De 7 a 10 de Julho de 2005, a Universidade Lusófona recebeu mais uma edição de Over & Out. É uma celebração ao percurso académico e artístico dos estudantes da Licenciatura ao Doutoramento, com uma programação diversificada com o objetivo de dar visibilidade aos projetos desenvolvidos ao longo do ano.

O evento é anual e é promovido pelo Departamento de Cinema e Artes dos Media (DCAM) e este ano teve como tema “navegação”, e, citando o texto da apresentação do evento “convocando reflexões em torno das formas como exploramos, mapeamos e reinventamos o território criativo e intelectual das artes contemporâneas, do cinema e dos media”.

Não é só uma exposição de artes e mídia, mas também é um espaço de partilha e celebração com a comunidade académica e o público em geral, e é com esse pensamento que eu gentilmente aceitei o convite para participar neste evento e ser um dos jurados.

A partir deste ponto do artigo vou encarar como um diário de experiência pessoal sobre o dia 11 de Julho que foi o dia do evento:

Infelizmente, por motivos pessoais, viagens de longo curso têm sido um enorme problema para mim devido às distâncias e fez-me limitar muito as minhas opções de conseguir ir aos eventos que quero ir. Confesso que nunca tive a experiência de ser júri de qualquer concurso ou evento, por isso senti algum entusiasmo enquanto o dia do evento se aproximava.

E finalmente eis que chega o dia. Começou logo bem o dia quando cheguei a Lisboa: estava a chover e eu estava com roupas de Verão e com a minha mochila. Mas o tempo não me fez demover e pensei seriamente que o São Pedro estava claramente a gozar comigo, pois parou de chover um pouco depois de ter sido obrigado a comprar um guarda-chuva.

Aproveitei o pouco tempo que tinha planeado para comer o que tinha trazido e passar pelos sítios que não passava há muito tempo; e ir a pé até ao local onde ia decorrer o evento.

E eis que finalmente cheguei à Lusófona, mais especificamente no GamesLab. O evento decorreu no 2º Andar, e o andar estava bem lotado com alunos do curso e com os visitantes e jurados.

Foi uma mostra de videojogos da Lusófona e da EPIC-WE. E antes de avançar com o artigo, convém explicar o que é exatamente o EPIC-WE:

O EPIC-WE é um projeto financiado pela União Europeia com o objetivo de apoiar os jovens e os seus futuros através de jogos. Conta com a colaboração conjunta com centros culturais em Óbidos, Portugal, Hilversum, Holanda e Aarhus, Dinamarca, que, com a partilha cultural, já permitiu serem criados mais de 80 jogos culturais em que preservam a cultura e o passado.

À primeira vista digo que houve um variado tipo de jogos (VR incluído e que infelizmente não deu para experimentar nenhum) e é de destacar que daquilo que joguei houveram fortes inspirações de jogos nos anos 90/inícios de 2000. Infelizmente não deu para jogar todos, por isso vou resumir alguns dos jogos que já conhecia e/ou joguei e partilhar a minha opinião sobre os mesmos:

Thank you, Doctor

O Thank you, Doctor é um jogo de narrativa que nos transporta para o ano de 1963, onde a fórmula do leite materno chegou finalmente ao país onde decorre a história. Segue a história de uma mãe solteira de 25 anos que trabalha para garantir os mínimos para o seu bébé recém-nascido e o jogo começa quando o seu patrão rico a ameaça despedi-la se continuar trazer o seu filho ao trabalho. A partir deste ponto a história vai trazendo uma mensagem social cada vez mais óbvia que no fim culmina com factos e estatísticas oficiais da UNICEF a chamar atenção ao público sobre os países subdesenvolvidos.

Pessoalmente, isto foi um dos jogos em que a jogabilidade foi mesmo posta de parte e o que interessou mais foi a história e o impacto da mensagem que queria transmitir e a história do jogo infelizmente é bem real e espelha com a realidade.

GoPissGRL

GoPissGRL é simplesmente um dos jogos mais loucos e imprevisíveis que conheço. Não existe melhor forma de descrever o jogo sem ser dizendo que é um jogo de primeira pessoa com puzzles e elementos de escape room em que simplesmente acontecem coisas loucas e aleatórias com o sobrenaturalismo à mistura. Pondo as palavras dos criadores do jogo: “Jogam como uma mulher que, a meio da sua longa roadtrip pelas paisagens americanas dos anos 90, se encontra subitamente com uma vontade apocalíptica de urinar e a única coisa que a separa do alívio são alguns, mais que alguns, inconvenientes puzzles!“.

Tive o prazer de conhecer o Afonso Cunha do OvOStudios no Lisboa Games Week de 2024 e na altura cheguei a experimentar o outro jogo que eles tinham na exposição. Foi-me concedida uma demo na altura e uma coisa que falei foi o clássico grafismo de jogos da PSX no período a partir de 1996 que gostei imenso, e, infelizmente, por motivos de tempo, não me cruzei com ele de novo e não deu para experimentar a nova versão, mas faço questão de deixar uma menção honrosa sobre este jogo.

Occupied

Occupied é um Survival Horror com mecânicas inspiradas do clássico jogo de 1995 Clock Tower. No jogo somos um ladrão que temos o objetivo de assaltar uma casa e roubar uma gema preciosa, mas o problema é que a casa está habitada por um assassino psicopata e está cheia de armadilhas. O jogo tem um estilo pixelizado que faz lembrar muito os jogos no MS-DOS nos fins dos anos 80/inícios de 90 e o principal foco da jogabilidade é o uso da lanterna para ver por onde andamos.

