As aventuras de Adol Christin nos jogos do Ys sempre foram acompanhadas por uma ocorrência clássica que qualquer fã da série não consegue negar. Adol, cada vez que tem de viajar de navio, acaba sempre com algum acidente que o impede de chegar ao seu destino original à primeira.

Por muito irónico que seja, o que vos trago hoje tenta quebrar esse molde de uma forma extrema, com Adol a viajar de navio num oceano enorme e a explorar várias zonas repletas de potenciais aventuras. Sendo um dos jogos de Ys com a janela mais rápida de lançamento entre o Japão e Ocidente (cerca de um ano), eis que vos apresento Ys X: Nordics.

A grande aventura de piratas

A história começa com Adol Christin, o protagonista principal da saga, a viajar pelos mares de Obelia Gulf como passageiro de um navio. Este navia, por sua vez, é atacado por piratas, e obriga Adol e os restantes passageiros a ancorar o navio em Carnac uma pequena vila que se encontrava perto.

Sem querer entrar em muitos spoilers, irei apenas dizer que algo acontece dentro desta vila que faz com que Adol e Karja (uma rapariga pertencente ao grupo de piratas que atacaram o navio onde Adol viajava), fiquem conectados por uma algema de origem mágica, que os impede de se afastarem demasiado um do outro.

Um pouco mais tarde, descobre-se que existe uma força de enorme poder que está a colocar as pessoas de Obelia Gulf em risco, denominada de Griegr. Estes monstros são praticamente imortais, sendo vulneráveis apenas ao poder de mana, que, por coincidência, ambos o Adol e a Karja possuem. Não sendo um total estranho a uma grande aventura nova, Adol decide imediatamente investigar os Griegr e ajudar a proteger Obelia Gulf destes seres poderosos, começando então a nossa nova aventura deste carismático protagonista.

Devido ao jogo apenas ter a dupla de Adol e Karja como a party do jogo, temos aqui uma história que tem uma maior liberdade em explorar mais os assuntos pessoais das personagens participantes. A história do jogo não tem de se dividir para dar espaço às restantes personagens, e com isso temos uma história bem mais desenvolvida relativamente à Karja, fazendo com que esta personagem tenha uma ligação mais forte com Adol comparativamente às parties dos jogos anteriores. Apesar de ser um permissa simples, sinto que é uma história que se desenvolve de uma forma mais natural, tendo um foco muito mais definido, mesmo com os mares extensos de Obelia Gulf disponíveis para serem explorados.

Uma série visualmente consistente

Em termos técnicos, admito que a série, desde que passou para o 3D, nunca chegou a experimentar os novos avanços tecnológicos do tempo. Novamente, temos o uso de um motor simples e pouco complexo, com texturas, modelos, cenários e efeitos bastante antiquados. Estes gráficos simples são acompanhados pela direção artística do jogo, que carrega com a grande maioria do peso visual. Os modelos das personagens em estilo anime, e o excelente uso de cores, juntamente com uma série de cenários visualmente interessantes, fazem deste jogo que parece bastante modesto à superfície um esplendor visual bastante apelativo.

Este motor simples traz consigo um grau de singularidade visual aos jogos da equipa, e penso que, considerando o quão bem serve a arte do jogo, não é preciso muito mais do que saiu no produto final.

Uma dupla imbatível

A base de jogabilidade desta nova entrada na série é bastante semelhante aos mais recentes jogos do género. Temos aqui um RPG de ação onde o foco principal é manusear o teu SP para realizar uma série de habilidades num combo, de modo a maximizar o dano. Estas habilidades vão-se desbloqueando e melhorando à medida que vais jogando, dando-te a oportunidade de personalizar as 4 habilidades equipadas de cada personagem. O objetivo principal é gastar o SP inteiro de uma personagem ao usar estas habilidades consecutivamente, e depois trocar para a outra personagem e utilizar as habilidades delas enquanto a primeira recupera o seu SP.

Esta base já é bastante comum para quem já jogou os mais recentes jogos da série, mas apresenta umas pequenas alterações e adições interessantes. Desta vez, não temos o sistema de “pedra, papel, tesoura” que os jogos como Ys VIII e Ys IX tinham, sendo trocado por um sistema de dano normal e break. O dano normal é o teu dano direcionado às barras de vida dos inimigos, enquanto o dano de break é direcionado à barra de armadura, caso eles a possuam. As variadas habilidades que irás ter disponível em ambas as personagens irão ter, no menu, uma visualização da sua capacidade de fazer dano normal e de break, sendo fácil de entender quais as melhores habilidades para cada situação. Durante a aventura, reparei que o Adol tinha melhores habilidades para dano normal, enquanto Karja pareceu-me mais indicada para o break.

