Confesso que não sou fã de 90% do mercado de visual novels lançado anualmente, em função de ser o estilo mais fácil de criar e com narrativas menos interessantes, no entanto, admiro imenso o estilo já que pode ser usado como uma ferramenta alternativa e extremamente dinâmica no sentido educacional, e uma ajuda extrema para quem não está habituado à leitura tradicional e precisa daquele incentivo extra.

Os visual novels são experiências de um género extremamente nichado no ocidente, ainda que nos venha acompanhado desde os primórdios dos videojogos. Ano após ano, este estilo de videojogos segue angariando força, e num presente que a fatia de mercado seja extremamente baixa para os vastos projectos lançados, há títulos que deixam a sua marca e influenciam por décadas o que vem a seguir. Em 1999 tivemos The Silver Case, que é talvez a alavancagem de tudo o que segue até hoje dentro do género, Ace Attorney (2001), Steins Gate e Zero Escape (2009), Danganronpa (2010), The House in Fata Morgana (2012) e Doki Doki Literature Club! (2017), este último foi um dos maiores contributos do sucesso neste género no ocidente, tal foi a loucura.

Yurukill: The Calumniation Games aparece em 2022, e segue a tradição de uma novela visual Japonesa, com aquela boa dose de psicologia humana e twists absurdos, mas com conceitos únicos que o diferencia dos demais. O jogo é desenvolvido pela G.rev, e o roteirista é Homura Kawamoto, um popular artista de manga, responsável pela série Kakegurui, obra que o impulsionou para o sucesso.

Que comecem os jogos mortais

Esta história distorcida começa com o despertar de um dos nossos vários protagonistas, Sengoku Shunju, que se encontrava até então a cumprir uma pena de prisão de 999 anos por uma série de assassinatos que não cometeu. Numa cela, e sem os seus sentidos ainda sequer estimulados, é abordado por uma mulher excêntrica e curiosa com o nome de Binko, que lhe conta a razão daquele rapto e a sua localização.

Yurukill Land, uma terra desconhecida construída como um parque de diversões, é onde Shunju e outros cinco supostos criminosos se encontram após serem tomados. Íntegros de um objectivo em comum; precisarão sobreviver e garantir a sua liberdade. Para tal, cada criminoso será acompanhado por um executor, que geralmente tem ligações directas com os crimes cometidos. O executor funciona como um carrasco – ou um juiz -, que terá os seus desejos cumpridos caso vença todos os julgamentos mortais.

Em Yurukill Land os nossos personagens não têm nada a perder, e nem o medo de morrer os aprisiona das suas buscas pela liberdade. Este parque temático é todo ele uma viagem ao passado dos protagonistas e dos executores, trazendo lembranças negras manchadas pelos crimes hediondos, mas visitando de forma empática as ligações entre as personagens e um pouco das suas histórias.

Os laços emocionais com estas personagens são desenvolvidos de uma forma muito natural e em muito pouco tempo. Além de Sengoku Shunju que é um fã acérrimo de board games, existe uma artista pop acompanhada por um fã groupie, dois irmãos separados por uma decisão desastrosa, e até o filho do CEO desta organização. Perfis psicológicos diferenciados não faltam neste título, e irás identificar-te com um ou mais, garantidamente. Terás aqui pano para mangas ao desvendar tudo o que está na retaguarda desta narrativa, que começa de forma misteriosa e vai desembalando twists atrás de twists, progressivamente, ao longo de uma experiência nutrida de imensos e variados puzzles que cá para nós; podiam ser um pouquinho mais desafiantes.

Mais que um visual novel

A vertente que separa Yurukill: The Calumniation Games dos demais do género, é a inclusão de todo um conceito shoot’em up bem elaborado e curiosamente bem argumentado a encaixar-se na narrativa. Depois de cada desafio mortal cheio de quebra-cabeças, existe um segmento que se desenrola no interior de uma câmara no mínimo peculiar, e que nos apresenta o pináculo da experiência Yurukill; uma experiência virtual a que o nosso personagem se subemete, mas com ligações directas ao cérebro com sensações reais, incluindo a morte.