Para mim, um dos melhores jogos da montra. Mesmo não sendo fã de terror, gostei imenso da história, do ambiente e da tensão de termos de fugir do assassino. A meu ver, o Occupied é um jogo que tem bastante potencial e adorei imenso.

Hydra’s Voyage

Hydra’s Voyage é um jogo de tabuleiro desenvolvido pela Anni Paz em 2024 onde nós temos 16 turnos para guiar o nosso barco até à terra seca antes que seja destruído. Está dividido em 4 estações do ano e temos que chegar ao destino em cada estação através do mapa celestial escolhido aleatoriamente. Gastamos turnos em desenhar o rumo do barco ou apanhar recursos para garantir a sobrevivência do barco e tem que se ter atenção com os recursos, pois se passarmos o limite dos recursos o barco fica sobrecarregado e perde-se automaticamente o turno ou se faltarem recursos perde-se o jogo. Outra dificuldade que o jogo tem tem a haver com a navegação das «áreas cinzentas», onde podem acontecer desastres naturais ou não.

Como fã de jogos de tabuleiro, gostei bastante do jogo e da sua premissa. É um autêntico contra-relógio contra o jogo e consegue ser bastante punitivo às custas dos eventos da «área cinzenta» e isso faz tornar o jogo mais desafiante.

Hydra’s Voyage

Bufo Catcher

Bufo Catcher é um jogo de dedução dedicado à Revolução. Somos um guarda com a simples missão de identificar e permitir ou não a entrada á reunião que é crucial para o planeamento da Revolução.

É um jogo fortemente inspirado da reunião que originou a Revolução de 25 de Abril e tem que se prestar atenção ao todo o tipo de pormenor, como o título militar da pessoa em questão ou o nome ou a palavra passe. No fim da interrogação temos a oportunidade de descobrir quem é o espião da polícia da Ditadura e garantir o sucesso da reunião.

A premissa é histórica e a jogabilidade é bastante semelhante ao Contraband Police mas simples. Um jogo bastante agradável com boa apresentação e inspirado em factos históricos que mudaram completamente o nosso país.

Nota de destaque para dois jogos para GameBoy. Void Mutiny e Mino’s Maze, dois jogos desenvolvidos por alunos do 1º Ano.

Mino’s Maze é um Dungeon Crawling inspirado do Anime Ulysses 31 onde Ulisses percorre o labirinto do Minotauro à busca de Theseus. Um jogo bastante simples onde tem que se resolver puzzles com botões.

Void Mutiny é um jogo de ação espacial de vista vertical. Mais uma vez inspirado do Anime Ulysses 31 o jogo baseia-se na nave espacial Odyssey, que após uma emboscada com uma tempestade elétrica orquestrada pelos deuses, o objetivo do jogo torna-se em conseguir resgatar os amigos que ficaram sob controlo dos deuses. O jogo tem uma jogabilidade muito semelhante ao Alentejo: Tinto’s Law com a diferença de permitir trocar armas.

Os jogos podem ser encontrados aqui e aqui. Outro grande destaque é ser possível jogar também nos Smartphones.

No geral, o Over & Out 2025 foi uma experiência bastante agradável. Ficou-se a descobrir o potencial e a imaginação dos alunos através dos seus projetos com bons resultados no fim. Alguns destes jogos estão disponíveis para jogar ou comprar nos respetivos sites dos jogos (e vou deixar os links dos jogos vencedores).

Vencedores dos prémios:

  • Prémio Telmo Couto: Melhor Conceito – Lost Frequency de Tiago Félix, Carolina Correia, Vasco Oliveira, Tiago Patrício e Diogo Simões (página do jogo)
  • Prémio Jogo Mais Inovativo – Master Galgabin de Isaac Pais, João Frazão, Matilde Ereio, Sara Camilo e Pedro Gouveia
  • Prémio Melhor Sistema Desenvolvido num jogo – OuterDim de António Rodrigues, Daniel Fernandes, Rafael José e Rodrigo Gomes (página do jogo)
  • Prémio Incentivo à Cultura – Bufo Catcher de Júlia Costa, Cátia Nascimento e Maria Sequeira (página do jogo)
  • Prémio Impacto Social – Thank You, Doctor de João Frazão, Matilde Ereio, Sara Camilo e Pedro Go (página do jogo)
  • Prémio Alt.Ctrl – Lost Frequency de Tiago Félix, Carolina Correia, Vasco Oliveira, Tiago Patrício e Diogo Simões (página do jogo)
  • Prémio Especial 42 – Occupied de Gonçalo Nascimento, Filipe Gonçalves e Simão Durão
  • Prémio Best Awkward Game – GopissGRL de Afonso Cunha, Mariana Martins, Júlia Costa e Gabriela Branco (página do jogo)
  • Prémio Melhor Jogo EPIC-WE – Criminal Fauna Identification de Afonso Cunha, Gabriela Branco, João Nogueira, Júlia Costa e Mariana Martins
  • Prémio Melhor Jogo do Ano – OuterDim de António Rodrigues, Daniel Fernandes, Rafael José e Rodrigo Gomes (página do jogo)
E como não podia deixar de ser, colecionar autocolantes também

Um agradecimento especial a Ivan Barroso pelo convite e pela oportunidade dada de fazer parte dos jurados.

Hugo Campos
Tendo o Mortal Kombat II como o 1º jogo que jogou desde os 5 anos, teve todos os PCs até ao Pentium 3 e mudou para as consolas quando consegiu ter dinheiro. Grande viciado de jogos de corridas, luta, RPGs e musicais, tem uma grande de coleção de jogos de ps2 até ao 5. É fundador do canal da Twitch Squil TV.