Há algo de fascinante no universo vampiresco que domina o imaginário popular há séculos. Talvez seja o nosso fascínio pela imortalidade, sensualidade da espécie, ou talvez sejam os poderes sobrenaturais e a ambientação obscura muito característica.
Muitos desenvolvedores tentam trazer toda essa atmosfera para os videojogos, mas não tem sido uma tarefa fácil acertar em títulos cujo personagem é de facto um vampiro com todas as suas vantagens e desvantagens. V Rising, uma das mais recentes adições ao género, deixa-te assumir com toda a plenitude da função esse papel, e lutar pela ascensão ao poder.
V Rising conquistou o PC em 2021, e finalmente chegou às consolas PlayStation 5 e Xbox Series este ano, e os controlos funcionam surpreendentemente bem, como se da versão nativa se tratasse. Mas engane-se quem pensa que este é apenas mais um jogo de vampiros mal-executado. Além de cumprir de forma excepcional a entrega de toda a atmosfera vampiresca da cultura pop, combina também elementos de RPG de acção, construção de bases, e sobrevivência, e entrega uma experiência muito única, principalmente jogando no modo pvp online.
Comecemos pelo lore, que, a meu ver, é extremamente mal aproveitado. Após uma cinemática e logo imediatamente a criação de um personagem de personalização básica, despertas na pele de um vampiro enfraquecido sem memórias, num mundo pós-apocalíptico, séculos após uma guerra cataclísmica entre vampiros e humanos. Os humanos venceram a guerra com ajuda da luz sagrada, que dizimou os vampiros, deixando a espécie frágil e sedenta por sangue.
O mundo de V Rising é dividido em diversas facções, cada uma com as suas características. Existem humanos que caçam vampiros, clãs rivais, e até criaturas monstruosas a povoar o mundo, e o desafio está todo lá no que toca a jogabilidade, mas pouco ou nada destas facções são documentadas, e o universo é mal aproveitado no que toca a narrativa, causando a impressão que estes são colocados ali com intenção de te magoar, e apenas isso.
Como já havia mencionado acima, V Rising combina elementos de diversos géneros, e terás aqui um simulador de vampiro real no que toca à sobrevivência. Tal como um vampiro, deverás evitar a luz do sol a todo o custo, e caso explores de dia, aconselho as cavernas ou lugares onde o sol não espreita, caso contrário morrerás muito rapidamente. O segredo é explorar e progredir no jogo durante a noite. Também precisarás de saciar a tua fome vampiresca, caçando vários tipos de raças e criaturas, algo que além de ser essencial para a tua sobrevivência, ainda te garante bónus únicos e habilidades de conforme o tipo de criatura e a pureza do seu sangue, ou seja; um animal com 10% de sangue puro vai-te dar menos bónus que um de 95%, naturalmente.
Para aprimorares não só as tuas habilidades como os equipamentos do teu vampiro, precisarás de erguer o teu próprio castelo, com recursos que irás farmando, como pedras, madeira, e por aí vai. É tudo muito intuitivo e a construção funciona muito bem. Todas as fundações encaixam, mais especificamente as paredes que falham em muitos jogos, e poderás personalizar ao teu bom gosto e criar lares impressionantes. Ao progredires na construção do lar, logo terás que refinar materiais e criar armas, armaduras, poções e itens poderosos para avançar na jornada.
A progressão é muito linear, e o ritmo pode ser desequilibrado em alguns momentos, com algumas áreas do jogo parecendo demasiado fáceis, ou mais difíceis do que o esperado. Isto, porque o maior problema desta progressão é exactamente a falta de liberdade. As opções para diversificar a forma de progredir no jogo são extremamente limitadas, uma vez que o teu nível está puramente ligado ao equipamento que carregas. O foco principal está no grind de recursos e crafting, o que pode tornar a experiência repetitiva e chata em alguns bosses, causando a sensação muitas vezes que mesmo com o equipamento máximo para o nível, não o consegues derrotar sem alguns truques na manga e muito esforço que não o grinding por experiência. Isto tudo foi jogado no modo normal, portanto nem sequer quero imaginar como será o hardcore.
O jogo conta com diversas árvores de habilidades interligadas, cada uma com foco em diferentes estilos de jogo e poderes vampíricos. Algumas habilidades de combate podem ser oportunas em certos bosses, mas para os npcs habituais o que aconselho é escolheres a que mais te familiarizas com os comandos. O jogo passa muito essa impressão de te querer quase obrigar a experimentar essas combinações, e o segredo é exactamente esse, experimentar diferentes combinações até encontrar a estratégia perfeita para dominar alguns bosses.
Também estão presentes no jogo mais familiaridades que vemos na cultura pop, como skills vampíricas de teletransporte, controlo mental de outros humanos que poderás aprisionar, manipulação de sombras, transformação em animais como lobos, ratos e ursos para progredir em certas partes do jogo, e muito mais.
Os servidores PvP dedicados são a dose de adrenalina certa para quem procura uma experiência a todo o gás. Neste modo, o perigo espreita em cada esquina e é a verdadeira arte vampírica da coisa. Estes servidores, tal como o anglicismo indica, são projetados para batalhas jogador vs jogador intensas, onde a sobrevivência depende não só da habilidade, como também da astúcia e da capacidade de formar alianças. Podes invadir castelos de outros jogadores, saquear os seus recursos e até roubar e derrubar o castelo. É um modo cruel e punitivo, com a morte como significado de perda de progresso e recursos, mas é esta a verdadeira proposta do título, e a tensão certa para estar na pele de um vampiro. O que aconselho é começar no PvE até atinares com as mecânicas básicas do jogo e a aprender a sobreviver no mundo e sobretudo a mexer com a arte do crafting, mas depois disso, podes e deves aventurar-te no PvP. Uma pequena nota: os jogadores de PC não conseguem jogador com os jogadores de consolas, mas aqui confesso que me agrada, pois a vantagem de comandos no PC é significativamente maior.
O estilo artístico de V Rising é muito bem escolhido, e mesmo com a proposta de visão isométrica, o jogo é belíssimo, com a construção de estruturas góticas e sombrias e um mundo bastante atmosférico. Cada local que vai abrindo no enorme mapa do jogo possui um estilo arquitetónico muito singular, e é um deleite para os olhos poder sentir a representação de quem é verdadeiramente fã destes sugadores de sangue. Existem diversos locais, como florestas, montanhas, pântanos, e cada bioma conta com a sua própria flora. É sem dúvida um dos pontos altos do jogo e convida à exploração.
Os componentes sonoros também ajudam na imersão, tanto pelos seus efeitos sonoros sombrios, como pela soundtrack original, composta pela Aleksandria Migova. Esta é uma banda sonora que mistura orquestra, coros épicos e sintetizadores que complementam de forma quase perfeita a temática vampírica. Tem sido uma banda sonora que me tem acompanhando nos dias de trabalho, em especial a faixa Farbane Nights que dá uma vibe muito sombria e misteriosa.
Um agradecimento à Keymailer por nos ter cedido uma chave para análise na plataforma Playstation 5.