Para os entusiastas ou conhecedores do universo Warhammer não serão necessárias apresentações. Para os curiosos ou que não conhecem um dos wargames mais famosos da história dos jogos de tabuleiro, vão passar a conhecer um pouco agora.
Warhammer é um Wargame, isto é, um jogo de guerra com miniaturas criada pelo Games Workshop em 1983 e inspirado em batalhas medievais. O jogo é simples: criámos um exército (e tendo em conta que cada unidade tem um custo e temos que cumprir o limite de pontos por cada exército) e tentámos derrotar o exército adversário num campo de batalha, simulando mesmo uma guerra. As batalhas são determinadas não só pelas habilidades de cada tropa, como também do lançamento de dados para cada ação.
O livro de regras foi sofrendo alterações ao longo dos anos para poder acompanhar as novas unidades que saíam, e em 2010 saiu a sua última versão (8ª edição) e não recebeu mais livros de regras suplementares em 2015. A Games Workshop decidiu parar de lançar mais unidades para o Warhammer e nesse mesmo ano o jogo “reapareceu” com cara nova e que ainda está no ativo: o Warhammer: Age of Sigmar.
A popularidade do Warhammer é tão grande que tem lojas oficiais espalhadas pelo mundo e tive o prazer de visitar uma dessas lojas na Irlanda e presenciar uma espetacular batalha de Warhammer 40k entre Humanos e Orks.
Antes de avançar com o resto da história, tenho que dizer que já tenho alguma experiência de Warhammer, especialmente do 40k, e fiquei assustado quando um amigo meu há uns anos atrás apareceu num encontro de jogos de tabuleiro com a versão mais recente de livro de regras que tinha saído na altura do Age of Sigmar e ter reparado que tinha mais de 800 páginas, em que quase metade desse livro é só sobre as unidades e cenários de Skirmishes.
O IP do Warhammer foi evoluindo ao longo dos anos e tem saído vários spin-offs que fez enriquecer o universo Warhammer, como por exemplo, o Necromunda ou popularíssimo Blood Bowl (que é um dos meus jogos favoritos e existem campeonatos por aí fora, até em Portugal). Para esta análise, vou focar num outro universo espacial, mais sombrio e violento que é o Warhammer 40,000.
O Warhammer 40,000 é tal e qual como o Warhammer, mas, como o nome indica, passa no futuro distante onde a civilização humana estagnada é constantemente atacada por alienígenas e seres sobrenaturais. Neste caso, vou falar sobre um dos mais recentes jogos deste universo: o Warhammer 40,000 Darktide.
Desenvolvido e publicado pela Fatshark, este jogo é considerado o sucessor espiritual de um outro jogo do universo Warhammer, o Warhammer: The End Times- Vermintide.
O jogo começa na nave-prisão Tancred Bastion, onde a nossa personagem está detida por um crime que nós determinamos na criação de personagem. Durante o transporte a nave é atacada pelos seguidores do Deus do Caos Nurgle. É aqui que o jogo começa, onde explica os básicos e algumas habilidades que podemos fazer no jogo. Depois de salvarmos a Explicadora Zola e conseguirmos escapar na nave, Zola decidiu não executar a pena de morte à nossa personagem, mas sim recrutar-nos para a Inquisição, uma armada especializada em missões de alto risco.
Há bastantes coisas para cobrir aqui e vou tentar ser o mais direto possível. Para começar o jogo é 100% Live Service, ou seja, joga-se exclusivamente online e tem sempre suporte contínuo e conteúdo novo regularmente. Quando vi que tipo de jogo é deixou alguma apreensão porque não sou fã de jogos Live Service, mas ignorei esse facto uma vez que o jogo se trata de um Squad First Person Shooter. Resumidamente, vamos a missões com um esquadrão de 4 soldados, mas se não quisermos esperar pelos 4, podemos ir a solo ou a 2 ou a 3 que o jogo encarrega de preencher as lacunas com bots.
Sobre o grafismo do jogo, tenho que dizer que os mapas estão ricos de pormenores. O ambiente está muito imersivo e é claramente um dos pontos fortes do jogo. O ambiente é negro, violento, e no tempo que tenho jogado, não tenho encontrado qualquer tipo de falha gráfica. Aqui tenho que dar pontos à Fatshark pela enorme dedicação e atenção ao detalhe que deram ao jogo.
A começar pela criação da personagem, temos várias opções de customização. Temos quatro classes: Veteran, Zealot, Psyker e os gigantescos Ogryn. Cada classe tem as suas vantagens, desvantagens, habilidade única, Blitz (habilidade secundária), Aura e as armas únicas. A personalização é vasta, como escolhermos o nosso planeta mãe, descrever a nossa infância e adolescência ou o momento em que mudou a nossa vida. Tudo isso vai influenciar o rumo da história no início, e certas linhas de conversa variam com o nosso passado e crime que fomos acusados.
Infelizmente, é só isso que faz porque no geral essas escolhas não vão influenciar a história que entra numa espécie de “modo automático”. Até ao momento em que estou a escrever esta análise, pelo que li e percebi é que a história está inacabada e que têm sido acrescentadas novas partes da história através das constantes atualizações e tem sido uma das maiores críticas da comunidade à Fatshark.

