Vanillaware, empresa responsável por produções recentes como 13 Sentinels: Aegis Rim ou Dragon’s Crown voltou à carga e, surpreendendo absolutamente ninguém, dispara mais um tiro na muche da indústria dos videojogos. É espantoso como a qualidade e mestria da equipa, em game design, destaca-se título após título, com este último a beber litros de inspiração de obras como Fire Emblem e, mais descaradamente, Ogre Battle, injetando em Unicorn Overlord um estilo artístico lindo de morrer, considerado já marca da empresa e popularizado desde Odin Sphere.
Posto isso, num mundo sob controlo tirânico do império Zenoira, liderado pelo imperador Galerius, Unicorn Overlord explora a jornada do príncipe Alain, herdeiro do reino de Cornia e cabecilha da Liberation Army. Não sendo adepto de estragar surpresas, apesar do enredo entregar um ritmo genérico e conhecido para fãs do gênero, este desenrola-se progressivamente, batalha atrás de batalha estratégica, com escolhas de diálogo e dilemas morais a ocupar momentos narrativos intensos, resultando em alianças improváveis, traições e mistérios bem escritos, assim como um trabalho de voz fenomenal.
Por exemplo, num dos primeiros dilemas, Alain tem em mãos o poder de decidir o destino de uma personagem. Após efetuar uma escolha e arcar com as consequências, fui online (obrigado Internet) assistir ao desfecho da opção contrária, e o resultado não poderia ter sido mais diferente! Contudo, o que realmente enriquece a demanda principal de Alain, esta focada em enfraquecer o domínio de Galerius e um pouco fraca em comparação, são as personagens e companheiros que a compõem, cada uma com as suas motivações, desejos e estória pessoal, assim como os momentos decisivos acima exemplificados.
Não obstante o enredo fazer refém do nosso interesse até certo ponto, o verdadeiro chamariz de Unicorn Overlord está na sua jogabilidade, onde um viciante ciclo de progressão satisfaz desde o início até ao fim. Após as primeiras horas exploramos com liberdade o mundo que rodeia Alain e companhia, concluindo pequenas demandas secundárias, desoprimindo cidades e utilizando diversos recursos para complexificar as mecânicas de jogo, como aumentar o número de unidades numa formação, ou a quantidade de esquadrões disponíveis.
Isto, em conjunto com o enredo, empurra-nos de objetivo em objetivo, fazendo do sistema de progressão de Unicorn Overlord robusto e recompensador, com amplas oportunidades, em cada batalha, de aumentar a intensidade estratégica, meticulosamente preparando as táticas adequadas para enfrentar cada desafio. Compreendo que isto soe bastante a letra de caixa de chá, mas a verdade é que cada escolha, seja ela em prol da narrativa ou da jogabilidade, tem (quase) sempre um impacto gratificante.
Inerente à jogabilidade, tanto do overworld como das batalhas, é o expansivo e experimental sistema de esquadrões suprarreferido com duas fileiras, cada um composto por até cinco unidades, com o início da aventura a limitar a quantidade para ambientar o jogador neste sistema. Dito isso, todos os membros da Liberation Army têm uma profissão associada a si, como Thief (ladrão), Knight (cavaleiro) ou Soldier (soldado; entre outros), carregada de pontos fortes e fracos, habilidades passivas ou ativas e, graças a esta mecânica, a possibilidade de adotar um estilo de jogo próprio torna-se realidade. Claro que, como todos os RPGs táticos, existe sempre uma unidade ou outra dentro de uma profissão com mais capacidade do que a outra.
Posto isso, referi anteriormente que o enredo enriquece por culpa do elenco que o compõe, e isso acontece por via das influências em Fire Emblem. Quando um esquadrão é construído, fica importante considerar com quem emparelhar as unidades. Isto porque, enquanto as unidades lutam ou tomam refeições juntas, cresce um relacionamento entre elas, onde cada marco pode ou não desbloquear um evento especial entre cada e aumentar as suas estatísticas passivas de batalha quando juntas.
Contudo, todo este complô de mecânicas, expostas logo desde o início do jogo, podem amedrontar até os mais versados no gênero, com tutoriais a saltar às pupilas dos jogadores frequentemente devido aos múltiplos conceitos a considerar. Isto carrega consigo uma consequência inevitável; demasiados conceitos e mecânicas introduzidos e o videojogo, mesmo com vários graus de dificuldade disponíveis, deixa de ser acessível, especialmente para quem gosta de fazer pausas longas entre sessões. No entanto, em contrapartida, Unicorn Overlord tenta amenizar a experiência e a learning curve com uma introdução gradual destas questões, encontrando sucesso até certo ponto.
Por outro lado, não obstante serem eye-candy impressionantes nas primeiras dezenas de vezes, as batalhas são repetições de espetáculos visualmente monótonos. Contudo, a sua utilidade destaca-se quando o resultado dá para o torto, e como estas decorrem por uma certa ordem, dependente da initiative (iniciativa; estatística mais importante) de cada unidade, vale sempre prestar muita atenção ao flow das tropas para perceber onde, taticamente, pode ser melhorada a estratégia, relembrando que qualquer uma pode ser personalizada com uma lista de ações à lá Gambit de Final Fantasy XII aqui denominado como Tactics.
Felizmente, Unicorn Overlord também introduz algumas opções de acessibilidade referentes à jogabilidade. Por exemplo, não só é a dificuldade geral ajustável entre 4 opções, mas também consegue-se acelerar a cadência das batalhas ou ultrapassá-las por completo antes de estas sequer acontecerem, útil para quando já é conhecido o desfecho. Outros menus, como um histórico do diálogo ocorrido, ou um arquivo que relembra eventos anteriores, assim como uma secção que cobre vários elementos do mundo são ajudas preciosas para quem perde o norte facilmente.