A cidade deve sobreviver. É desta forma crua que somos apresentados a Frostpunk, um título de sobrevivência e gestão de 2018, desenvolvido e publicado pela 11 bit studios. Vejo este título como uma reflexão do peso das escolhas sobre a luta humana contra a extinção, onde o frio absoluto é tanto inimigo físico quanto psicológico. No comando da última cidade da Terra, precisavamos de encontrar equilibrio de recursos, compaixão e brutalidade nas nossas escolhas, descobrindo até que ponto a moral pode ser sacrificada para que a esperança sobrevivesse. Passaram 7 anos, e estamos de volta.
Frostpunk 2 decorre 30 anos depois dos eventos do primeiro jogo. O mundo continua congelado: New London sobreviveu, mas enfrenta novos desafios, o carvão está escasso, a cidade encontra-se superpovoada, a infraestrutura antiga desgastada, e a moral da população começa a ruir.
A grande mudança do jogo deve-se a um recurso: o petróleo. Em vez de dependermos exclusivamente do carvão, a busca por fontes alternativas de combustível como petróleo torna‐se crucial para manter os geradores a funcionar e garantir o aquecimento, e o jogo encarrega-se de nos mostrar bem cedo essa alternativa, no prólogo. O jogo faz uma analogia muito interessante e até subtil. No antecessor, o carvão era quase um símbolo puro da sobrevivência: cavar, queimar, aquecer. Na continuação, quando o petróleo entra em cena, a narrativa muda, já não se trata apenas de manter a chama acesa, mas de lidar com o peso político e social que esse recurso carrega. É disto que se trata Frostpunk 2, e quem espera uma continuação da mesma base, terá que trocar o chip de mentalidade e saber que a única coisa garantida, é a necessidade de várias tentativas e erros até conseguir finalizar o modo história.
Para se ter noção da dimensão do título, agora construímos distritos, ao invés de casa isoladas, possibilitando cidades muito maiores. A escala estratégica é mais longa, isto é; precisamos de pensar a médio e longo prazo, planejar expansão, suprimentos, mas e sobretudo, as relações sociais e gestão de consequências. É tudo muito mais político, já que a população encontrou ao longo destes anos formas de sobrevivência. Quem gostava do primeiro pela sua atmosfera de sobrevivência, vai achar aqui uma camada extra de complexidade, que ao início pode causar confusão, mas depois de entrosados, torna-se uma sequela especial. Para aprovar leis e tomar decisões, é preciso jogar o jogo político com sabedoria.
Frostpunk 2 não perde a tensão do seu antecessor. As facções, o conselho da cidade, as promessas e compromissos. Cada decisão não é só pensada nos recursos mínimos do nosso povo, e se se vive mais um dia ou se passa fome, mas mais no tipo de sociedade que queremos construir, que alianças vale manter, que sacrifícios estamos disposto a fazer. A moral existe, a motivação também, mas uma população insatisfeita não produz; é mais por aí. Se gostas dos dilemas éticos do primeiro ou se não jogaste mas és fã do estilo, é um prato cheio.
Gerir os distritos e planejar infraestrutura numa escala bem maior pode ser desafiador, e achei este além de mais complexo, ligeiramente mais desafiador também. Agora existe uma comunidade bastante extensa formada, e temos que pensar nos votos do conselho, equilibrar cada facção para que não entre em conflitos, além de termos de cuidar dos recursos e do crescimento orgânico. É uma proposta diferente e percebo que para muitos, seja até mais abstrata. O jogo perdeu a essência de familiaridade com cada cidadão. Custava-me ver cada pessoa morrer de frio no primeiro título, e aqui não se sente isso, perdeu-se um pouco o lado pessoal da proposta em prol do que referi acima. A nossa cidade passou a ser gerida à distância e não se sente aquele peso dos sentimentos pelas pessoas que lá vivem.
Os dilemas são mais raros do que no primeiro jogo, em parte porque a escala é maior, o foco é mais macro, mas quando surgem, tendem a envolver mais facções e compromissos de longo prazo. Decisões como aceitar ou rejeitar refugiados continuam a trazer em escala diferente, qualidades e consequências: mais mão de obra, e uma questão simplesmente humanitária, mas traz custo para a habitação, consumo de calor e claro, alimentação, além de gerar tensão entre facções que priorizam ordem ou escassez. O uso do trabalho infantil está de volta, e que tanto usei no primeiro jogo (perdoem-me crianças), e novamente, traz as consequências do costume, como não seria de esperar outra coisa, mas há uma adição: a criminalidade infantil. Sim, as crianças voltaram para deixar tudo mais complicado, a dobrar. Há literalmente gangues destes marginais, a matarem-se uns aos outros se não tiveres um controlo mais afincado sobre elas.

A progressão e o ritmo de Frostpunk 2 também é mais espaçado, e isso deve-se à escala uma vez mais. Como as cidades são maiores e controlamos os distritos por hexágonos, em vez de 50 dias do primeiro jogo, o tempo é medido até centenas de semanas, o que para mim até é mais tranquilo e me dá mais tempo de programar tudo o que quero elaborar em alguns distritos, além de mais profundidade estratégica ao gerir distritos e expandir exploração.
O pior aspecto do jogo é a interface. A interface induz ao erro com frequência. Não sei se foi por estar a jogar numa PS5, mas acredito que seja. Há muitas funções pouco claras e o jogador perde bastante tempo apenas a tentar entender como as usar. Já no primeiro Frostpunk senti isto, mas em menor escala. O port para consolas é muito bem feito, mas sem dúvida que este jogo atinge todo o seu potencial com rato e teclado, e Frostpunk 2 ficou com uma navegação ainda mais confusa.
Passando aqui ao lado técnico da obra, claramente que os gráficos foram melhorados, com um estilo visual mais refinado, e a continuação daquele som ambiente e banda sonora característica, arrepiante, que reforça a ambientação gelada e opressiva. O título conta com 3 modos de jogo na versão de consolas PS5 e Xbox Series X: O modo de qualidade, que preza pelo grafismo superior sacrificando a taxa de quadros. O modo de desempenho, que faz o oposto, mas nos entrega uns 60 quadros não sempre fixos (versão PS5), mas com poucas quebras. Por fim, temos o modo equilibrado, virado para quem tem uma TV ou monitor de 120Hz, entregando 40 frames por segundo.
Agradecemos gentilmente à editora por nos terem cedido uma cópia digital para análise.