Recentemente chegou à Squared Potato, pelas mãos da editora Bubok, a magnífica edição Deluxe de Weak. Esta trata-se da versão extensa do mais recente manga produzido inteiramente em português, e o primeiro livro publicado da mangaka Kachisou.
Kachisou trata-se de uma talentosa e premiada mangaka portuguesa que, ainda no seu início de carreira, tem se vindo a destacar pela sua jornada evolutiva, com trabalhos de belíssima qualidade e conquistas incríveis nos SMA (Silent Manga Auditions), os quais lhe abriram as portas para um curso intensivo no Japão, e para o acesso à melhor network de mangakas, editoras e artistas profissionais.
É importante referir que Weak surge, assim, como mais um marco no seu ilustre percurso, fruto da sua participação no concurso Universo Manga 2019, que decorreu em Portugal, com a co-organização da Bubok e da ptAnime. Não obstante, se és um grande fã de manga, ficarás também muito feliz em saber que Weak é totalmente desenhado ao estilo bem tradicional japonês, muito intrínseco no trabalho de Kachisou.
Dito isto, tenho de assumir que temos perante nós o perfeito casamento entre ambas as culturas.
Mas do que se trata Weak, afinal? Kachisou traça aqui uma antologia em torno do tema, que dá nome ao seu livro: Weak. Ou seja, aqui vemos abordado, em pequenas e curtas histórias, aquele sentimento de franqueza e impotência do ser humano… Aquele momento em que tudo parece perdido, e em que já só pensas, decidido, em baixar os braços e em desistir. E é aí que Weak intervém e procura mostrar-te que estás apenas a meio do caminho para concretizares algo muito melhor. A abraçares os obstáculos, e transformá-los em bases para uma experiência acrescida.
Kachisou procurou, através destas curtas histórias (A Tua Força, Amigos e Medo) traçar linhas motivadoras para os seus leitores e amigos que procuram o sucesso das suas próprias histórias de vida, travando diariamente o que parece ser uma longa e incessante batalha. E foi, efectivamente, este tema que me chamou à atenção, e me despertou a curiosidade em saber qual seria a abordagem da autora a algo que é tão desafiante e honesto de se representar, como a descoberta da resposta a questões como “Porquê continuar a lutar?”.
Weak, uma antologia irrepreensível
Neste ponto, Weak e as suas histórias conseguem mostrar-nos espectros diferentes dentro deste dilema. Por exemplo, ao passo que em A Tua Força procuramos crescer à sombra do nosso ídolo, em Amigos assistimos a uma fé inabalável de reencontrar-mos um velho amigo. Já em Medo, a minha história favorita nesta antologia, assistimos à conquista e superação de obstáculos criados por nós mesmos. Tudo objectivos a superar.
Esta última história, em particular, foi mesmo a que mais amei desta antalogia, apesar de cada uma ter um tema de fundo bem distinto, o que poderá apelar a leitores com gostos diferentes. Mas o mundo de fantasia foi sempre aquele que mais me fascinou e, em Medo, senti-me surpreendida pela forma genial e divertida com que Kachisou retratou o episódio do típico “bicho papão” com que todos crescemos a vencer nas nossas infâncias. Sem dúvida, uma história a partilhar com os pequenitos.
Gostaria imenso de ver esta história sair do papel para o pequeno e grande ecrã. Aqui fica a dica para os coleguinhas de Imagem Animada e restantes cursos semelhantes pelo país *wink *wink.
O seu tom leve e cómico, por exemplo, é completamente contrastado com a história mais pesada e crua de A Tua Força. Essa detém maior profundidade de enredo e desenvolvimento de personagens, e uma forte vertente de desporto com que facilmente qualquer praticante se irá identificar. No entanto, é em Amigos, que encontramos um meio termo, apesar de esta trazer-nos a história mais pesada de toda a antologia de Weak, a meu ver. O tema do abandono e da solidão, e da superação destes estados nesta história em específico, tem também um toque muito incomum que vai ficar cravado na memória. É de partir o coração!
Com mensagens e panos de fundo diferentes mas muito bem trabalhados, a única coisa que me deixou a desejar aqui foi a sua brevidade. Adorei o enquadramento e contextualização das histórias, mas senti que os desfechos foram um pouco apressados para o ritmo que a antologia necessitava para respirar. A Tua Força, por exemplo, faz-me sentir a necessidade de vermos um pouco mais da resolução do ponto de vista da personagem principal, no que toca à direcção que irá tomar.
Uma arte profunda e expressiva
No que toca à arte, Weak é uma obra soberba, com grande expressividade reflectida em cada painel, e uma direcção que detalha as acções e emoções que florescem das páginas. As personagens são imensamente afáveis, e logo queremos ajudá-las a ultrapassarem as suas dificuldades.
A trama dos cenários também está bem conseguida na minha opinião. É incrível a profundidade e o empenho da artista em criar fundos que cedo nos dão logo uma sensação de ambiente. Em certa parte, sinto neste traço uma aproximação ao estilo do estúdio Gibli, nomeadamente a Ponyo.
Material e diferenças entre formatos e edições
Weak é, de facto, um manga fantástico em termos de escrita e arte para adicionares à tua colecção – ainda por cima, sendo um produto nacional. Contudo, quero referir aqui um ponto algo “weak” na produção deste manga, que é, as suas edições em papel. Sendo compostas por papel de uma gramagem inferior, e com um tom amarelado em vez do branco, a qualidade do material deixa de facto assim um pouco a desejar.
As páginas mostram transparência, e revelam um pouco do que poderemos esperar ao virar da página. Mas lá está, este é um ponto fraco exclusivo dos formatos físicos deste manga, pelo que se optares por uma edição digital, ficarás muito bem servido. Aliás, na Squared Potato promovemos a consciencialização para o impacto das nossas acções no meio ambiente, pelo que é sempre a nossa recomendação optar pela versão digital.
É ainda de referir, que esta edição Deluxe, veio ainda com o bónus de uma entrevista à artista, que nos permite saber um pouco da jornada que a levou a esta obra final, bem como um pequena curta chamada Senta!. Uma pequena e hilariante história que me deu dores de barriga de tanto rir, devido ao chihuahua retratado nos painéis ser algo idêntico a um certo patudo que é cá da família, e igualmente cãofuso. No entanto não estava à espera “do plot twist”. Futuramente, seria um toque genial se a Kachisou acabasse sempre as suas edições com um episódio destes.
Um agradecimento…
Em última nota, quero deixar um agradecimento especial à Bubok por trazer ao mundo esta obra incrível da Kachisou, e pela oportunidade que permitiu à Squared Potato partilhar um produto nacional de grande qualidade contigo, e espero que mais projectos desta envergadura venham a surgir em contexto nacional. Espero, também, um dia, vir a ter a oportunidade de trocar impressões com a Kachisou e conseguir a sua assinatura nesta edição. Até lá, acompanharei o desenrolar do seu futuro promissor!
Weak já está disponível em formato físico e digital na sua versão standard, e igualmente a sua edição Deluxe também já está disponível em formato físico e digital, ambas na livraria Bubok! Aproveita esta oportunidade para apoiares uma artista portuguesa, e uma nova editora também ainda recente no mercado nacional.