Quem me conhece bem sabe que tenho um grande afeto pela franquia Pokémon. Desde os meus 10 anos que entrei nesta febre com o Pokémon Blue e o meu gordito Game Boy. No entanto, a febre alastrou-se para além dos jogos, puxando-me também para o mundo do Pokémon Trading Card Game, as cartas de jogo que apaixonaram os fãs, encapsulando lindas ilustrações criadas pelos vários artistas, que ainda hoje são reconhecidos e adorados por muitos.

Há cerca de uma década atrás, iniciei um “pequeno” projeto, que envolvia capturar (ou melhor dizendo: colecionar) todos os Pokémon existentes na franquia, criando uma espécie de Pokédex em formato de cartas colecionáveis. Naquela altura, ainda estávamos na era do Pokémon X e Y. E, ainda que estivéssemos a falar de mais de 700 espécies de Pokémon para colecionar, eu já possuía boa parte das cartas. Contudo, devido a alguns fatores da vida, este projeto acabou por ficar adormecido, e as cartas arrumadas no dossier incompleto, à espera do dia de voltarem a ser olhadas.

O meu antigo e incompleto Binder

No entanto, este ano a febre do Pokémon Trading Card Game voltou a atacar-me, e em força! Tudo devido ao crescimento da comunidade Pokémon local no Algarve, que parece não dar sinais de abrandamento. A interação com os novos jogadores e a criação de novas amizades não só me fez querer voltar a jogar como também reacender a vontade de terminar o antigo projecto.

Após esta longa (e talvez aborrecida) introdução, vou contar-te como foi a aventura de colecionar todos os Pokémon numa só caderneta (também conhecida por Binder), para que tu também possas um dia seguir os mesmos passos, evitando alguns erros que cometi no processo, e teres o tua próprio Pokédex!

Definir um primeiro objetivo

O processo de colecionar 1025 Pokémon é algo deveras desafiador. Não só requer muito tempo, mas também de um bom planeamento e organização, para evitares erros.

Antes de sequer pegar numa única carta, tive que olhar para o leque de opções que existem atualmente e definir um objectivo. Falo nos vários tipos de raridades e formatos que existem no Pokémon Trading Card Game.

Pokémon TCG
As diferenças de raridades

Temos cartas com o formato comum que sempre conhecemos desde o início do jogo. Depois temos as cartas mais “dinâmicas” como as EX, que possuem uma ilustração bem mais chamativa, que realça mais à vista, ou as variantes ilustrativas (Illustration Rare / Special Illustration Rare) que possuem uma arte alternativa que preenche toda a área da carta. É escusado dizer que, apesar do seu incrível charme, estas raridades superiores têm um custo bem superior ao formato comum. E como estamos a falar de 1025 Pokémon, ficou fora dos planos incluir estes tipos de raridade neste projeto.

Com isto, para o primeiro objetivo, decidi apenas colecionar cartas normais, pois para além de serem muito mais acessíveis (com algumas exceções), ficam visualmente mais agradáveis ao olhar, sem muita mistura.

Um ponto a ter em consideração foi a necessidade das cartas possuirem o número correspondente do Pokédex, bem como a respetiva descrição do Pokémon. Se estamos a falar de criar um Pokédex, é bom que este contenha informação acerca do “bicho”. Porém, não defini este ponto com algo puramente obrigatório, pois com o tempo irei trocar as cartas antigas que já possuía por novas, já com a descrição e a numeração. Mais uma vez, o objetivo primário são os 1025 Pokémon, os refinamentos ficam para depois.

A aquisição de cartas

Então iniciada a aventura, como é que arranjo cartas novas? A resposta que pode vir à tona de um colecionador amador seria “abrir boosters”. Mas, infelizmente, essa resposta é tanto a menos correta como a mais dispendiosa de todas.

Pilhas e pilhas de cartas

Em vez de abrir boosters, apostei mais em interagir com outros jogadores e amigos, perguntando por cartas específicas, ou olhando para os maços de cartas sem valor que me traziam para “fiscalizar”. Isto foi excelente para iniciar a coleção dos Pokémon mais recentes, bem como algumas das gerações antigas.

Ainda que só tenha uma loja nas redondezas (a Mulligan Games), esta também deu um grande apoio, disponibilizando mais algumas cartas essenciais para rechear o meu Pokédex.

Contudo, cheguei ao ponto em que tive que arranjar outra forma de arranjar as restantes cartas, pois em certa parte já esperava que nem todos poderiam ter as cartas que procurava! Uma das grandes razões é o facto de alguns Pokémon que não terem reimpressões novas há muitos anos, o que dificulta o progresso.

