Depois de A Todos os Rapazes Que Já Amei, série baseada nos livros do mesmo nome de Jenny Han, que se tornaram numa autêntica sensação entre o público juvenil e graúdo, eis que a Netflix decidiu presentear-nos com o spin-off XO, Kitty, o qual segue a irmã mais nova de Lara Jean, Kitty Song Covey.

A primeira temporada estreou em 2023 com muito boas avaliações, incluindo 80% no Rotten Tomatoes e 6.5/10 no IMDb, o que levou a que a Netflix voltasse a apostar na série e a desenvolver uma segunda temporada, a qual ficou disponível no início deste ano.

Tendo gostado bastante da primeira, não pude deixar de espreitar a segunda e, claro, de escrever uma análise com a minha honesta opinião. Mas não te preocupes, esta não contém quaisquer spoilers.

Se já há algum tempo que não vês ou revês a primeira temporada de XO, Kitty, aqui fica uma pequena recap:

Primeira Temporada

Na primeira temporada de XO, Kitty, acompanhamos Kitty Song Covey, uma jovem determinada e romântica, que decide mudar-se para a Korean Independent School of Seoul (KISS) para estar mais perto do namorado, Dae, e explorar o passado da sua falecida mãe, que frequentou a mesma escola. 

A mudança promete um novo começo, mas Kitty rapidamente descobre que as coisas não são tão simples quanto imaginava quando, ao chegar, encontra Dae aparentemente envolvido numa relação amorosa com Yuri, uma aluna popular e filha da diretora da escola. 

Essa situação abala Kitty, mas ela decide investigar o que está realmente a acontecer, ao mesmo tempo que enfrenta desafios académicos, tenta fazer novos amigos e desvendar segredos sobre a sua mãe.

E agora, vamos ao que interessa:

Personagens

A segunda temporada definitivamente dá uma maior profundidade aos personagens principais, permitindo que explorem novas dimensões das suas personalidades. 

A protagonista, Kitty, ganha um arco narrativo mais rico e emotivo, lidando com questões pessoais e desafios que refletem o crescimento natural de uma adolescente, especialmente na sua jornada de autodescoberta. Um dos destaques é a exploração da sua sexualidade, que é tratada com sensibilidade e autenticidade, de forma muito natural e entusiasta e sem as típicas (e cansadas) .

Anna Cathcart conseguiu mostrar um lado mais vulnerável da personagem, permitindo que os espectadores se conectassem com ela de forma mais íntima. É verdade que algumas das decisões tomadas por Kitty podem não ser as melhores, mas isso demonstra o quão jovem esta ainda é e equilibra bem com outras decisões bastante sensatas para a idade que esta tem, e que me levaram a respeitá-la e simpatizar com ela ainda mais.

Além de Kitty, outros personagens secundários também recebem mais atenção, com histórias que complementam e contrastam com a narrativa principal: Yuri ganha mais destaque nesta temporada, mostrando uma faceta mais vulnerável e complexa ao mergulharmos em algumas das suas questões familiares e pessoais, o que também ajuda muito a compreendermos as suas motivações e desafios.

Minho permanece misterioso e carismático no seu papel, mas com uma nova profundidade emocional, o que facilmente o tornou numa das minhas personagens favoritas. Para além do seu óptimo humor sarcástico, revela-se como um amigo extremamente leal, mas cheio de inseguranças que o levam a agir de forma algo repreensiva, por vezes.

Temos ainda personagens completamente novas, e o retorno de outras directamente de A Todos os Rapazes que Já Amei, que realmente vêm a levantar a fasquia no que toca a drama-rama e conseguem manter o público envolvido com surpresas e novos conflitos.

Estilo Visual No Ponto

A moda e os cenários continuam a ser um dos pontos fortes da série, com escolhas visuais que capturam a essência jovem e contemporânea do enredo. O guarda-roupa colorido e cuidadosamente pensado reflete não só as tendências coreanas modernas, mas também a evolução emocional de cada personagem, actuando como uma extensão das suas personalidades e do seu crescimento, o que torna XO, Kitty visualmente apelativa mas também muito mais interessante de seguir para quem adora este tipo de pormenores e foreshadowing.

Por exemplo, Kitty mantém um guarda-roupa colorido, casual e divertido, refletindo a sua personalidade otimista e juvenil. O uso de peças oversized, padrões únicos e combinações ousadas simboliza a sua busca por identidade e confiança, aos quais já estamos habituados. 

Mas, à medida que a história avança, vemos pequenas mudanças no seu estilo – peças mais estruturadas e maduras começam a surgir, sinalizando o crescimento emocional e as experiências que esta vive. A evolução do guarda-roupa de Kitty reflete a transição de adolescente sonhadora para alguém que começa a lidar com desafios mais complexos e relevantes para a história.

Já Yuri, a epítome do glamour e da sofisticação, apresenta um guarda-roupa composto por roupas de designer, cortes elegantes e cores neutras, com acessórios discretos mas luxuosos, e o seu estilo reflete a pressão de manter as aparências devido à sua posição como filha de uma figura poderosa. 

Contudo, quando opta por roupas mais casuais ou descontraídas mostra os raros momentos em que se sente confortável consigo mesma, revelando a dualidade entre a imagem pública e a sua vida pessoal.

Minho aposta num estilo polido, com camisas bem ajustadas, blazers modernos e peças que destacam a sua atenção aos detalhes, exibindo confiança e charme em cada escolha.

