Vou arriscar e escrever que Star Wars, dentro do trio de universos titânicos (juntamente com Senhor dos Anéis e Harry Potter) foi o que teve a imagem mais degradada ao longo dos anos. Mesmo retirando os filmes da equação, os videojogos e séries têm ido do 8 ao 80 em termos de qualidade. Apenas as bandas desenhadas (mesmo não estando no auge do que já foi produzido) vão conseguindo manter uma consistência que pelo menos respeita este colosso da ficção científica que George Lucas trouxe ao mundo.
Desde o lançamento de Return of the Jedi, existe uma constante procura pelo néctar que fez a trilogia original prosperar, até mesmo da parte do próprio Lucas, com as famosas prequelas. No entanto, em defesa do mesmo, a qualidade da trilogia original (episódios IV, V e VI), não só pela maneira como revolucionou, mas também pela irreverência com que agarrou o mundo cinematográfico, será quase impossível de superar.

Fruto da aquisição da Disney surgiu uma nova trilogia que dispensa apresentações, aliás, talvez estivesse melhor sem ser apresentada. A verdade é que gerou receitas até não mais, e incrivelmente, isto acabou por beneficiar mais o universo do que prejudicá-lo. Que pudessem existir filmes maus na saga já se sabia (sim, episódios I e II), portanto o verdadeiro trunfo da nova trilogia foi voltar a meter Star Wars nas bocas do mundo, fosse por bons ou maus motivos.
Destas receitas, surgiu a possibilidade de investir em spin-offs, sendo que alguns, inesperadamente, possuem bastante qualidade. Títulos como Rogue One, Mandalorian e Fallen Order, também por não terem o legado da saga principal aos ombros, deram asas à liberdade criativa dos produtores, o que permitiu que Gareth Edwards, Jon Favreau e a Respawn prestassem as devidas homenagens como melhor entendessem.

Com esta introdução quero apenas demonstrar que criar um produto no universo Star Wars não é fácil, não só por ter uma das maiores e mais aguerridas *fanbases* do mundo, mas também porque esta fanbase sente que há muito que lhes é devida a qualidade que outrora já receberam, o que gerou um olhar extra-cínico. Com esta corda bamba de produções, a TT Games decidiu criar O produto que homenageasse este incrível universo. Claro que recorreram à sua especialidade, o que levou a um videojogo LEGO que percorresse todos os 9 episódios que ajudaram a moldar Star Wars, de seu nome: Lego Star Wars: The Skywalker Saga, doravante Skywalker Saga.
Skywalker Saga comprime então todos estes episódios num só jogo, o que por si só é uma tarefa hercúlea e de valor, mas que também traz consigo algumas desvantagens. Ao iniciarmos o jogo, podemos começar em qualquer uma das trilogias, dando liberdade ao jogador para percorrer os níveis em modo cronológico, de acordo com os filmes, ou em modo balbúrdia na quinta.
Cada episódio tem cerca de 5 níveis, o que leva uma sessão de cerca de 2 horas por episódio, nada mau. Todos os episódios tentam ser fiéis aos filmes, com uma camada extra de humor, o que leva a boas gargalhadas durante as sessões. No entanto, 2 horas por episódio significa que muito conteúdo teve de ser cortado, e como os videojogos LEGO são maioritariamente direcionados aos mais novos, podem começar a concluir qual o conteúdo que não aparece no jogo. Grande parte dos momentos “negativos” foram cortados, algo que é compreensível dado o público-alvo, todavia resulta numa história com alguns buracos.

