Directamente da Escócia, chega-nos um dos indies mais aguardados deste Verão! Viewfinder apresenta-se como um jogo de resolução de puzzles que te faz abrir o cérebro a novas perspectivas criativas. Este tesourinho da SOS Games surge de mansinho e chega-nos com um estrondo através da Thunderful Publishing!
Começo logo esta análise por afirmar que, se tenho ao longo destes anos em que vos escrevo, registado quais foram os indies que me marcaram mais pessoalmente a cada ano, este é um forte candidato para ocupar o lugar de 2023. Uma lista interessante de experiências diferenciadas mas profundas a que se junta Roki (2020), Eastward (2021), Stray (2022), com a característica comum de que são ótimos calmantes para quebrar quaisquer enjoos do ritmo frenético dos AAA.
Viewfinder, de facto, apresenta-se assim, preenchendo todas as caixas comuns a estas experiências que procuro entre a torrente de jogos que saem ao longo do ano. Há sempre um jogo que se destaca pela sua agradável surpresa, e este convida-nos mesmo a entrar, sentar e relaxar. Desfrutem da paisagem, ao passo que decodificam puzzles que vos desafiam a ser criativos com as soluções. Puzzles estes que mexem com a perspetiva dos cenários e com a configuração do mapa de cada nível de uma forma visualmente inteligente.
O conceito e mecânica principal deste jogo é bastante simples em teoria: pegar em fotografias impressas, manipulá-las pelo espaço tridimensional em que nos encontramos, deixá-las ganharem vida e moldarem novos caminhos pelo mapa do nível. Parece simples, sim, na teoria, mas na prática é de uma engenharia brilhante e nada fácil de se programar! No entanto, a equipa da SOS Games teve momentum para se dedicar a concretizar esse sonho de mecânica e fê-lo de forma irrepreensível.
De facto, o que mais dizer senão que Viewfinder é inspirador. Se eu voltar algum dia a lecionar num curso de videojogos, podem ter a certeza que irei passar aos meus formandos este exemplo de simplicidade de fórmula que acerta e se reinventa sem muito inventar. Como quem diz, sabe onde está a ser bem sucedido, e é competente a garantir que, do início ao fim, a experiência não desce abaixo da fasquia e nem tenta estender-se para além do que procura.
Em termos de jogabilidade, navegamos por uma história que se divide em cinco secções que marcam biomas ligeiramente diferentes. Cenários que parecem parados no tempo, de onde irrompe flora entre as pedras, vazios, mas com aquela sensação de que por meros instantes não nos cruzámos com quem lá viveu.
Algo inesperado é o enredo que, a início, não se encontra muito presente na experiência do jogador, mas aos poucos, em doses minunciosas, abre passagem entre estes cenários vazios e abandonados, como que se de uma leve aragem se tratasse.
Apesar de não termos inimigos, e portanto não existir sistema de combate, não nos sentimos sozinhos. De todo, estamos muito bem acompanhados. Seja pelo doce CAIT que nos guia em cada cenário e cuja relação connosco vai evoluindo, seja por Jessie, através de um intercomunicador e linha telefónica, a garantir-nos que tudo está a correr mal e temos de seguir, claro; seja também pelas mais variadas gravações que podemos ouvir do testemunho dos habitantes originais destes espaços que percorremos. O tom é de nostalgia e esperança, no meio da desolação, e incita-nos a seguir a marcha para uma mensagem belíssima que se constrói nível a nível como um passadiço de pedra por atravessarmos.
Em termos de puzzles, nada mais relaxante do que saber que novas mecânicas são apresentadas em cada bioma, reinventando o conceito do jogo, como que a brincar consigo mesmo e todas as possibilidades que o mesmo abre. No entanto, a dificuldade está no ponto, mantendo sempre este nível de nem extremamente fácil, nem difícil ao ponto de corromper uma experiência agradável. É leve, é ligeiro, é relaxante e agradável em todo o seu tom.
O jogo, em termos de mecânicas, oufere de várias, entre as fotografias que distorcem os cenários, a complexos puzzles que te levam à máquina de teletransporte para o próximo nível. Pelo caminho, podes encontrar engenhos que requerem baterias, som e, entre outras coisas, vais descobrir que nem tudo é possível de ser reproduzível através de uma boa fotografia.
Visualmente, Viewfinder demonstra-se simples: nada de realismos, a roçar mais o lado cartoonista. Contudo, e consoante progrides, vais aprender a apreciar a forma como esta equipa de desenvolvimento brincou com cores, filtros, perspectiva, ilusões de óptica, cultura geral… Enfim, toda uma cadeira artística onde passam com distinção.
Fico com tanta vontade de ver esta experiência expandir-se que não é de admirar que a comunidade já anseie por um modo onde cada jogador possa criar os seus próprios níveis e partilhar. Veremos se a ideia pega…
Ainda em termos visuais, salienta-se a abordagem a tons mais sonhadores dos magentas e azuis clarinhos, aos tons mais amarelos e agradáveis à vista. Há, contudo, de referir que se, como eu, fazem parte do 0,0001% da população que sofre de melanoheliofobia (fobia de buracos negros), vão ficar desconfortáveis num certo momento.
Viewfinder está disponível para PlayStation 5 e PC, para Steam.