Home page do Cardmarket

É aqui que entra a grande e poderosa ferramenta, autora do meu sucesso em obter as restantes cartas para a minha coleção. Apresento-te o Cardmarket, a maior plataforma de compra e venda de cartas TCG da Europa. Nesta, qualquer pessoa pode vender e comprar cartas de vários jogos TCG, como Pokémon, Magic The Gathering, Yu-Gi-Oh, Dragon Ball, One Piece, entre outros. Vê isto como a Vinted do mundo das cartas.

Ainda que o Cardmarket seja o salvador do dia, é preciso ter alguma atenção, como os preços dos portes de envio e o número de cartas que podemos encomendar sem que estes portes disparem de preço. Maioritariamente, foquei-me em comprar cartas comuns de vendedores Portugueses, cujo o preço variou entre os 2 e os 10 cêntimos, um intervalo de preços bastante aceitável além dos portes acessíveis.

Quando não houve outra hipótese, tive que recorrer a outros vendedores de fora, o que já exigiu custos de envio um pouco maiores. Contudo, este não foi o verdadeiro problema. O que esperava ser financeiramente acessível, tornou-se num ligeiro “sangramento” da minha carteira, à medida que me aproximava do final da minha coleção. Foi aqui que acordei para a vida, apercebendo-me da raridade de algumas das cartas.

15 euros por um Nihilego…

Falamos de cartas a ultrapassarem os 10-15 euros, pelo motivo de não existirem mais reimpressões de certos Pokémon, originando escassez. Para um colecionador de cartas de alta raridade, estes valores são meramente comuns. Porém, para alguém que só deseja colecionar do mais simples e barato possível, isto pode tornar-se frustrante e até mesmo impeditivo. Nesta situação temos que responder à pergunta: há pressa em acabar a coleção? Ou cedemos ao FOMO (Fear Of Missing Out) e investimos nas cartas?

Como sou uma pessoa que gosta de ter as coisas para ontem, optei por encomendar tudo o que faltou, ultrapassando com facilidade as duas centenas de euros. Sei que este “investimento” foi precipitado, mas não foi totalmente em vão, pois o preço destas cartas tem vindo a subir devido à escassez das mesmas. No entanto, foi um valor inesperado que deixou mossa no meu orçamento mensal.

Em suma, se não tens pressa, evita comprar impulsivamente como eu. Desfruta do hobby e coleciona ao teu ritmo. Se alguma carta está cara, poderás esperar por uma possível reimpressão do mesmo Pokémon numa coleção futura. O que importa é que te divirtas a fazê-lo, quer sozinho ou em conjunto com alguém.

Manter-me a par do progresso com a aplicação DEX

Uma coleção nunca estará bem organizada sem a ajuda de uma ferramenta que nos ajude registar o nosso progresso. Não é qualquer um que se consegue lembrar de quais Pokémon faltam dos 1025 Pokémon, não é verdade?

No começo, utilizei ficheiros Excel / Google Sheets e listas impressas para registar o meu progresso. Mas isto não foi nada viável, pois muitas vezes gostava de ter conseguido ver qual era a versão da carta de tinha daquele Pokémon específico, ou saber que arte em particular estaria à procura para poder mostrar a alguém.

Vários erros surgiram em resultado desta má gestão, e até em certos casos acabei por adquirir cartas repetidas, por não ter a lista à mão ou esquecer-me de marcar que tinha encomendado aquelas cartas e que já estavam a caminho.

Dada esta frustração, aconselharam-me uma aplicação perfeita, que me permitiu afinar o progresso da minha coleção, bem como também catalogar todas as cartas que possuo hoje: o Dex.

A lista de todos os Pokémon existentes

Dex é uma aplicação, desenvolvida em território Português, pela Dexbit, que permite registar todas as cartas existentes do Pokémon Trading Card Game, bem como gerir o progresso das várias expansões existentes. Além disto, como o nome da aplicação (Dex) já sugere, é também possível marcar os Pokémon já coleccionados, bastando apenas registar uma das cartas (referentes a um Pokémon) para este ficar marcado na lista de “capturas”. Se outro amigo também tiver a aplicação, este pode entrar na lista de amigos, permitindo ambos verem as cartas que faltam de cada um.

Contudo, a verdadeira delícia desta aplicação é, também, poder controlar quais as versões das cartas de Pokémon que, futuramente, gostava de obter e colocá-las numa pasta personalizada para ficar tudo organizado. Na versão gratuita, pude criar até três pastas. Estas foram batizadas de “Pokédex”, “Cartas Desejadas” e “Retificar/substituir”. Estas três, deram para o essencial, mas ainda assim, houve a necessidade de criar mais uma ou outra para gerir melhor os outros objetivos. Foi então que Dex+ entrou em cena.

