Em 2023, The Conjuring – A Evocação completa 10 anos desde que abriu as portas para um novo universo cinematográfico de Terror em torno dos Warren.
Contando já com 8 filmes realizados (três principais e os restantes Spin Off), muitos dos elementos são retirados de casos e pormenores que realmente existiram e ainda hoje objetos de todo o tipo são guardados no museu verdadeiro.

Os filmes principais (se é que possamos agora chamar de trilogia The Conjuring por enquanto) sempre transmitiram que cada caso era baseado em factos verídicos, e inclusive durante os créditos de cada filme é mostrada uma gravação de áudio real, acompanhada por fotos, tudo retirado da época em que estes casos aconteceram de facto. Cada filme do The Conjuring é baseado num caso real, e vou falar um pouco cada um deles e alguns outros elementos à sua volta como a boneca Annabelle.

Numa última nota importante, é claro que os filmes tomam algumas liberdades criativas para terem uma estrutura mais cinematográfica na narrativa, mas a base está lá. Por isso há vários elementos que foram criados exclusivamente para os filmes.

1 – O caso da Familia Perron que inspirou The Conjuring – A Evocação (2013)

0 primeiro filme da saga lançado em 2013, e com James Wan na cadeira de realizador, foi baseado num caso dos anos 70.

Roger e Carolyn Perron eram um casal com cinco filhas chamadas Andrea, Nancy, Christine, Cindy, e April que compraram uma propriedade antiga situada na cidade de Harrisville em Rhode Island que já tinha passado por oito gerações da família anterior.

A casa era grande e continha até 14 quartos que serviam bem para a família Perron porém o que lhes foi ocultado é que a maior parte dos moradores antigos tinham morrido naquele terreno de formas diferentes e inclusive dois deles enforcaram-se.

Uma das fotos da familia Perron mostradas nos créditos finais de The Conjuring - A Evocação
Uma das fotos da família Perron mostrada nos créditos finais de The Conjuring – A Evocação

Com um reportório tão grande de tragédias anteriores e com uma sensação pesada dentro da propriedade, rapidamente os Perron começaram a vivenciar situações estranhas durante o dia a dia.

Não só alegavam que vários objetos moviam-se levemente como camas ou vassouras e outro tipo de situações parecidas, como as filhas começaram a ver espíritos a vaguear pela casa assim como os pais mais tarde. Durante várias noites, as filhas iam a correr para o quarto dos pais assustadas alegando que ouviam vozes nas paredes. Alguns espíritos eram inofensivos e simplesmente circulavam pela casa mas outras manifestações começaram a ser mais agressivas.

Foi então que o casal decidiu entrar em contacto com os Warren para fazer uma investigação pela propriedade, pois alguns dos fenómenos estavam a começar a preocupar seriamente a família e uma assombração em especial.

Identificada como uma entidade chamada Bathsheba (uma alma esquecida de Deus), é dito que era uma mulher chamada Bathsheba Sherman que viveu na propriedade no séculos XIX que constava estar ligada à religião satanista e à bruxaria.

Para além de satanista, foi acusada também de ter assassinado um bebé aos seus cuidados apesar de não ter havido provas em concreto, mas supõe-se que foi para honrar e dar de presente a Satanás.

Ed e Lorraine suspeitavam que a presença maligna de Bathsheba tinha possuído Carolyn Perron que já exclamava que era torturada pela mesma e foram feitas algumas sessões espirituais.

Uma das filhas, Andrea Perron, escreveu ainda alguns livros que explicam detalhadamente as várias situações que a família enfrentou, e recorda que a pior noite da vida dela foi quando pensou que a sua mãe ia morrer. Andrea teria ouvido a mãe a falar num registo diferente e numa língua desconhecida sendo também atirada violentamente para outro compartimento da casa.

O caso não foi resolvido pelos Warren mesmo tendo acompanhado a família durante muito tempo, e mais tarde a familia Perron conseguiu mudar-se em 1980.

Podes ainda encontrar à venda os vários volumes de House of Darkness House of Light escritos por Andrea Perron no site da Wook aqui.