No geral, a sua aparência reflete o perfeccionismo e a fachada de superioridade que muitas vezes usa para esconder as suas inseguranças. A atenção ao estilo pessoal também serve como contraste ao guarda-roupa descontraído de outros personagens, como o de Kitty, destacando as diferenças nas suas personalidades.

Já Dae, por exemplo, tem um estilo modesto e funcional, muitas vezes usando uniformes escolares ou roupas simples, como jeans e camisolas. No geral, o seu guarda-roupa sublinha o seu passado humilde e o foco em manter-se discreto e responsável, o que também destaca a diferença de classe social entre ele e personagens como Yuri ou o melhor amigo Minho.

Comparação com a Primeira Temporada

A segunda temporada aprofunda os temas e desafios apresentados na primeira, mostrando uma evolução natural das personagens e das suas histórias. Enquanto a primeira temporada tinha um tom mais leve e centrado na adaptação de Kitty ao seu novo ambiente, a segunda é mais ambiciosa, explorando questões emocionais e sociais mais complexas.

No entanto, essa ambição nem sempre resulta em consistência, com alguns elementos narrativos a parecerem exagerados ou incompletos.

Mudança de Foco Narrativo

A primeira temporada concentrou-se no choque cultural de Kitty ao chegar à Coreia e no mistério em torno de Dae e Yuri. Já a segunda temporada adota uma abordagem mais introspectiva, focando nas questões pessoais de Kitty, como a sua sexualidade e as suas dúvidas sobre o futuro.

Embora este novo foco seja mais maduro, devo dizer que senti alguma falta da leveza e simplicidade da primeira temporada. É a série perfeita para descontrair depois de um dia cansativo, onde apenas queres imergir-te no mundo fantasioso de uma Coreia divertida e estonteante, e isso continua a ser verdade nesta temporada. Mas, definitivamente, sacrificou alguma da sua essência original em prol de um maior desenvolvimento que nem sempre resultou a 100%, mas que foi uma aposta arrojada e necessária para inovar a história.

Expansão do Universo

A segunda temporada expande significativamente o universo da série, apresentando novos personagens e localizações que enriquecem a narrativa, o que oferece um cenário mais dinâmico e diversificado.

No entanto, essa expansão também contribui para a dispersão de foco, deixando algumas questões mal resolvidas.

Subenredos Mal Explorados

Algumas histórias paralelas que prometiam ser interessantes acabam por não ser desenvolvidas completamente, o que deixou a sensação de que certos aspetos foram negligenciados ou ficaram em aberto.

Alguns enredos introduzidos, como questões relacionadas com a vida familiar de Kitty ou segredos de outros personagens, acabam sendo deixados de lado ou encerrados abruptamente, o que cria uma sensação de potencial desperdiçado, especialmente quando comparado ao desenvolvimento mais coeso da primeira temporada.

Dinâmicas Demasiado Complicadas

A segunda temporada aumenta bastante o número de relações e conflitos entre as personagens, o que, para alguns espectadores, pode tornar a história confusa ou excessivamente dramática. 

Devo admitir que em vários instantes dei comigo a pensar se tinha perdido alguma parte do episódio, porque realmente estava tudo a acontecer demasiado depressa e sem qualquer aviso prévio. A quantidade de pares românticos que se formam, desfazem e voltam a refazer, ou desenvolvem em verdadeiros polígonos amorosos, acabou por me deixar bastante atordoada.

Embora conflitos amorosos sejam parte essencial de uma série jovem como esta, pessoalmente achei que a segunda temporada exagerou um pouco na quantidade e complexidade de relacionamentos, tornando a história mais difícil de seguir.

Para além disso, o foco disperso entre várias dinâmicas fez com que alguns arcos parecessem menos impactantes ou não lhes fosse dada a devida atenção.

Temas Mais Complexos

Comparada à primeira temporada, que era mais leve e centrada em dramas típicos de adolescentes, a segunda temporada arrisca ao introduzir temas mais profundos, como identidade sexual, luto e os desafios da maturidade.

Esta abordagem, apesar de funcionar muito bem para uma segunda temporada, pode não agradar a todos os espectadores, especialmente àqueles que procuram um entretenimento menos complicado ou que ficaram a sentir falta da irreverência e despreocupação da primeira temporada.

Se a primeira temporada girou em torno de Kitty encontrar o seu lugar no mundo, a segunda temporada centra-se em descobrir quem esta realmente é – uma evolução natural e que acaba por se tornar bastante emocionante para quem acompanhou a série desde o início.

CONCLUSÃO
Cativante
8
xo-kitty-temporada-2-analiseNo geral, a série mantém o seu charme jovem e cativante, com a segunda temporada a apresentar mais ousadia na abordagem de temas relevantes e contemporâneos. Apesar de algumas falhas, penso que continua a ser uma narrativa divertida e emocional tanto para o público adolescente como para jovem adultos, e até mesmo para os mais maduros que procurem algo fofinho e simpático para se entreterem sem grandes expectativas. Apesar de algumas falhas no equilíbrio entre as várias subhistórias, é uma continuação sólida e ambiciosa que oferece um retrato mais rico da vida de Kitty e estou curiosa para saber o que farão numa terceira temporada. O final foi bastante bem embrulhado com um grande laço no topo, pelo que penso que, a não ser que os números sejam abaixo do expectável nesta temporada, a Netflix com certeza nos trará mais episódios.