O Dex+ é um modelo de subscrição (3,99€/mês), que adiciona mais algumas funcionalidades essenciais para os verdadeiros colecionadores. Estamos a falar de poder criar mais pastas, poder ver o valor de mercado das nossas cartas no Cardmarket, invés de apenas no TCG Player (plataforma internacional fora da Europa) e até poder fazer scan das cartas com recurso à câmara do teu equipamento.

Lista de cartas que procuro

Em adição a tudo isto, temos também um sistema de Crachás, onde recebes um a cada objetivo que cumprires no progresso da coleção, como por exemplo colecionar todos os Pokémon de uma certa Região ou todas as evoluções da Eevee. Alguns destes crachás concedem ainda ícones de aplicativo para que possas mudar no teu perfil de utilizador.

Apesar da aplicação encontra-se disponível apenas para equipamentos iOS e MacOS, esta encontra-se disponível como uma aplicação Web, pelo que deverás conseguir aceder a partir do Browser no PC ou Smartphone Android. Contudo, dado que esta aplicação Web está em Early Access, algumas funcionalidades não estão ainda disponíveis, como a gestão de pastas, valor de mercado total das coleções nem a funcionalidade do scan de cartas.

A organização

No meu caso, como já possuía um volume grande de cartas dos meus antigos tempos, foi necessário organizar tudo por ordem do Pokédex. Salvo algumas coleções antigas, todas as cartas de pokémon contém o respectivo nº de Pokédex marcado logo abaixo da ilustração da carta, ou no rodapé da carta (no caso das primeiras duas gerações de Pokémon). Isto facilita muito no processo de organização, e foi com foco nesta especificidade que optei por organizar as ditas cujas da seguinte forma: 

Fluxograma de como organizei os cartas

Fazer pilhas de cartas com os números das centenas (pilha 1 dos 1-99, pilha do 100-199, pilha 3 do 200-299, etc..). No caso de cartas que não contenham o nº, coloquei numa pilha à parte e posteriormente pesquisei pelo nº na Internet. 

Feitas as pilhas, procedi à mesma tarefa, agora focando-me nas dezenas, para cada uma das pilhas. Assim que finalizei a pilha das dezenas, passo de imediato para a organização das unidades, já que é muito mais fácil organizar esse pequeno volume de cartas e fechar logo uma das pilhas das centenas.

Com tudo agora organizado, foi questão de arranjar uma caixa temporária para colocar tudo lá até conseguir à hora de transferir para o Binder. Nota que, no meu caso em particular, ainda não possuía um binder para conseguir colocar tudo lá. Poderia colocar tudo em outros binders enquanto colecionava e não arranjava um maior? Sim podia, mas achei que não valeria apena estar a perder tempo em retirar tudo novamente para colocar no novo.

Tudo organizado e pronto a entrar no Binder

O grandioso Binder

Talvez o mais importante de todo o processo foi encontrar um Binder grande que pudesse incorporar todas estas cartas. Sim, poderia ter ido pelo caminho mais simples e obter múltiplos binders com 360 slots, mas isto perderia o sentido de ter tudo num só lugar. Infelizmente, a maioria dos locais onde procurei apenas tinham Binders com 1024 slots para cartas, o que obviamente não é o suficiente para conter os 1025 Pokémon base.

Com sorte, ao fim de algum tempo em agonia, encontrei uma loja na Europa, de nome PremiumSets, que recentemente disponibilizou um novo Binder, com a capacidade para conter até 1280 cartas. Então não perdi tempo em meter as mãos neste e partir para a colocação das cartas!

Assim que este chegou, foi notório o quão grande este Binder é, quando comparado com os outros Binders. Enquanto um Binder convencional possui capacidade para 9 cartas por página, este Binder da PremiumSets têm capacidade para vinte cartas por página. Imagina estares a ver 40 Pokémon de uma vez só, quando passas cada folha! É um autêntico mimo!

Binder da PremiumSets comparado com um Binder convencional

O tamanho deste Binder é algo a ter em conta, pois foi preciso um espaço bem maior para poder arrumá-lo em segurança. Se pensas em obter um igual, sugiro que tires as devidas medidas para que possas saber onde o colocar.

Obedecendo aos não tão novos standards, as cartas são inseridas nas páginas horizontalmente, invés da vertical, evitando que estas saiam do sítio com facilidade, como acontecia com o meu antigo dossier de folhas verticais.

