Para os graúdos da década de noventa, a muitos passou pelas beiças Starship Troopers, filme Americano que satiriza não só a politização dos Estados Unidos como nação, mas também o exagero nesta frente da sua força militar. Não obstante as várias análises negativas no lançamento das grandes bilheteiras, Starship Troopers tornou-se um clássico de culto e rapidamente originou várias sequelas, inclusive alguns videojogos medíocres. Terran Command não vem quebrar esse molde, embora esteja bem ciente da sua fonte de inspiração.
Encaixado no género RTS, Starship Troopers: Terran Command poderia ser apelidado, com muito custo, de um Company of Heroes da feira intergaláctica. Não pela tentativa óbvia de querer ser tão irónico ou humorístico como a fonte de inspiração, mas sim porque, fora as (poucas) opções táticas de lidar com confrontos, larga parte do combate no planeta Kwalasha, onde decorre a única campanha do modo história, existe pouco foco na narrativa (que é compreensível) e muito na atitude gung-ho, evacuações desmedidas ou “segurar o forte” pela qual a série é conhecida. Não é uma má decisão, mas durante as vinte e poucas horas de todo o conteúdo é só o que há para almoçar/jantar/lanchar.

A progressão da campanha principal segue uma estrutura simples e básica: em primeira instância estão disponíveis esquadrões de riflemen, com subsequentes tipos introduzidos missão-sim-missão-não. O mesmo acontece, claro, com os inimigos, sendo que a variedade torna os desafios um pouco interessantes mais tarde. Um dos problemas em Terran Command foca-se nesta simplicidade, pois metade das missões em Kwalasha são tão básicas em execução que a sonolência do jogador é uma questão real. Mais tarde, conforme referi, existem diversos elementos a ter em conta o que contribui para combater dita sonolência. A estratégia de Terran Command acaba por revelar ser essa mesmo: escolher os diferentes elementos que complementam a missão em questão.
Ao contrário de outros RTS típicos, como um Age of Empires ou Command and Conquer, Starship Troopers: Terran Command utiliza uma troca de recursos e/ou moedas de troca para disponibilizar esquadrões ou robôs de combate, obrigando a um importante resource management por parte do jogador para ter as unidades certas na missão certa. Esta logística tende a ser um dos outros focos do videojogo, entrando em conflito com outra questão: o posicionamento das tuas tropas. Em Terran Command este elemento é de extrema importância pois várias unidades empilhadas, umas em frente às outras, resulta em absolutamente nada senão morte certa. O problema aqui introduzido encontra-se na falta de opções para mobilizar estas tropas em grupo, necessitando que os esquadrões sejam utilizados um a um na maior parte das vezes.

É porreiro, no entanto, que todos os esquadrões possam subir de nível individualmente, adquirindo novas habilidades que são bastante úteis para destruir estes malditos insetos. Este estilo de progressão claramente favorece escolhas inteligentes invés de simplesmente mandar a carne para canhão ad eternum sem razão alguma. Por outro lado isto revela ser frustrante por ser mais um elemento a ter em conta numa missão que provavelmente já é caótica o suficiente com várias coisas a acontecer.
Fora os problemas técnicos (já lá vou) o respeito e carinho pela saga está em força em Terran Command. Toda a apresentação, desde a narrativa à jogabilidade, presta homenagem em algum sentido a Starship Troopers; várias cinemáticas, a dobragem e os eventos dentro e fora do jogo são algumas das coisas que saltam positivamente à vista neste título. Este foi o aspeto que mais me agradou, apesar de tudo o resto ser um pouco morno. Só é pena a interface gráfica para o utilizador ser feia (gosto pessoal) como demonstram as capturas de ecrã.

E no final de tudo resta relatar os problemas técnicos que encontrei. As opções gráficas em exposição não são muitas e mesmo quando são alteradas a mudança só toma efeito mediante um completo restart de Terran Command. Até aqui tudo bem, mas o videojogo não te avisa disso e mostra as opções como aplicadas e alteradas. Outra queixa prende-se com carregar os dados gravados de uma missão: é preciso entrar dentro de um mapa para ter acesso à opção Load Game. O pathfinding A.I. dos esquadrões também não é o melhor, sendo que as tropas podem ficar presas aleatoriamente sem necessidade em sítios que deviam passar. Por último deixo a maior ofensa: no início do jogo é pedido para escolher o idioma em uso. Em cima da bandeira portuguesa de Portugal aparece e cito “Altera idioma do jogo para português brasileiro”. Sem querer desrespeitar os irmãos e irmãs do Brasil isto é imperdoável.

Starship Troopers: Terran Command já está disponível na Steam.