Um dos géneros mais raros nos dias de hoje, ironicamente, são os jogos de stealth, sendo que a única franquia clássica que se encontra nos dias de hoje é o Hitman, com a sua recente trilogia.

O jogo que trago-vos hoje tira bastante inspiração de um dos jogos pioneiros do género, sendo uma viagem nostálgica, mas tendo também a sua singularidade.

Winter Ember é um jogo fortemente inspirado no clássico Thief, com bastantes semelhanças mecânicas, conceituais e artísticas.

A Vingança de Arthur Artorias

Winter Ember começa com o nosso protagonista Arthur Artorias a ter uma noite calma em sua casa, dirigindo-se para o seu quarto e a dormir pacificamente sem qualquer aparente ocorrência. Infelizmente, a meio do seu sono, a casa do nosso protagonista é atacada violentamente por assassinos misteriosos, e Arthur escapa por um fio, deixando tudo para trás.

A história tem como base a vingança de Arthur, onde ele procura quem foi o responsável pelo ataque à sua casa e família, e para isso ele terá de investigar e se infiltrar em zonas onde não é bem-vindo, juntamente com alguns aliados que o irão ajudar.

A história é bastante simples, tendo uma premissa bastante óbvia, mas serve como uma boa base para todo o mundo e a atmosfera do jogo, dando aquela sensação sombria num ambiente vitoriano, onde não se pode confiar em quase ninguém, e o perigo nos espera a cada canto.

Um mundo atmosférico para explorar

Um aspeto nostálgico de Winter Ember é sem dúvida a usa aproximação à atmosfera e cenário. Tal como nos clássicos do Thief, temos aqui uma cidade vitoriana, onde podes encontrar guardas que te irão atacar mal te detetem, como também temos civis inocentes a viver a sua vida normalmente, muitas vezes conversando sobre alguns acontecimentos e acrescentando à imersão.

O mundo é escuro e sombrio. Tendo a vingança como temática principal, a atmosfera do jogo foca-se fortemente nestes tons escuros e a manter alguma seriedade em toda a duração do jogo, ajudando a sentir empatia com o nosso protagonista, mas também a entender o estado e a vida das pessoas na cidade, sendo um sítio que aparenta não ser muito convidativo.

Mil e uma ferramentas ao teu dispor

A jogabilidade de Winter Ember tem uma base bastante simples, com zonas abertas que servem como hubs para várias side quests, lojas e alguma exploração, e também zonas mais lineares focadas em história e continuidade.

O jogo tem um sistema de stealth simples, mas eficaz. Tens som e visão como deteção direta, onde o som é representado por um círculo á volta da tua personagem no minimapa, e a visão é representada pela saturação das cores, onde o jogo perde a cor quando estás escondido na escuridão, e fica mais vivo quando estás em plena luz, facilmente visível.

Em termos de deteção indireta, aqui temos uma mecânica bastante interessante. Quando te diriges a um inimigo para o neutralizar, podes fazê-lo de forma letal ou não letal, sendo que as duas têm positivos e negativos. Se neutralizares um inimigo de forma letal, ele irá estar neutralizado para o resto do nível, mas infelizmente irá deixar um rasto de sangue, fazendo com que possa ser descoberto por um outro guarda, mesmo que tentes esconder o corpo. Se decidires ser não letal, o inimigo não irá deixar o rasto de sangue, mas eventualmente irá voltar a ficar consciente, fazendo com que volte a fazer a sua patrulha pelo perímetro.

Independentemente de onde estiveres, o teu objetivo é sempre seres sorrateiro e tentar completar os objetivos da maneira mais discreta possível, e para isso tens ao teu dispor um leque de ferramentas bastante úteis. O Arthur pode usar vários tipos de flechas, como rope arrows, para poder estender uma corda para subir para certas plataformas, ou algo mais defensivo como smoke arrows, que criam uma nuvem de fumo, excelentes para poderes escapar caso sejas descoberto por um grupo de inimigos.

