Embora nunca tivesse duvidado da Warhorse, surgiram alturas em que a viagem de Henry me parecia ter ficado em pausa, ou até mesmo colocada em causa, dada a ausência de quaisquer informações sobre a mesma.
Felizmente, e sem qualquer hesitação, o estúdio checo decidiu esperar pelos meses que antecederam o lançamento da sequela para começarem a campanha de marketing, e que bem lhes correu.
Kingdom Come Deliverance II dá seguimento à história de Henry de Skalitz, filho de um ferreiro que vê a sua aldeia massacrada e pilhada por ordem do rei Sigismund. Adicionalmente, conhecemos os vilões, Istvan Tóth e Markvart Von Aulitz, que matam os seus pais e roubam a espada que originalmente seria para oferecer ao Lorde Radzig, com Henry a embarcar numa viagem para recuperar o que acredita ser seu por direito.
Após uma odisseia marcada pelas ações de cada um dos jogadores que decidiu o percurso de Henry, chegamos ao cliffhanger que nos deixou expectantes durante 8 longos anos.
Iniciamos então esta sequela como fiel conselheiro e guarda-costas de Sir Hans Capon, o imenso resmungão e presunçoso sobrinho do Lorde Hanush. Com a missão de entregar uma mensagem diplomática, apelando à união dos aliados de Wenceslas, somos vítimas de uma emboscada, voltando ao estatuto de campónio, com as valências já aprendidas até então.
De imediato, Kingdom Come Deliverance II apresenta-se mais aliciante e intuitivo do que o antecessor, dado, como já referi, termos todas as capacidades que tivemos de aprender no primeiro jogo. Claro que isto, embora nos possa ajudar, não facilita a progressão do desta iteração, com a curva de aprendizagem a manter a consistência. Mesmo com as valências, temos de recuperar todas as nossas posses, tendo de nos safar com o que temos, ou, caso queiram arriscar, começarmos a nossa maré de crimes.
A narrativa tem aproximadamente a mesma longevidade, e ramifica-se o suficiente para criar histórias secundárias que criam impacto emocional, e ao mesmo tempo não se sentem como simples tarefas. Um dos problemas principais da história reflete-se até como um dos principais problemas do jogo no geral, que são os bugs. Foram várias as vezes em que tive de recarregar um save porque cheguei a um ponto da missão em que se tornava impossível progredir, dado o desfecho ser uma situação estapafúrdia, como os meus aliados fugirem todos e eu ficar sozinha a enfrentar um grupo de inimigos.
No geral, o desenvolvimento narrativo vai variando através de diversos tipos de missões e reviravoltas na história, com novas personagens e localizações memoráveis. Mesmo numa viagem onde o mundo nos puxa em cada recanto, Henry vê o desfecho da sua história ter a qualidade que merece.
Falando em recantos, não posso deixar de abordar o belíssimo mundo que a Warhorse criou para nos perdermos. Com praticamente o dobro da escala do primeiro mapa, não só o tipo de localizações varia, como a verticalidade acrescenta complexidade à exploração, com a segunda metade do jogo a revelar uma construção digna de vasculhar até à última pedra.

Adicionalmente, encontramos inúmeras atividades para realizarmos durante a exploração, levando estas a mini jornadas que se encontram recheadas de humor, drama, ou até mesmo algumas caminhadas que parecem saídas de filmes de terror.
Entre imensas melhorias, ficam por remendar algumas teimas que temos de respeitar, mas que podiam ter alguma alternativa. Falo por exemplo de apenas podermos fazer fast travel para cidades ou localizações específicas. Adicionalmente, mantêm-se as nuvens que escondem partes do mapa, mesmo quando passamos por lá enquanto estamos em fast travel. Somos obrigados (se não quisermos recorrer a mods) a percorrermos o mapa todo a cavalo, o que não seria chato, não fosse a stamina limitada dos cavalos que temos, pois mesmo com as melhorias que alcançamos a certa altura, até com a opção de seguirmos o caminho pré-feito, estamos constantemente a ter de carregar na tecla de sprint para manter o cavalo em movimento.
Falando em movimento, não posso deixar de referir o combate: Bastante mais dinâmico do que a primeira viagem, encontramos maior variedade e complexidade na forma como abordamos o combate, seja em curta ou longa distância. Mesmo em conflitos de larga escala, são várias as tarefas que acarretamos para afastar inimigos ou escalar muralhas.
Já dentro das cidades, estas sentem-se mais vivas do que no primeiro jogo. Os aldeões estão mais perspicazes, estranhando portas abertas dentro de casa, o que os leva a verificarem imediatamente se algo foi furtado. Eu, que segui uma vida de crime escondido, vi-me forçada a redobrar os cuidados quando passeava dentro da casa de estranhos, dado praticamente todas as casas valiosas terem os chamados hired hands para ajudarem com tarefas, e defenderem os seus bens.
Surgem novos grupos, cada um com a sua particularidade e/ou nacionalidade, trazendo sabores diferentes às interações, seja em simples diálogos, ou até mesmo no tipo de missões. Entre grupos e culturas, encontramos uma mescla de recordações que tornam o fim da viagem ainda mais completo.
Com uma viagem tão longa e completa, a Warhorse corre contra todas as expectativas e alcança um port que faz o antecessor parecer um trabalho do secundário. Através do uso do bastante desvalorizado Cry Engine, encontramos uma experiência estável e ao mesmo tempo, apelativa.
Os visuais não evoluem ao ponto de rivalizarem com os titãs artísticos, mas mantém um estilo sublime e que se integra perfeitamente com a era retratada. Os modelos das personagens mereciam um tratamento melhor, mas se tivesse de escolher entre a complexidade das interações ou um sorriso mais aprimorado, tomava a mesma decisão que a Warhorse tomou. Já a vertente sonora não se expandiu para lá da experiência oferecida no primeiro, com foco apenas na variedade de sons, sendo que esta surge maioritariamente nos bosques. As prestações são mais profundas emocionalmente, mas têm o cuidado de não ocupar demasiado tempo de ecrã, integrando-se bem com os acontecimentos que as motivam.
Um agradecimento especial à Ecoplay pela cedência de uma cópia para análise na plataforma PC Steam.





