Isto deixa-nos com a nova mecânica única desta iteração – os ataques em conjunto. Ao deixares premido um botão, podes entrar numa posição defensiva onde Adol e Karja se juntam, e agem como um só, durante esta pose, irás bloquear a grande maioria de ataques dirigidos à dupla. O mais interessante desta mecânica, é que passas a controlar ambas as personagens como uma só, sendo que, quando atacas, ambas atacam em simultâneo o mesmo inimigo, com uma combinação de ataques sincronizada. Também irás ter 4 habilidades conjuntas especiais, sendo que estas gastam o SP de ambas as personagens em simultâneo. Estas habilidades são bastante fortes e produzem efeitos impressionantes, utilizando o contraste entre as cores vermelho e azul.

O combate do jogo, mesmo com apenas 2 personagens na party, não deixa de ser dinâmico e extremamente divertido. Devido à remoção do sistema de fraquezas, o combate encoraja o jogador a alterar de personagem e a realizar combinações fluídas e contínuas com ambas. O sistema de combate essencialmente resume-se numa pista de drag onde o jogador mete o “prego a fundo” e entra numa euforia de habilidades constante e agressiva.

Esta agressão também é encorajada defensivamente, sendo que a melhor defesa que temos não é o dodge, mas sim o parry. Ao defenderes no momento em que um ataque de um inimigo conecta, irás receber bastante SP e deixar o inimigo atordoado, dando-te uma oportunidade de o castigares com um combo de habilidades. Por vezes, também tens direito a fazer um ataque cinemático especial, que irá atingir uma grande área e fazer bastante dano a todos os inimigos afetados.

Sendo um RPG, temos também uma série de bosses que iremos encontrar. Aqui temos algo que joga um pouco pelo seguro, mas que apresenta bastante competência no seu design. Os bosses são geralmente pouco demorados, mas apresentam padrões de ataques que obrigam o jogador a aprender e a reagir de modo a conseguir passá-los de modo mais eficaz e com o mínimo de uso de curativos. Caso sintas que estás a cometer demasiados erros, sinto que o jogo dá bastantes recursos em termos de poções para o jogador se poder curar e também reviver os membros da party, mantendo assim um aspeto mais acessível ao mesmo.

O combate, na minha opinião, é apenas uma adição às mecânicas de exploração. Nesta nova entrada temos a introdução de um navio que podemos usar para navegar pelos mares de Obelia Gulf e explorar as várias ilhas espalhadas nos vastos oceanos. Há um número impressionante de ilhas que podes explorar, sendo possível ancorar o barco numa doca ou praia presente para poder-se explorar a pé. O navio está equipado com vários armamentos, entre munições normais que servem para fazer dano a navios inimigos, ou algo como munição de gelo para poder abrandar os navios inimigos. O navio pode ser melhorado em vários aspetos, como munições adicionais, velocidade, vida, entre outros.

A exploração a pé já é algo mais tradicional, onde temos vários baús com uma série de itens como curativos, equipamentos, e outros tantos. Os níveis são desenhados de forma a serem de navegação fácil e rápida, fazendo com que seja extremamente fluído para quem gosta de completar os mapas a 100% quando se aproxima do final do jogo. Esta fluidez provém quase no total ao movimento do jogo, sendo possível utilizar uma espécie de hoverboard, e também utilizar a mana como uma corda, de modo a te poderes baloiçar para realizar saltos mais compridos. Os mapas também têm muitas vezes atalhos que facilitam imenso as explorações posteriores, fazendo com que nunca haja qualquer frustração em completá-los.

Penso que este jogo foi um dos RPGs mais fáceis e fluídos de explorar e completar tudo. Nunca houve qualquer situação onde me senti aborrecido ou a perder muito tempo a colecionar os vários tesouros espalhados pelos mapas, sendo algo que até me deu bastante gosto de fazer. Penso que já é algo bastante comum no que toca aos jogos recentes da série, mas penso que este em especial apresenta ainda mais melhorias relativamente aos anteriores.

A clássica dose de rock épico e ambiental

Sendo algo já habitual, a série de Ys sempre foi conhecida pelas suas composições que juntam rock com um toque de instrumentação ambiental para criar a sua sonoridade singular na música. Felizmente, temos aqui um OST que se mantém nesse rumo, com alguns temas experimentais, especialmente no que toca à música ambiental, com o uso de tonalidades e uma instrumentação mais simples, para proporcionar uma sensação mais calma e misteriosa.

CONCLUSÃO
Vasto
9.2
ys-x-nordics-analiseYs X: Nordics revela-nos uma evolução interessante da saga. Com uma party mais pequena e uma história mais envolvida, a junção de uma exploração mais vasta é algo que surpreendentemente funciona de uma forma extremamente competente.