2 – “Poltergeist de Enfield” que inspirou The Conjuring 2: A Evocação (2016)

Os vários eventos ocorridos na Nº112 na Ocean Avenue em Amityville localizada nos EUA por volta da década de 70, geraram a criação de vários conteúdos inspirados desde livros e romances como Horror em Amityville escrito por Jay Anson em 1977 entre muitos outros.

Também no campo da sétima arte inspirou dezenas de filmes à volta com o titulo Amityville (podemos considerar quase como um franchise) até hoje e inclusive documentários.

Começo por mencionar Amityville porque The Conjuring 2: A Evocação começa com os Warren a investigar um dos casos que se passou nessa zona e que acaba por servir de prólogo ao filme mesmo que hajam dois casos distintos entre si.

Considerado como um dos crimes mais violentos na época dos Estados Unidos, na madrugada de 13 de Novembro de 1974 a família Defeo foi violentamente assassinada por Ronald Joseph DeFeo Jr., o filho mais velho.

As vitimas foram os pais Ronald DeFeo Sr e Louise DeFeo, junto com os seus irmãos mais novos Dawn, Allison, Marc e John que estavam a dormir.

Ronald foi considerado culpado depois de descobrirem o massacre dentro de casa e levado a julgamento, que mesmo confirmando as suas acções de forma lúcida, mais tarde começou a tentar mudar alguns detalhes na história como o envolvimento de Dawn nos assassinatos mas nada passou de tentativas falhadas nunca comprovadas.

Mesmo estando condenado até hoje, a 6 sentenças de prisão perpétua e estar provado que tinha transtorno de personalidade desde infância, bem como estando envolvido com drogas e episódios de agressividade, o mesmo afirmou que muitas vezes ouvia vozes e que elas o tinham convencido a cometer esse crime.

Mais tarde a casa foi vendida para George e Kathleen Lutz , que tinham conhecimento da tragédia ocorrida mas decidiram mudar-se na mesma, e ainda chamaram um padre para benzer o local, por forma a espantar energias negativas ou possíveis assombrações como haviam em certos boatos sobre Amityville depois do ocorrido.

Não durou mais de 28 dias desde a mudança dos Lutz para começarem a vivenciar algumas coisas estranhas na casa, tais como George acordar subitamente de madrugada muitas noites às 03:15 certas, que coincidia com a hora que o massacre anterior começava ou a filha pequena começar a falar com uma “amiga imaginária”. Kathleen também sofreu alguns episódios da sua cama levitar inclusive e o filho mais velho sofreu um acidente com a sua mão sendo esmagada por uma janela.
Os Warren decidem então visitar a casa para encontrar evidências de presença maligna face aos acontecimentos violentos provocados por Ronald Joseph DeFeo Jr, tudo isso claro depois dos Lutz saírem da casa.

Um dos registos fotográficos mais misteriosos que o casal conseguiu captar foi a foto de um menino espreitando por uma porta ao fundo na escuridão. Consta que pudesse ser um dos filhos que foi vítima de Ronald, pois naquele momento não se encontrava nenhuma criança viva dentro de casa nas investigações.

No filme esse momento também é retratado na primeira parte quando Lorraine através da sessão espiritual encontra-se no andar de cima da casa e depara-se com o menino. Podem ver as duas imagens abaixo tanto do registo real como da cena do filme:

Para mim dentro dos três principais, este continua a ser o melhor filme e novamente recordo que nem tudo o que acontece é real. Sendo que teve algumas adições e liberdades artísticas como a introdução do Demónio Valak (mais conhecido pela Freira) para deixar com um olhar mais cinematográfico.

De seguida, passamos então para o caso principal de The Conjuring 2, o Poltergeist de Enfield.

Na década de 70, uma mulher solteira de 40 anos chamada Peggy Hodgson vivia  tranquilamente com os seus quatro filhos Janet, Margaret, Johhny e Billy em Enfield.