Depois da escaparmos de Tancred Bastion é o que o jogo começa verdadeiramente. Os níveis aqui são chamados de Trust Level por razões do lore e da história do jogo. Antes de tudo, explicar que cada vez que subirmos de Trust Level teremos acesso a mais sítios na estação Mourningstar, além do acesso a armas mais poderosas e eventualmente a contratos para missões ainda mais perigosas.
Contamos com a arma primária (armas de fogo que vão desde à clássica Autogun até à icónica Boltgun), arma secundária (armas de mão como martelos ou a clássica e icónica Chainsword) e os Curios. Os Curios são itens que dão um passivo específico dependendo da classe que temos. Todas as armas e Curios podem ser compradas no Armoury Exchange.
Para além do acesso a sítios e armas, quando se sobe de Trust Level avança também com a história um bocado, além de ganharmos pontos para gastar nos talentos (que tem uma árvore diferente para cada classe) e mestrias. Nas mestrias desbloqueamos bónus das armas que usamos nas missões e o XP ganha-se com a morte dos inimigos com essas armas.
Temos a total liberdade de escolher a missão que queremos no terminal, mas temos que ter em conta os vários fatores: as missões têm tempo limite para aceitarmos, o nível de perigo, o tipo de missão (que vai de reconhecimento a assalto), condições e eventuais missões secundárias que dão recompensas extra no fim. No fim de cada missão bem sucedida recebemos as recompensas e XP de acordo com o nosso desempenho na missão (na verdade a missão tem um XP fixo mas o desempenho dá pontos bónus).

Como qualquer outro FPS temos a vida, o escudo e a estamina. Convêm realçar este três aspetos porque são importantes para as missões. O escudo quando leva dano vai diminuindo mas pode regenerar após alguns segundos. A vida é mais importante: não só como se perde vida com dano, também podemos sofrer com corrupção. A corrupção faz limitar o limite máximo de vida que temos e também sofremos com a corrupção cada vez que formos feridos ou se algum companheiro da equipa recuperar-nos.
A corrupção pode ser eliminada e a vida recuperada com uso de estojos médicos ou estações médicas que aparecem eventualmente nas missões. A estamina tem vários usos como correr e alguns outros comandos. No caso de armas de mão a estamina é usada para ataques pesados com a arma, bloco com a arma e o respetivo contra-ataque, e se ficarmos abaixo do custo da estamina dessas ações, não podemos usar essas ações.
Uma coisa que gosto bastante do jogo são alguns momentos das missões. O jogo dá uso total do ambiente e consegue proporcionar momentos de tensão. Exemplos disso é defendermos o espaço que estamos das hordas de inimigos ou matar inimigos maiores. Dá aquela sensação que estamos perante uma missão quase suicida e que temos de lutar pela nossa vida para sobreviver desse momento tenso.

Para ficarmos bastante entretidos com o jogo temos várias tarefas, os Penances que são objetivos e contratos do Requisitório que são objetivos semanais e que mudam semanalmente, mas as únicas recompensas que compensam e que não compensam ao mesmo tempo são as do Requisitório, e não compensam porque são para converter para cosméticos. Aliás, as recompensas sem ser por missões são só cosméticos e aqui foi uma das grandes falhas do Fatshark e uma das maiores críticas da comunidade.
Tenho que apontar também que em uma ou duas situações o matchmaking ou falhou ou demorou a encontrar colegas de equipa, e mais bizarro ainda, durante uma missão e quando fiquei ferido, fui inexplicavelmente desconectado e que acabei por conseguir voltar e resumir a missão.
O som do jogo está ao nível dos mapas. Quando chega as partes das hordas ou quando for para escapar, a música capta aquela tensão que todos nós gostamos quando vemos um filme de ação. Não tenho nada a apontar neste departamento e só elogiar o ambiente sonoro do jogo que está mesmo bom.
Resumidamente, e dizendo de uma forma simples, o Warhammer 40,000 Darktide é um fantástico jogo FPS mas com um terrível Live Service. Se formos ignorar todos os problemas que o jogo tem, podemos ver claramente que o jogo está bem conseguido e com boa jogabilidade como manda deste tipo de jogos.
Warhammer 40,000 Darktide encontra-se disponível para Xbox Series, Steam, PS4 e PS5.