Cisma Cineclube
Fotografia © Mariana Vasconcelos

Desde os tempos dos pequenos cinemas de rua com poucas sessões por filme e lugar a todos os géneros cinematográficos, que os grandes grupos de distribuição mostram os seus filmes em cinemas em centros comerciais, ficando o espectador refém daquilo dos grandes blockbusters.

Perdem-se, assim, oportunidades de ver filmes de realizadores emergentes, filmes nacionais, filmes independentes internacionais ou, por outras palavras, de todas as experiências cinematográficas fora do grande círculo do comercial.

No interior do país, porém, há uma associação cultural de jovens que promove um cineclube onde tudo isto e muito mais é possível: a CISMA, associação cultural nascida na Covilhã, é a promotora deste espaço.

Trata-se de uma associação que nasceu para “criar condições para que artistas emergentes, sejam de que vertente forem, possam criar de uma maneira mais livre e fluída. Queremos criar espaços de liberdade e fruição artística. Queremos criar pontos de encontro entre artistas e entusiastas que permitam a partilha de ideias e projetos por vir“.

Estas palavras são de João Ferreira, um dos fundadores, e a pessoa que me contou tudo sobre este cineclube. Comecei a minha conversa com o João por lhe perguntar as áreas culturais em que a CISMA atua:

“Numa palavra: todas. O nosso intuito é, precisamente, dinamizar a vida cultural em todas as suas vertentes (…) Temos artistas que se associaram que são da moda e do vestuário, da tatuagem, da produção musical, do artesanato, da performance, do som, das artes plásticas”.

João Ferreira, co-fundador da CISMA
CISMA
Fotografia ©Mariana Vasconcelos e Wool

E é desta vontade de dinamizar culturalmente uma cidade e uma região que nasce o cineclube da CISMA:

Principalmente, nasceu de uma escassez de oferta na cidade (na CISMA, grande parte das iniciativas nascem desta premissa),” explica João. “Reparámos que numa cidade que detém um curso universitário de cinema, a oferta cinematográfica e as iniciativas relacionadas com esta área eram insignificantes. A esta lacuna, juntaram-se vontades antigas de alguns membros da associação de criar um cineclube.

Alguns de nós já frequentavam cineclubes e sessões de cinema ‘subterrâneas’ noutras cidades do país. Juntando-se o gosto e paixão pelo cinema, estava criado o cenário ideal para o nosso cineclube nascer e ter longevidade. Na altura, achávamos (e ainda achamos) fundamental que uma cidade como a Covilhã necessite de uma oferta cinematográfica regular e diferente da única sala mainstream na cidade. Queríamos criar um hábito nas pessoas, uma rotina cultural, um estímulo que levasse as pessoas a sair de casa para ir ver um filme. Esse gesto, além de bonito, potencia novas relações e, quem sabe, projetos.

Este projeto tem uma equipa de membros da associação dedicada, como aliás se passa em todos os projetos da mesma mas sem estas equipas serem fechadas a novos membros:

“Qualquer membro da associação, comprometendo-se em querer participar no projeto, pode fazê-lo. Na CISMA, os projetos e departamentos não são estruturas fechadas e imutáveis. Se quiseres, podes sugerir um ciclo à equipa do cineclube ou mesmo juntar-te à malta”

João Ferreira, co-fundador da CISMA

Vamos aos eventos do cineclube! O cineclube da CISMA tem como principal atividade a mostra de um filme por semana sempre às segundas-feiras pelas 21h30min na sede da associação, na sala dedicada a este clube.

Esta “reunião semanal” está sempre sujeita a “ciclos temáticos de duração mensal. A equipa de momento responsável pelo programa segue uma lógica virada para o público, e nunca para aquilo que nós gostaríamos de ver.

Temos em atenção a diversidade de países e linguagem, de género, de ano de produção, entre outras, apesar de nem sempre conseguirmos esta diversidade como pretendíamos. Quando o ciclo é um conceito que nos dá espaço para ir buscar filmes de vários países, vários géneros, várias representações, fazemo-lo sem hesitações. Mas, mais uma vez digo: a comunidade pode sugerir filmes ou mesmo ciclos, e nós respeitamos isso, podendo ou não incorporar nas sessões que estão a ser programadas.

Ou seja, uma comunidade cinéfila que pode ter voz ativa na programação do clube e, enquanto essa voz não participa, tem uma equipa que programa todas as atividades, é para mim, uma ideia ganhadora.

Se visitarem a página de instagram da CISMA, poderão ver toda a programação do cineclube, eventos futuros e passados. Os últimos ciclos de cinema foram: Ciclo Grandes Conversas, filmes sobre diálogo, troca de ideias e o crescimento que daí advém. Contou com filmes como Café e Cigarros de Jim Jarmusch, O Meu Jantar com André de Louis Malle, As Invasões Bárbaras de Denys Arcand e Doze Homens em Fúria de Sidney Lumet.

Este projeto é dos projetos da CISMA que mais gente da cidade traz à associação, indicativo de que fazia falta um espaço destes na Covilhã, mas segundo o João ainda falta muito clube neste cineclube: “Não queremos apenas passar filmes à comunidade, queremos gerar espaços de debate e partilha de ideias, queremos criar uma verdadeira comunidade cinéfila pública na Covilhã.

“Quem sabe desta parte do “clubismo” saiam grandes filmes ou cineastas, um movimento artístico e/ou crítico que se entusiasma e vive também para o cinema. Assim acontecendo, estaremos do lado certo da história, que é o lado da descentralização e dacoesão territorial.”

João Ferreira, co-fundador da CISMA

O mesmo remata:

A arte, a cultura, e massa crítica da população não se situa só em Lisboa e Porto. Queremos mostrar isso. Além das sessões regulares, queremos pegar nas Shortcutz da Covilhã, voltar a esse ponto de encontro. Queremos também fazer várias parcerias, como com os Caminhos do Cinema Português. Queremos crescer na cidade e ser um grupo pioneiro na dinamização, divulgação e criação de cinema na Covilhã, colocando a cidade no mapa nacional desta arte.

Fotografia © Gonçalo Cody

Um bom futuro se augura para o cinema independente e não comercial nesta cidade do centro do nosso país. E são, desta vez, como em tantas outras, os jovens a promover diversidade cultural e de oportunidades para novos artistas. Sem os jovens e a vontade de fazer e mais e melhor, onde estaríamos culturalmente?

Um muito obrigado à CISMA – Associação Cultural e ao seu co-fundador João Ferreira pelo tempo disponibilizado na realização desta entrevista.

Segue a CISMA nas redes sociais (Facebook Instagram) e e espreita o site oficial.

Redação
Veterano nestas andanças, acompanhou de perto a guerra entre a SEGA e Nintendo, e sonha um dia com o regresso da estrela cadente Ristar.