O uso destas ferramentas ajudam imenso, sendo que senti-me a utilizar constantemente os vários tipos de flechas presentes no jogo. Não há uma obrigação em utilizar todas as ferramentas, mas penso que irá tornar o nível muito mais desafiante. Esta liberdade é um ponto bastante positivo, sendo que o jogo te encoraja a ser criativo e a utilizar as ferramentas ao teu dispor para ultrapassar os desafios que são apresentados de forma mais eficaz.

Podes encontrar algumas flechas pelo caminho enquanto exploras, mas também podes simplesmente usar o sistema de crafting para poderes criar as flechas que precisas no momento. O sistema é simples e fácil de entender, envolvendo uma interface onde escolhes o tipo de ponta, o corpo e um componente especial, como uma corda ou o fumo. Tudo é facilmente encontrado a explorar, e geralmente para quem gosta de explorar, vai sempre haver amplos materiais para poderes usar as flechas com alguma moderação.

No caso de alguns jogadores mais “experimentadores” que queiram assegurar amplos recursos para as suas necessidades, também é possível comprar várias flechas no Black Market. Estas são lojas que podem aparecer a meio de alguns níveis, e geralmente estão espalhadas nos hubs. Aqui podes vender os objetos valiosos que tenhas colecionado, como talheres e copos de ouro, ou utilizar o dinheiro que adquiriste nas side quests, para poderes comprar vários recursos, como flechas, materiais e poções, com um stock limitado por loja.

Penso que o especto mais impressionante do jogo são os seus níveis, com a complexidade que se espera dum jogo de stealth, com aparentemente infinitos caminhos e formas de chegares ao teu objetivo, dando uma liberdade quase incondicional. Podes ter de entrar num edifício, e descobrir que tens uma plataforma onde podes usar uma rope arrow e entrar por uma janela do andar de cima, como podes descobrir uma chave que um guarda no exterior tem, que te deixa abrir a porta principal. Independente da forma, penso que vão haver fãs do género que vão sentir uma boa dose de nostalgia, sendo que este tipo de jogos de stealth são extremamente raros nos dias de hoje.

Algo que me surpreendeu foi o facto do sistema de combate também ser bastante sólido, com blocks, heavy attacks para ultrapassar as defesas dos inimigos, dodges e um parry. Caso sejas descoberto, não irás sentir-te indefeso, podendo muitas vezes lutar com um ou até dois inimigos em simultâneo.

Em termos de aspetos negativos, Winter Ember rege-se mais pela parte técnica do que propriamente mecânica, com várias situações onde a personagem ignora o input do jogador e não faz o que é pretendido, ou simplesmente quando faz algo que é completamente oposto ou diferente ao pretendido, como não subir para cima de um objeto, ou não iniciar a animação de matar um guarda e sem querer tocar nele e alertá-lo. São aspetos ligeiramente frustrantes, e penso que criam um bocado de desconexão.

Caso queiras melhorar algum aspeto da personagem, tens ao teu dispor uma série de skills que poderás desbloquear num dos vários checkpoints do jogo, representados como estátuas, com uma funcionalidade semelhante às bonfires do Dark Souls. Há aqui uma boa variedade, com vários focos desde combate a utilidade, como uma chance para matar um inimigo instantaneamente com uma faca no momento em que ele te deteta, ou algo mais passivo como ter mais espaço no inventário. Cada skill custa skill points para desbloquear, que irás ganhar à medida que completas side quests e as missões da história.

Winter Ember já se encontra disponível para a Playstation 5, Playstation 4, Xbox One, Xbox Series S|X e PC na Steam e GOG.

CONCLUSÃO
Quentinho
7.8
winter-ember-analiseWinter Ember é um jogo que mexe muito com a minha nostalgia. Sendo um fã de jogos clássicos de stealth, sinto que temos aqui uma homenagem a um dos grandes pioneiros do género. É um jogo que tropeça umas vezes pelo caminho, mas que vale a pena pela experiência clássica que nos fornece.