O espaço sempre foi um tema que me entusiasmou, e, algo que não me entusiasma tanto, é a falta de videojogos que fiquem aquém das possibilidades e expetativas para um playground tão grande. Entre Star Citizen, No Man’s Sky, Elite Dangerous ou o destaque de hoje, X4: Foundations, encontramos bons produtos, mas que parecem sempre deixar um “e se?”. Claro que isto acontece em todos os géneros e o orçamento de cada equipa contribui bastante para o quanto podem fazer, o que me deixou bastante entusiasmada quando a Bethesda se lançou a Starfield, mas, todos sabem como essa história acabou.

Hoje cá estamos para mergulhar nos astros em X4: Foundations, que embora tenha alguns anos, tem vindo a ser moldado ao ponto de se distanciar à larga do produto original (também parece ser um tema nos jogos passados no espaço). Assim que entramos, e embora seja um truque já “gasto” para alguns, fiquei novamente embasbacada com a escala do universo. Ora, com esta escala vêm imensas histórias e aventuras, e em X4: Foundations, estas não se desenvolvem através de cutscenes, mas antes das interacções com o mundo como um todo.

X4: Foundations traz-nos, para além do famosíssimo modo sandbox, vários cenários iniciais, cada um oferecendo uma perspetiva e um conjunto de desafios diferentes. Quer começamos como um humilde comerciante ou um poderoso líder, cada início tem uma rota pré-definida, que se encontra rodeada de variáveis que irão compor e moldar a nossa viagem. O modo criativo (sandbox) permitiu-nos experimentar e explorar sem as habituais pressões ou ameaças económicas.

Lá começamos nós nos Ford Fiestas ‘94 das naves, agarrando toda e qualquer recompensa, ao mesmo tempo que vamos aprendendo a imensa rede de sistemas políticos e económicos que governam o espaço. A personalização da nave é uma delícia para quem gosta de passar horas a rever todos os pormenores para desfilarmos em estilo pelos astros.

A variedade de culturas traz consigo uma variedade de interações, que por sua vez traz uma variedade de missões. Seja como comerciante, pirata, ou empreendedor, não faltam caminhos para forjarmos e vias que conseguem trazer uma balança equilibrada no que toca ao risco vs. recompensa, fazendo-nos pesar as consequências das decisões que tomamos, pois arriscamo-nos a perder boa parte do progresso com passos em falso. As missões secundárias trazem uma multitude de atividades, incluindo claro as clássicas tarefas de estafeta, mas escalando-as a complexas operações de espionagem. Tal como em todos os jogos de “mundo aberto”, a exploração é uma parte essencial da experiência, seja ao descobrir tesouros escondidos, naves abandonadas ou artefactos antigos espalhados pelo universo, não faltarão recantos por virar.

Esta liberdade oferece um nível de profundidade que é simultaneamente assustador e estimulante. Num momento negociamos acordos comerciais, no outro já estamos a gerir as próprias rotas dos acordos e até mesmo estações espaciais. A construção de estações é outro “mini-jogo”, à semelhança da personalização das naves, sendo possível edificar enormes estações, de forma meticulosa e tal como idealizámos. Isto tudo assenta-se num sistema de gestão e compreensão todo organizado por uma IA. As nossas decisões, ou as de outros, moldam a flutuação dos preços e disponibilidade dos bens, seja em formato económico, ou até nas interações com as facções, garantindo que não encontramos duas campanhas idênticas.

A constante evolução do universo é uma incógnita digna de explorar. À medida que nos desviamos de campos de asteróides, passamos por rotas comerciais bastante movimentadas ou podemos ter a sorte de assistir a guerras entre facções, aumentando a sensação de imersão, que a meu ver, eleva esta “simulação” ao top 3 em cenários espaciais.

Visualmente, basta irem ao YouTube e percebem o quanto X4: Foundations mudou desde o seu lançamento. A reviravolta na atenção ao pormenor nos modelos das naves, o próprio ambiente estelar e os efeitos especiais evoluíram para uma experiência incrível. Especialmente durante as batalhas espaciais que encontrei, ou ao navegar pelos campos de asteróides, fazia questão de parar um pouco para absorver a vista, apenas para 10 minutos depois voltar a encontrar algo digno de se parar.

Já a banda sonora cumpre bem o seu propósito de aumentar a sensação de exploração e descoberta. Desde o zumbido do motor da nave ao caos “camuflado” pela cápsula da nave trazem uma camada que confesso que desvalorizei até poder ouvir, e aí sim, percebi que a distância e intercepção do som fazem toda a diferença na imersão. Apesar de não ser o foco central, as prestações vocais trazem vida às interações com os NPCs, e claro, não são dignas de Óscares, mas ajudam a contribuir para o ecossistema.

Embora encontremos boa parte da complexidade e escala do universo, X4: Foundations correu que nem manteiga no meu computador. Consegui jogar com todas as definições no máximo, sendo que para quem tiver uma máquina mais modesta, as definições vêm bem configuradas, de forma a podermos adaptar o desempenho ao hardware. Como já referi, X4: Foundations foi lançado com alguns problemas, sendo que a equipa rapidamente se aprontou a lançar atualizações regulares, o que levou a que quaisquer bugs ou problemas de desempenho fossem rapidamente resolvidos. Atualmente, com a ajuda da comunidade de modding, encontramos ainda mais profundidade e opções de personalização, tornando esta versão a forma definitiva de jogar.

Em suma, o tempo com X4: Foundations, desde que tenham força mental para aguentar a learning curve, traz uma viagem inesquecível por um universo repleto de possibilidades. Quer queiram apenas maravilhar-se com a beleza do cosmos, ou subir os escalões nas rotas comerciais X4: Foundations convida-nos a desaparecermos da vida real e mergulharmos pelas estrelas.

Um agradecimento à Keymailer por nos ter cedido uma chave para análise.

CONCLUSÃO
Astronómico
7.5
Matilde Silva
Gosto de caminhadas na ténue linha entre a análise e a opinião
x4-foundations-analiseX4: Foundations começou aos solavancos, mas a Egosoft manteve-se fiel ao produto que quis apresentar, e através de imensas atualizações e constante comunicação com a comunidade, conseguiu transformar esta experiência interestelar numa das principais viagens a realizar pelos astros.