O terceiro homerun da Hazelight Studios já está no ar e alcançou, finalmente, as mãos dos jogadores! Sem surpresa, Split Fiction tem sido muito bem recebido, promovendo o nível de qualidade a que já nos acostumamos. Tendo jogado todas as obras deste estúdio e seguido os seus desenvolvimentos a par de cada título, é com muito gosto que me proponho, não só, a analisar esta instalação mas, também, a dissecar esta eloquente evolução do que, para mim, é o futuro do couch co-op de aventura. Como não podia deixar de ser, também a bom rigor irei, ocasionalmente, passar a palavra ao meu co-lega de caneta nesta análise, que comigo dividiu a ficção. Não percas o fio à meada, e continua a ler esta análise sem spoilers.

Antes de mais quero deixar bem claro que não irei entrar em grandes detalhes que estraguem as surpresas ou o enredo da experiência de quem quer que procure se atirar a Split Fiction às cegas. É, dessa forma, que gosto de me deixar levar por estas experiências, e é a minha recomendação fazê-lo logo que sintas aquele formigueiro de antecipação por experimentares. 

Split Fiction apresenta-nos uma bonita história de amizade para jogares com um amigo a quem queiras passar um segundo comando. Mio e Zoe são duas autoras de histórias de ficção que se cruzam numa saga de auto-descoberta e partilha, onde as suas personalidades vincadas e humanas evoluem num build up cronometrado de carácter e desenvolvimento de uma amizade para a vida. Um campo onde o estúdio se destacou com honras para A Way Out e as suas personagens onde cada qual é uma face da mesma moeda.

Joana Sousa:

Assim, em termos de jogabilidade, somos transportados para mundos incríveis que são fruto da imaginação das nossas personagens. Sem surpresas cada qual reflete traços mais específicos de uma ou outra personagem e consequentemente definem o género de conteúdo que estamos a jogar. Nisto, surge o ponto mais incrível que já assisti na História deste estúdio: a elasticidade e versatilidade com que são capazes de moldar a jogabilidade a cada história que jogamos. 

Reparem bem, não se trata de umas mecânicas que vão incrementando e evoluindo ao longo do jogo. Trata-se sim de todo um ecossistema de mecânicas que afetam desde a forma de mobilidade e de interação com o mundo, até ao género de jogabilidade, perspectiva em relação ao plano do personagem e lógica de navegação dos quebra-cabeças. Tudo isto é redesenhado a partir do zero para cada história que exploramos, como se de um jogo novo se tratasse. O jogador tem de reaprender a jogar em cada mundo que conhece dentro de Split Fiction, como um bebé que corre a gatinhar para se por a mexer, e rapidamente ajustar-se às suas leis e lógica respectiva para progredir. 

Nisto, manteres uma boa comunicação com o outro jogador, será um ponto-chave para tirarem o melhor rendimento da vossa dupla. Por exemplo, em termos de complexidade de cooperação, vejo este jogo a anos de luz de A Way Out, onde mesmo que o teu parceiro estivesse a desbloquear uma cinemática, tu podias estar encrencado com uma tarefa por cumprir e andares às voltas para desbloqueares progresso. Em certa parte dava azo a uma maior independência entre os jogadores, o que não acontece aqui e felizmente tem sido o sentido para a qual a Hazelight tem remado. 

É certo que também não cola os jogadores pela anca como em It Takes Two onde cada passo que a dupla dá tem de ser de mãos dadas e a comunicação infalível para o progresso numa verdadeira terapia de casal. Um pouco à semelhança da sequência inicial de jogabilidade de Joel e Tess em TLOU, que mostra o forte nível de confiança e companheirismo que ambos nutrem um pelo outro. Assim, Split Fiction consegue um bom equilíbrio de cooperação onde não temos de estar sempre a dar as mãos e por vezes conseguimos ir respirar cada um para o seu lado.

Joana Sousa:

À semelhança do mais variado leque de géneros de jogabilidade que regem os mundos que exploramos, quais alguns são mesmo tirados de um imaginário rico e propícios a surpresas refrescantes bem como totalmente inesperadas, também os níveis de Boss são ímpares, e alguns, talvez os mais traumáticos, altamente relacionáveis com os jogadores! À semelhança dos mundos, também os bosses têm mecânicas próprias para os defrontamos, e fico mesmo em dúvida se faltou alguma variante do estilo típico de boss que encontramos em contos e em jogos.

Mesmo em termos visuais, tudo é vestido a bom rigor para se adaptar ao género da narrativa em que nos encontramos de passagem. A arte aqui funciona como um espelho da mente. Sendo cada cenário é uma recriação do imaginário das personagens principais, os mesmos revelam os traços escondidos de personalidade das mesmas. Com uma forte criatividade, recriam muitos dos seres fantásticos e mecânicos de todo o léxico que já nos acompanha na nossa amalgama de experiências em videojogos. Ponto assente inclusive através de claras homenagens por meio de easter eggs escondidos que referênciam as suas sagas de inspiração.

Agradecimento à editora por ter dado gentilmente a oportunidade de poder analisar o jogo.

Split Fiction já está disponível para PlayStation 5, Xbox Series X|S e na Steam para PC.

CONCLUSÃO
Não azeda nem cria bolor
10
Joana Sousa
Apaixonada pelo mundo do cinema e dos videojogos. A ficção agarrou-me e não me largou mais! A vida levou-me pelo caminho da Pós-Produção, do Marketing e da organização de Eventos de cultura pop, mas o meu tempo livre, dedico-o a ti e à Squared Potato.
split-fiction-analiseSplit Fiction é o marco de uma evolução constante e construtiva da Hazelight que redesenha a forma como jogamos jogos em split screen. O jogo tem uma abundante fonte de conteúdo para desfrutares, desde pequenas histórias a mundos inteiros. Com mecânicas que reinventam a jogabilidade do próprio jogo a cada salto, é um desafio que atesta as amizades mais maturas.