Gosto de puzzles. Sempre gostei. Há qualquer coisa de satisfatório em resolver um bom quebra-cabeças — seja para despertar o cérebro ou simplesmente para desligar por uns minutos.
Foi exatamente por isso que Pokémon Friends me chamou à atenção: uma app interativa de mini jogos, com puzzles simples e uma pitada de nostalgia. A promessa de algo na linha do Peak, mas com Pikachu e companhia, parecia irresistível.
Dirigido principalmente a crianças, Pokémon Friends não esconde as suas intenções: oferecer uma experiência acessível e didática, com desafios que desenvolvem o raciocínio espacial e outras habilidades cognitivas.

A estrutura do jogo — dividida em segmentos de três puzzles a cada poucas horas para quem não quer pagar mais por isso — garante que nunca há demasiado para processar de uma só vez, mantendo tudo leve e controlado.
Apesar de a dificuldade ser quase nula para jogadores mais velhos, há um certo charme nos pequenos detalhes.
A mecânica de recompensa, por exemplo: ao completar os desafios, recebes novelos de lã que colocas numa máquina Gachapon para ganhares peluches digitais de Pokémon. Ver qual vai sair a seguir acaba por ser, curiosamente, o momento mais emocionante de cada sessão.
Mas será que isso basta para manter o interesse a longo prazo? E será que a simplicidade do jogo é uma fraqueza ou precisamente o seu ponto forte? Vamos dar uma vista de olhos mais profunda a Pokémon Friends.

Pokémon Friends tenta apostar numa estética simplista e fofinha, mas o resultado fica aquém.
Os puzzles e mini-jogos parecem retirados diretamente de um pacote de jogos flash 2D dos anos 2000, cada um preso a uma única mecânica sem grande profundidade.
A tentativa de suavidade na arte falha tanto no tratamento gráfico como nos próprios ciclos de animação, que parecem curtos, rígidos e pouco polidos. Em vez de minimalismo com identidade, o que se sente é uma produção apressada, quase como um protótipo que nunca chegou a ser refinado.

O grande chamariz — colecionar peluches de Pokémon num estilo gachapon — acaba por ser mais uma desilusão do que uma motivação. O fator surpresa existe, mas não cria qualquer entusiasmo real; em vez de te prender, deixa-te indiferente.
A experiência não gera nem frustração nem satisfação: apenas uma sensação de vazio.
Resultado? Não há vício silencioso nem vontade de “só mais uma jogada” para o público mais veterano desta franquia— há apenas a constatação de que, mesmo com a marca Pokémon por trás, Friends falha em emocionar.

A jogabilidade de Pokémon Friends é simples até demais: puzzles rápidos e mini-jogos que, apesar de fáceis de pegar, raramente oferecem profundidade. O maior problema é que o jogo se torna artificialmente limitado pelo modelo de negócio.
Para além dos 10€ iniciais na versão de consola, estender a experiência custa caro: cada bundle de 15€ traz apenas 10 puzzles e 6 novelos de lã, com a “promoção” de 2 bundles por 26€.
No telemóvel, esse muro de pagamento não existe da mesma forma — o que cria uma desigualdade gritante na forma como os jogadores experienciam o jogo.

Os controlos funcionam bem dentro da simplicidade dos mini-jogos: clicar, arrastar, encaixar, girar. Nada a apontar, mas também nada de memorável.
O ponto alto acaba por estar nas referências diretas aos puzzles dos ginásios clássicos da série Pokémon, que dão uma pitada de nostalgia aos fãs mais atentos.
Infelizmente, essa ligação emocional não chega para compensar o facto de os desafios serem superficiais e de a progressão estar amarrada a um modelo pago que corta o ritmo natural do jogo. No final, a experiência acaba por saber a pouco — e a caro.

Mas em suma, valeu a pena jogar o Pokémon Friends?
Pokémon Friends é um jogo que só consigo recomendar a crianças ou a quem procura puzzles extremamente simples para desanuviar — para o resto do público, o que sobressai são as limitações: caro, repetitivo e pouco criativo.
A ideia dos peluches de lã até tem o seu charme, mas dentro do universo Pokémon não passa de mais do mesmo, e a versão de consola perde ainda mais sentido face à mobile.
No fim, senti-me totalmente fora do público-alvo, como quem observa de fora uma criança de 7 anos a brincar, feliz, com bonecos de lã; inocente, leve e inofensivo, mas incapaz de me oferecer a nostalgia ou o desafio que procuro num jogo da série.

Esta foi mais uma bit-nálise, análise tão curta que nem um bit ocupa. Em baixo podes contar com a ficha técnica:
Nome e Preço: Pokémon Friends – 9.99€
DLC e Preço: 15€ por pack ou 26€ os dois.
Editora: Nintendo
Testado num: Iphone16 e Nintendo Switch 2
Agradecimentos: Obrigado à editora pela cedência de uma chave para bit-nálise