Criar um bom videojogo LEGO já a TT conseguiu bastantes vezes, não só no universo de Star Wars como em inúmeros outros (Harry Potter, Parque Jurássico, Senhor dos Anéis…). O objetivo aqui era expandir este formato de videojogos, que embora divertidos, começavam a exaustar a fórmula. Para isto, presumo que tenham re-avaliado os melhores jogos, como LEGO Harry Potter ou LEGO Marvel Super Heroes, onde imergiam os jogadores nos respectivos mundos para que acompanhassem as suas histórias, mas ao mesmo tempo deixavam-nos vaguear ao ritmo que melhor entendessem, com bastante fan-service à mistura.
Skywalker Saga traz então o maior universo já criado num videojogo deste formato, permitindo ao jogador que explore a galáxia em modo free play. Isto significa que tanto podemos explorar a pé, como dentro de uma nave, e não só existem centenas de personagens diferentes com que podemos explorar a pé, existem ainda dezenas de naves diferentes com que podemos observar as estrelas.
Para além dos 45 níveis que terão de completar para concluir o modo história, existem ainda mais de uma centena de missões secundárias, acompanhadas de centenas de puzzles e desafios, cada um com mais recompensas do que o anterior! Não deixem de completar as missões secundárias, nem tanto pela recompensa, mas porque as missões são hilariantes e têm toneladas de fan-service. O conteúdo é simplesmente imenso, deixando qualquer fã de Star Wars mais que contente com o dinheiro que decidiu dar pelo jogo, quer o comprem agora como em promoção.

O combate teve direito a algumas alterações, apresentando-se com um sistema de combos. O shooting está bastante bom, com direito a podermos controlar a mira como a câmara. Ao entrarmos nas áreas finais, teremos direito a uma aproximação da câmara que leva à entrada de um modo “duelo”, onde a câmara foca no adversário, alterando a função de alguns botões, como por exemplo o botão para saltar, que passa a servir para nos desviarmos. Estas batalhas são bastante diversas, sendo que cada uma possui segmentos adequados à do próprio local e/ou adversário, isto pode incluir ações desde platforming a resolvermos puzzles.
Tal como a exploração, temos combate terrestre e combate aéreo/espacial! Recebemos agora controlo total sobre as naves, não só para a reprodução de segmentos dos episódios, mas também para passear pela galáxia. O combate espacial é bastante simples, mas alcança um bom equilíbrio, na medida em que nem rebentamos logo com uma nave, como não sentimos que estamos a disparar para uma esponja.

Aliada a estas novas mecânicas temos também a vertente RPG com uma lista de habilidades que podem ser adquiridas com Kyber Bricks e peças LEGO. Cada personagem tem uma classe específica que traz consigo capacidades únicas, como por exemplo, passarmos despercebidos num nível enquanto assumimos um droid, ou usarmos a Força enquanto Jedi/Sith.
Continuamos à espera de suporte para cooperação online. É verdade que existem tecnologias como o Remote Play mas isso não serve como desculpa para descurar este modo de jogabilidade num jogo que sai em 2022 com um foco tão grande em cooperar.
Os visuais foram elevados ao máximo com a possibilidade da nova geração, o que para além de nos oferecer vistas incríveis, possibilita ainda efeitos presentes apenas em Skywalker Saga, como as armas ficarem sujas quando apanham lama. Talvez tenha sido um bug visual, mas certas personagens pareceram-me mais desfocadas do que as outras, quase como se não tivessem qualquer filtro Anisotropic. Admito que não examinei todas, mas muitas personagens têm detalhes visuais incríveis, como por exemplo a rainha Amidala, quando depois assumimos controlo de Obi Wan, sente-se quase como noite e dia em termos de “texturas”.

O áudio dispensa quaisquer apresentações. Com a presença do imensamente galardoado John Williams, bastava deixarem o tema principal a tocar e estava tudo bem. Fora de brincadeiras, temos presentes todos os temas que marcaram os diversos momentos, incluindo ainda sons de fundo que servem como um excelente complemento à exploração.
Como já referi encontrei alguns bugs durante as minhas horas de jogo, mas nada que prejudique a experiência, portanto provavelmente já se encontra corrigido pela TT Games.
Tendo jogado numa Playstation 5, pude optar entre um modo de 30 fps e um de 60. Privilegiando jogabilidade sobre gráficos optei por 60 frames por segundo e senti-me satisfeito com o modo, não tendo grandes quedas (quase nenhumas até) e mantendo uma apresentação visual incrível. Ao jogar no modo de 30 não observei a mesma estabilidade, sendo que este nem é tão responsivo como o anterior, mesmo depois de ter passado umas horas a jogar neste modo.
Se optarem pelo modo de 30 fps terão uma resolução dinâmica 4K que ronda os 1980p enquanto que se decidirem jogar em 60 fps a resolução será 1440p rondando os 1368p.