A franquia Two Point é a minha favorita no que toca a jogos de gestão. Isto, porque não me satura, é intuitiva, acessível e convidativa, explora mecânicas simples e complexas em simultâneo para quem quer dominar a maestria de ter um negócio estruturado, e através desta sopa de qualidades que me traz, consegue libertar uma dopamina que poucos jogos fazem, e com isso, já o tempo passou e lá estou a dever horas de sono à cama.

Assim o foi com Two Point Hospital em 2018. Este, foi o primeiro jogo da saga, e sucessor espiritual de Theme Hospital, não tivessem alguns dos responsáveis como Mark Webley e Gary Carr trabalhado nesse clássico do PC. Em Two Point Hospital fomos apresentados às bases do que nos faz divertir nesta franquia até aos dias de hoje: humor, gestão e construção.

Quatro anos depois, surge Two Point Campus, o meu menos querido dos três. Igualmente divertido, mas menos exigente e desafiador. Lidar com os estudantes chatos é muito menos desafiante que lidar com doentes com a gravíssima Light Headedness. Ainda assim, finalizei como não podia deixar de ser.

Até que chegamos a Março, e me aparece no colo Two Point Museum, o melhor (de longe) jogo da franquia até à data. A Two Point Studios agarrou no melhor dos dois títulos lançados anteriormente, e implementando novas funcionalidades extremamente adictivas, conseguiu entregar um jogo impressionante para os fãs do género.

Two Point Museum é extremamente completo. O jogo apresenta cinco temas principais para explorar em diversos cenários e até no modo sandbox: Pré-História, com incríveis fósseis, esqueletos de dinossauros e recriações da vida pré-histórica. Botânica, categoria focada no mundo das plantas, permitindo criação de estufas e exposições sobre a evolução da flora, onde podes ter alguns visitantes comidos por plantas carnívoras. Sobrenatural, com o melhor background story, explorando mitos, lendas e fenómenos paranormais. Este é, a meu ver, a categoria mais desafiante das cinco, já que não basta apenas a gestão, e também terás que te ver livre de alguns acontecimentos sobrenaturais para não afugentares os visitantes. Vida Marinha, onde o foco são as maravilhas do oceano. Terás a liberdade de criar enormes aquários, exibir esqueletos de criaturas marinhas gigantes e aprender e até ensinar os visitantes sobre a biodiversidade dos oceanos. Por fim, mas não menos importante, o Universo, com exposições sobre astronomia, exploração espacial e tecnologia futurista.

Todos estes métodos têm uma grande novidade que é o factor-chave de Two Point Museum: as expedições. Essa mecânica adiciona uma nova camada de jogabilidade, permitindo-te que envies equipa especializadas para explorar o mundo em busca de artefactos raros e valiosos. Não só toda este vertente de exploração traz muito ao jogo, como se torna até uma saudável obsessão vivenciar o que nos trazem sempre que retornam ao museu, com a maldita animação das lootboxes dos jogos multiplayer, e sim, até isso faz parte da paródia.

Durante estas expedições, dilemas podem acontecer, e poderás perder alguns dos teus especialistas, ou pior; voltarem com viroses, apatia, e uma vontade de fazer tudo menos trabalhar. Alguns eventos acontecem na base da probabilidade, como se um jogo de cartas se tratasse. Terás que usar as skills certas para anular a possibilidade de um evento mau, ou utilizar outros itens fabricáveis (ou não) para garantir mais segurança e experiência aos teus trabalhadores.

Não só as mecânicas são novidades em Two Point Museum. A personalização do museu também está melhor que nunca, e era algo não explorado nos títulos anteriores. Os jogadores têm muito mais liberdade para desenhar e personalizar o layout do museu. Agora, é possível criar corredores personalizados e até construir andares extra para o teu edifício, e com isto, imagina a quantidade de públicos-alvo que conseguirás atacar em simultâneo, até porque no condado de Two Point o público é bem exigente.

Esta gestão dos visitantes é muito importante para manter o entretenimento e a vontade de gastar dinheiro. Existem diversas personalidades muito singulares neste título, e algumas categorias de colecionadores. As crianças por exemplo, adoram áreas interactivas e experiências em tudo o que são gadgets. Já os turistas, são os mais casuais, com poucos requisitos, atirando a sua atenção para a loja de souvenirs. É aqui que a magia de Two Point Museum aparece, quando a tua sinergia permite-te aliar todos estes visitantes num só espaço, e categorizar pequenos locais do museu para cada um deles. Nada como ver um académico interessado na história, a poucos metros de um turista que dá mais valor ao peluche da loja do que a um fóssil com mais de 100000 anos. Também há grupos especiais como excursões, ou passeio da escola, e até celebridades que nos podem impulsionar ainda mais a popularidade do museu.

O que realmente a torna esta franquia tão especial além da sua liberdade criativa, é acima de tudo, aquele core simplista e acessível a qualquer jogador, e que o diga quem já experienciou algum destes títulos Two Point. O convite a experienciarem novas mecânicas chega sempre na bel-sedução dos seus visuais únicos e cartoonescos, juntos com um humor típico que já vem de Theme Hospital, e que perdura até aos dias de hoje. Os personagens excêntricos, os funcionários e visitantes do museu; cada um com personalidade exagerada e comportamentos únicos, muitas vezes com crítica social, e até a própria rádio com o típico humor britânico dos trocadilhos são metade do amor investido neste projecto, e espero que assim o continue por muitos anos.

Uma pequena nota para terminar: Two Point Museum foi jogado numa Playstation 5, ao contrário dos outros dois títulos que os adquiri e joguei no PC. Aconselho sempre a versão de computador já que é muito mais acessível no que toca a gestão de finanças e até comandos mais básicos, mas para quem não tem essa possibilidade, têm aqui uma versão sólida e muito bem conseguida.

Um agradecimento especial à Ecoplay pela cedência de uma cópia para análise na plataforma Playstation 5.

CONCLUSÃO
Imperdível
9
Igor Gonçalves
Curioso, explorador, e fã de videojogos desde que me lembro, e em especial pela saga Metal Gear. Não jogo plataformas, jogo jogos.
two-point-museum-analiseTwo Point Museum é, sem dúvida, o melhor jogo da franquia até agora. Com novas mecânicas viciantes, como as expedições para encontrar artefactos raros, e uma personalização mais profunda, o jogo expande a fórmula de gestão com criatividade e humor, e tudo isto embrulhado no charme cartoonesco e no humor afiado característico da série. Um título obrigatório para fãs do género.