Diferente da situação do caso anterior dos Parron, aqui esta família não se tinha mudado para lá, mas coisas estranhas começaram a acontecer aos poucos.
Tudo começou na noite de 30 de Agosto de 1977 quando Peggy ao descer as escadas da casa após deitar os seus filhos, começa a ouvir gritos e pedidos de socorro com duas das crianças exclamando que as suas camas se tinham movido.

A situação repetiu-se na noite seguinte com Peggy a descer as escadas e a ouvir barulhos estranhos novamente pela casa, mais tarde chegou à conclusão que alguma coisa se passava quando algumas mobílias pareciam realmente ter mudado de lugar.
Após recorrer à policia, o que não teve grande efeito, Peggy pediu ajuda à Igreja contra as supostas assombrações o que acabou por depois também chamar a atenção da Imprensa, o que se tornou conhecido a nível mundial como “O Poltergeist de Enfield”.

Ao contrário do filme, Ed e Lorraine apesar de terem sido chamados para visitar a casa e determinar as origens dos fenómenos, quem realmente esteve envolvido de forma grande neste caso foi Maurice Grosse (que também aparece no filme interpretado por Simon McBurney).

Maurice que era um famoso investigador britânico do paranormal e era membro da Sociedade de Investigação Psíquica, passou muito tempo na casa tendo afirmado que gravou várias evidências tanto em vídeo como áudio de situações à volta da suposta presença do Poltergeist.

Maurice alegava ter presenciado diversas situações de coisas a mexerem-se sozinhas e especialmente à volta da pequena Janet que é um detalhe interessante porque em The Conjuring 2 o mesmo acontece e com uma famosa cena de cruzes pregadas na parede inclusive (uma cena feita exclusivamente para o filme).

Apesar de haver sempre pessoas céticas quanto a este tema, várias fotografias foram registadas na época e fizeram capa de jornal e até hoje continuam disponíveis facilmente na internet. Algumas fotografias podem ser suscetíveis aos mais sensíveis e mostram Janet a flutuar, e mesmo que muitas pessoas acreditem que ela estava simplesmente saltando, a família confirma que presenciou ela a ser levantada e possuída.

De entre algumas sessões espirituais a tentar comunicar-se com o Poltergeist e afirmações da pequena Janet que ouvia uma voz, Maurice soube que se tratava de um antigo dono da casa chamado Billy Wilkins que tinha falecido aos 77 anos de uma hemorragia cerebral sentado na cadeira da sala. Através de eventual comunicação esta informação teria sido dita pelo próprio falecido que também se considerava como um fantasma.

Os estranhos fenómenos deixaram de acontecer em 1979 mas ainda assim até hoje, não há concretamente provas cientificas do que aconteceu. Numa última nota, numa das visitas dos Warren à casa, foi registado em fotografia num dos compartimentos da casa, um menino ao fundo na escuridão com os olhos a brilhar. Em The Conjuring 2, esse momento também é retratado claro que de uma forma mais cinematográfica, mas consta estar relacionado com o massacre que houve em tempos atrás em Amityville e que serve também de inicio para o filme como falei atrás.

Numa última nota, os casos reais que inspiraram The Conjuring e The Conjuring 2 têm mais alguns detalhes e pormenores pelo meio mas estas são as bases principais. Podes encontrar facilmente hoje em dia mais registos fotográficos das situações que ocorreram e ainda os registos áudio no Youtube ou noutras plataformas.

No artigo seguinte irei falar sobre o caso que deu origem a The Conjuring 3: A Ordem do Diabo e algumas curiosidades à volta da boneca Annabelle e ainda Valak (o demónio de The Nun- A Freira Maldita e que foi introduzida em The Conjuring 2).

Ricardo Salavisa Simões
Cinéfilo, gamer, cosplayer e ainda adorador de praia, piscina e tudo o que envolva água, e cenas aquáticas ao mesmo tempo que é um louco por Studios Ghibli desde gaiato. Pretende um dia voltar a pegar numa prancha de Bodyboard e recordar outros tempos de preferência sem tubarões do Spielberg pelo mar.