De forma a proteger a coleção, este Binder vem com um fecho zip, que permite selar o Binder por completo, evitando assim que as cartas possam saltar para fora em caso de queda acidental.

Por uns “meros” 59,99€, este binder apresenta uma boa relação qualidade-preço, sem falar da quantidade de cartas que consegue albergar. Quer sejas colecionador de Pokémon ou não, este binder consegue “comer” qualquer carta que lhe envies lá para dentro. Contudo, não é um binder que cabe numa mochila, por isso tem isto em mente quando quiseres transportar o mesmo para algum lado.

Mew com a Penny sleeve colocada

Como medida extra, arranjei também capinhas (sleeves) para dar uma proteção adicional às cartas no Binder. A este tipo específico de capas chamamos de Penny sleeves, pois são mais baratas que as convencionais, utilizadas nos Baralhos de jogo, servindo apenas para dar proteção extra às cartas dentro dos Binders.

Chegando a hora de colocar tudo no Binder, esta foi sem brincadeira uma grande aventura à parte. Levei, sem brincadeira, cerca de 45 minutos para colocar as cartas todas neste Binder. Estando dobrado e fazendo movimentos repetitivos não foi o melhor procedimento, acabando por dar uma pequena dor de coluna e braço no final desta “maratona”.

Porém, o maior erro de todos veio ao de cima, assim que notei que faltou colocar as sleeves em todas as cartas! Este erro justifica-se em grande parte devido à pressa de querer “espetar” tudo logo de uma vez e apreciar o resultado final. Mas o que é que isso me custou? Umas incríveis TRÊS horas a retirar cada carta, colocá-la numa sleeve e voltar a meter no sítio! Mais uma vez, falta de planeamento!

Finalmente, com tudo no sítio, o objetivo foi cumprido, e chegou a hora de respirar um pouco e apreciar o grande feito que consegui alcançar, após 3 meses de muito esforço e dedicação!

A aventura continua!

Depois de completar o primeiro objetivo, nomeadamente colecionar os 1025 diferentes Pokémon, comecei a definir objetivos secundários. Um deles foi colecionar todas as 58 variantes regionais dos Pokémon. Este objetivo felizmente conseguiu ser cumprido com alguma facilidade, com poucas cartas a possuírem valores demasiado inflacionados. 

Outro objetivo, que atualmente ainda estou em progresso, é colecionar as várias formas existentes dos Pokémon, como as várias formas de Rotom, Deoxys e até mesmo de todos os Unowns. Porém, dado que ainda não existem todas as formas existentes dos jogos Pokémon no TCG, este objetivo ficará sempre em aberto.

Mais uma pequena coleção completa (Unown de A-Z + !?)

Num futuro não muito longínquo, como último objetivo, tentarei colecionar todas as Mega Evoluções e as formas Gigantamax. Este provavelmente será mais um objetivo dispendioso, mas será aquele que vou fazer a um ritmo mais calmo, pois o objetivo principal foi concluído e é desse que devo ter o real orgulho em ter alcançado.

Não te consigo dar valores exactos, mas posso dizer que o valor desta brincadeira ultrapassou os 350 euros (tendo em conta os múltiplos portes de envio da plataforma Cardmarket). E isto tendo em consideração que já possuía pouco mais de 300 cartas antes de pegar novamente neste projecto! Em casos particulares, preferi comprar uma versão da carta ligeiramente mais cara do que existia. Falo por exemplo de preferir uma carta mais antiga e brilhante de entre os 30 cêntimos e 1 euro. Ainda que tenha sido muito ocasionalmente, não deixa se soma ao bolo total gasto. Contudo, é um valor que assusta, em especial quando nem te dás conta, até começares a olhar para trás e a somares as despesas feitas.

Em conclusão, como já referi algures neste mar de palavras, este é um hobby com uma grande potencial dinâmico, onde qualquer um pode definir N objetivos e construir a sua coleção da maneira que assim o entender. O que leste aqui hoje foi apenas a minha aventura pessoal. Nada do que fiz obedece normas de colecionador. Apenas quis seguir este caminho e criar algo que realmente gostei de ver alcançado. Contudo, espero que algumas das dicas consigam ajudar-te a construíres a tua própria coleção!

Agradeço a amabilidade de Pedro Carrasco em disponibilizar o Dex+ e a PremiumSets pela cedência de um dos seus Binders para a produção deste artigo.


Qual é a tua coleção de cartas que tens mais orgulho? Deixa a tua resposta nos comentários!

Bruno Dores
Um fanático por Nintendo, de nome "Nintendista", que procura mostrar ao mundo o lado mágico da empresa que o acompanhou durante toda a vida.