Durante a investigação, tudo o que absorverás de provas e informação sobre os casos será posteriormente usado para testar o teu conhecimento, após embarcares numa espécie de mistura de uma nave bem ocidental com misturas dos mecha bem ao estilo característico Japonês. Quanto mais desta investigação absorveres, menos dificuldade terás adiante.

A primeira fase é um time-trial que te fará, tal como o nome indica, responder às questões de investigação o mais rapidamente possível. Caso acertes, ganharás uma vida adicional, algo que te facilitará imenso nas batalhas desafiadoras de bullet hell a que o mercado nipónico nos habituou.

A segunda fase passa por um estágio completo em que terás que atirar em tudo o que mexe, com a vantagem habitual de apanhar power-ups e usar técnicas como tiros especiais e esquivas em formato de bombas. Todos estes movimentos especiais serão limitados, e carregados de acordo com o teu dano e eliminação dos inimigos. Cada personagem terá uma mecha diferente, com habilidades únicas, algo que ajuda ainda mais na imersão.

Será na terceira fase que entrarás na mente do teu executor, e através de provas obtidas durante a investigação, encaixarás literalmente à força, nos seus cérebros. Aqui é o segmento mais crucial deste conceito, pois ao apresentares as provas bem ao estilo Ace Attorney (OBJECTION), perderás 3 vidas caso não esteja correcto, e nesta fase não poderás verificar os logs das provas, e apenas apresentar as mesmas.

Assim que resolvas todos estes segmentos, entrarás no boss final de cada investigação. Com designs variados, todas estas caracterizações de acordo com a imagem do executor estão muito bem elaboradas e apresentam um resultado bem conseguido, e mesmo que este estilo seja secundário para o sumo de toda a experiência, este é um jogo que quando necessita do seu estilo shoot’em up, consegue facilmente envergonhar muitos outros focados apenas nesse género.

A G.rev decidiu complementar com foco no entretenimento, um modo especial com score attack e outros conceitos já conhecidos no estilo shoot’em up e poderás jogá-los fora do modo história. Além das dificuldades, terás acesso a um rank com os melhores jogadores mundiais e regionais. Neste modo poderás escolher qual o piloto que irás controlar, e um dos 6 níveis diferentes.

Traço lírico, visual sublime

Suprimindo um pouco a vertente Shoot’em up que não impressiona de todo no quesito grafismo e animações, deixa-me dizer-te o contrário em Yurukill como visual novel. Com um traço gráfico muito detalhado no ambiente em geral, este visual novel é dos que mais impressiona, principalmente na construção e visual das personagens. Yurukill é uma experiência em movimento mesmo quando está parado. Os personagens têm detalhes interessantíssimos e animações que encaixam perfeitamente na dobragem dos actores, igualmente brilhante; como é habitual nos trabalhos de voz Japoneses.

A acompanhar o seu visual, a experiência é rematada com um dos pontos altos de Yurukill; a qualidade sonora. Existem diversos temas compostos exclusivamente para este título com artistas Japonesas que dão também voz às personagens como Saori Hayami e Akari Kito. São faixas imersivas e que se adequam perfeitamente aos diferentes tipos de tema e personagens, e existem até temas especiais de abertura e encerramento, digno de anime. Uma pequena nota: Banda sonora oficial PRECISA-SE!

Yurukill: The Calumniation Games será lançado para Nintendo Switch, PCPlayStation 4 e Playstation 5 no dia 8 de Julho de 2022.

A equipa agradece à G.rev pela gentileza do código cedido para a plataforma Playstation 4 e Playstation 5 para análise.

CONCLUSÃO
Brilhante!
9
Igor Gonçalves
Curioso, explorador, e fã de videojogos desde que me lembro, e em especial pela saga Metal Gear. Não jogo plataformas, jogo jogos.
yurukill-the-calumniation-games-analiseYurukill: The Calumniation Games é uma dose cheia para os fãs de visual novels, e um título perfeito para quem quer iniciar neste género. A história é extremamente cativante, cheia de mistério e reviravoltas, e com um toque especial de shoot'em up pelo caminho, que deixa a experiência mais imersiva. É um título obrigatório!