O sucesso que a Nintendo teve na sétima geração de consolas é incontestável. Num total combinado de mais de 250 milhões de máquinas vendidas, a dupla Wii e Nintendo DS, foram irreverentes e revolucionárias, não em poder bruto de hardware – como vinha sendo comum na indústria -, mas sim na forma como vieram a desconstruir como se jogava videojogos até então.
Mudando o paradigma, a Nintendo conseguiu a proeza de revitalizar algumas séries que já se tinham afirmado. Com base na estratégia de entregar ao mercado novas formas de se jogar, toda uma nova abordagem de criação de videojogos se gerou em redor disso, sobretudo com o Wii Remote – o revolucionário comando remoto sustentado com tecnologia de acelerômetros, mantendo-se inclusive até hoje uma tecnologia viável, com capacidade de entregar propostas frescas, dinâmicas e de uma fertilidade quase infinita de criatividade.

Dentro do lote de séries que vieram a beneficiar com a viragem de estratégia de mercado da Nintendo, encontra-se WarioWare, que regressa agora com WarioWare: Move It!, de forma a tirar partido dos Joy-Con, depois de anos de experiência, de aperfeiçoamento, de intimidade com o desenvolvimento de mecânicas de jogos com movimentos. E WarioWare: Move It! traz tudo o que a série já nos habituou até então: direcção de arte singular, ideias fora da caixa, uma quantidade alucinante de microjogos, uma história bizarra, e, sobretudo, em contar como a aposta perfeita no momento de escolher o jogo certo para animar uma festa.
Ao contrário do título anterior, que consta igualmente no catálogo da Nintendo Switch – Get It Together!, WarioWare: Move It! só pode ser jogado com recurso aos Joy-Con, o que embora seja uma escolha válida, é uma opção que acaba por limitar toda a proposta aos comandos por movimentos. O lado bom, é que a forma como o jogo foi pensado e montado – tudo encaixa perfeitamente como uma proposta consistente. Os comandos funcionam bem, há precisão na maioria das vezes que o jogador é chamado a interagir com os Joy-Con, e a deteção de movimentos é do melhor que existe na indústria – existindo igual rigor para jogadores destros e canhotos.

Com uma ampla oferta de mais de 200 microjogos disponíveis, que levam o jogador do 8 ao 80 num simples estalar de dedos, em tarefas como desentupir uma sanita num curto espaço de tempo, simular fazer o movimento de algas para evitar ser triturado por um terrível tubarão, movimentar o bico de uma ave e comer minhocas, cortar legumes com precisão ou deslocar locomotivas e fazê-las parar no ponto exacto – todas as propostas dadas ao jogador são loucas, hilariantes e totalmente impressíveis, tal como vem sendo comum em jogos da série WarioWare.Porém, Move It! traz os movimentos de volta: as poses engraçadas que o jogador terá de imitar, dançando, mexendo os braços, esperneando, e tudo o que estiver ao seu alcance para sair com sucesso de cada microproposta.
WarioWare: Move It! traz dois modos de jogo: o modo de campanha que pode ser jogado a solo ou juntamente com outro jogador, e o modo Party pode juntar num total de quatro jogadores em simultâneo. O modo de campanha é acompanhado com uma história bizarra – onde Wario é obviamente o grande protagonista -, e pode ser terminado em pouco menos de 5 horas. Dentro deste modo, o jogador vai percorrendo uma selecção de níveis que consistem em enfrentar várias hordas de microjogos, e que feito, enfrentará um chefe, onde é convidado a pôr em prática todas as mecânicas que o jogo lhe ensinou durante aquele estágio.

Embora com uma história ridícula – que não deve ser levada a sério, pela sua inconsistência e com o único propósito de fazer rir os jogadores -, a campanha é acompanhada com animações hilariantes, sob uma direcção de arte que tanto pode apaixonar quem o visualiza, como proporcionar o contrário, dado à sua singularidade visual. Ainda assim, convém reforçar que o detalhe de cada sequência de animação, sobretudo as músicas, os sons que formam não só cada segmento dos microjogos, como também as apresentações de cada etapa da narrativa, onde todos os elementos juntos, encaixam de forma minuciosa e subtil. O único problema, é que a campanha é curta, sendo uma espécie de catálogo de instruções, e após ser terminada, não há mais razões para se lá voltar.
WarioWare: Move It! volta a ter o mesmo problema dos títulos anteriores: a sua rentabilidade. É mais um título que se esgota rapidamente, pensado para ser jogado em grupo, com pessoas diferentes, para alargar o seu tempo útil de novidade. Os mais de 200 microjogos são à primeira vista um número vasto de experiências, mas muitos deles resolvem-se em pouco mais de dois toques, e que muitas vezes se traduzem em pouco mais de 10 segundos. Ora, tudo somado, é óbvio que acaba por se traduzir numa experiência que se esgota muito rapidamente. WarioWare: Move It! está montado para ser vivido no momento, numa experiência só, e enquanto existir surpresas, o jogo destaca-se como nenhum outro, mas após ser desvendado, cai vertiginosamente de interesse.