque final que pode ser usado a partir do momento que o CP atinge 100 (e que inclusive pode ser usado no turno de outro).

Além do HP, EP e CP, os personagens possuem o típico ataque, ataque especial, defesa, defesa especial e outras características como o range de movimento, valor para esquivar, valor de acertar e distância de ataque (um pouco como o presente nos mencionados tactics RPG). Estes sobem a cada novo nível e ao equipar Quarts no Battle Orbment (aparelho que fortalece o personagem e permite usar Arts). Cada personagem possui um Battle Orbment diferente, cada um com as suas limitações. Existem 7 tipos de valores elementais que definirão o tipo de magia que podemos usar (valores que alguns inimigos são resistentes ou possuem alguma fraqueza).

Ambos os jogos possuem 3 níveis de dificuldade, Normal, Hard e Nightmare. No primeiro jogo o modo normal é relativamente fácil, enquanto que no segundo o modo normal oferece um bom desafio (não recomendo nada começar a primeira vez em Hard).

O jogo não possui mapa-mundo, mas sim uma espécie de “corredores” que unem as diversas áreas. Tens à tua disposição um mapa que te ajudará no teu percurso. Infelizmente durante as masmorras este não está disponível, o que faz com que algumas sejam uma dor de cabeça, devido à sua disposição labiríntica e ao quão fácil é à câmara mudar a sua disposição e ficares totalmente perdido.

Tens também missões secundárias que podes aceitar nos quadros da base dos Bracers. Estas missões têm um limite de dita até quando as podes fazer (short, medium, long), e ao avançares na história principal, deixam de estar disponíveis. Além das típicas missões de derrotar monstros, existem missões com histórias secundárias muito interessantes e que, perfeitamente, poderiam ser a principal. Algumas requerem um pouco de investigação e paciência.

Em termos do equipamento é o normal do género, arma, armadura, calçado, acessórios… Onde se destaca, como dito anteriormente, é na personalização do Battle Orbment. Tendo cada personagem as suas limitações, este sistema permite-nos equipar Quartz que sobe ou desce certas características. Além disso, cada Quartz tem certos valores elementais associados que permitem aprender diversos tipos de Arts. É realmente algo muito personalizável e onde terás, muitas vezes, de debater se preferes que melhore certas estatísticas do personagem ou aprender algumas Arts específicas. No FC podemos equipar 6 e no SC este sobe para 7.

Som

Falcom é sinónimo de muita qualidade neste aspeto e, como não poderia ser por menos, não falha aqui. O catálogo é extenso e variado. Cada cidade principal possui a sua música. Existem diversos temas para as batalhas, todos de grande qualidade.

O tema de batalha principal do FC, “Sophisticated Fight”, é dos temas de batalha mais atípicos que vão ouvir, uma música super animada, até para o relaxante, com um certo toque de jazz. O mesmo se pode dizer do tema de boss principal, muito atípico. Destaco o tema “Silver Will”, do melhor que ouvi no género, “A Cat Relaxing in the Sun”, “The Merciless Savior”, entre muitas outras. A história também dá algum destaque ao uso da harmónica.

Nota-se uma evolução no aumento de força da música do FC para o SC, especialmente no combate, muito ligado à história e a mostrar essa urgência. Um grande exemplo disto é a música que liga as diferentes zonas, no FC é um tema muito alegre que evoca à exploração e em SC um tema mais emotivo, que transmite certa tristeza e algo de esperança. Algo semelhante nos temas de batalha. Ambos os jogos partilham muitas das melodias, especialmente em cidades e masmorras, mas acho o SC relativamente superior.

Cada um dos personagens possui um efeito de som ao atacar, sendo bem diferenciados, igual que todo o tipo de feitiços e habilidades. O personagem ao caminhar tem um som associado, que é igual para todos e que, pode chegar a tornar-se pesado para certos jogadores.

Voice Acting

O jogo apenas possui vozes durante os combates através dos tão famosos “gritos de batalha” e estão em inglês. Como pequeno à parte, foi lançado, em exclusivo no Japão, uma versão para a PSVita em que toda a história principal recebeu uma dobragem das vozes em japonês.

CONCLUSÃO
Épico
9.5
Bruno Cavaco
Grande apaixonado pelo mundo dos videojogos, destacando a sua predileção por RPGs e jogos japoneses no geral. Licenciado em Gestão de Marketing, continua a planear o caminho que deve seguir. Um fã da Eurovisão dos pés à cabeça.
trails-in-the-sky-1-e-2-analiseTrails in the Sky é o início do que, sem dúvida, promete ser uma obra épica. Um início invulgarmente lento dá lugar a uma história cheia de momentos inesquecíveis que brilha ainda mais graças à forte personalidade de todos os seus personagens, não só nos principais como nos restantes. Juntando a isto uma grande banda sonora, um bom sistema de combate e um apartado visual com um estilo único, temos um pacote que irá surpreender muitos e que dá lugar a uma saga que promete fazer sonhar bem alto. É o início de algo muito especial.