Da Wii à recente PlayStation 5, acabei por perder a conta a todos os simuladores de vida no campo que experimentei e explorei, dedicando a alguns deles centenas de horas. Depois de uma avalanche de Story of Season, Harvest Moon, Stardew Valley e outros do género, aterrei de parapente neste Story of Seasons: Grand Bazaar, o que acabou por ser uma agradável surpresa.
Sou suspeito e quem me conhece – ou quem lê o que escrevo por aqui – sabe o quanto gosto de simuladores, em especial simuladores de vida no campo. Num tempo em que tudo é acelerado e desgastante, embarcar num simulador como Harvest Moon ou Story of Seasons pode ser mesmo terapêutico. Perfeitos para sessões longas e descontraídas, títulos deste género servem tendencialmente receitas parecidas, embora com alguns twists criativos, como é o caso de Story of Seasons: Grand Bazaar.
Story of Seasons: Grand Bazaar, inspirado em Harvest Moon DS: Grand Bazaar, lançado para Nintendo DS, chega-nos pela mão da Marvelous Games e traz uma nova e colorida jornada pelo mundo agrícola. Aqui, o jogador terá de desenvolver uma pequena quinta, interagir com os habitantes de Zephyr Town, uma acolhedora vila no meio da natureza, e dinamizar o bazar local, para o qual se pretende ampliar a oferta e o número de lojas com o passar do tempo. Cruzando estes eixos principais com missões secundárias e tarefas de rotina, o trabalho torna-se praticamente inesgotável.
Adquirir e replicar sementes, arear o solo, plantar, regar, colher e criar artigos elaborados a partir do que é produzido são tarefas basilares nos simuladores de vida no campo, não ficando de fora deste Grand Bazaar. À semelhança destes pontos, também a criação de animais como vacas, galinhas e ovelhas – envolvendo o crescimento, a recolha de produtos e o cuidado diário – está incluída, alargando o leque de artigos que podem ser produzidos e de receitas que podem ser confecionadas. Neste aspeto, é relevante referir que a oferta de itens e receitas disponíveis é bastante generosa, o que é aliciante para todos os que gostam de completar a 100% este tipo de registos.

Os pontos inovadores de Story of Seasons: Grand Bazaar estão nos momentos que vão para lá das tarefas diárias. Com a ajuda de moinhos, que o jogador vai desbloqueando com o avançar da história, é possível criar artigos, melhorar ferramentas e dar andamento a uma série de processos que habitualmente eram feitos com recurso a outras personagens e a lojas próprias. Aqui, tudo está mais dependente do jogador, contornando os horários de abertura e fecho do ferreiro ou do carpinteiro, por exemplo. Assim, o número de estabelecimentos de venda disponíveis diariamente caiu neste novo título, uma vez que o mercado e os vários comerciantes estão concentrados no bazar semanal, o foco deste título da Marvelous.
Sobre o bazar, ou o Grand Bazaar, há bastante a destacar. Inicialmente, cabe ao jogador ocupar a sua pequena banca de mercado e colocar os alimentos que recolheu ou os itens que produziu para venda. Depois, com um pequeno sino, há que captar a atenção dos clientes que passeiam por perto, de forma a que eles se aproximem da banca e façam as respetivas compras. Com o stock esgotado ou no fecho do horário de funcionamento do mercado, faz-se o balanço das contas e regressa-se a casa para descansar e começar uma nova semana de trabalho. E assim sucessivamente. A contagem da receita e do lucro de cada venda, que geralmente era feita no final de cada dia, fica assim reservada ao sábado, dia de bazar em Zephyr Town.

Numa perspetiva mais abrangente, a mudança de estação do ano traz naturalmente novas sementes, novos eventos e novas missões. Ao contrário de outros títulos do género, as estações aqui parecem prolongar-se por mais alguns dias do que o habitual e muitas sementes podem ser plantadas e colhidas em múltiplas estações, permitindo uma gestão mais fácil de recursos e de tempo. Ótimo! Por outro lado, os campos de cultivo são estáticos e delimitados, ao contrário de Stardew Valley, pelo que podem ir sendo comprados, sem necessidade de cortar árvores e adaptar o espaço. A madeira e a pedra, por sua vez, são recolhidas através de elementos espalhados pela quinta, com um respawn aleatório e um tanto ou quanto exagerado, o que torna pouco desafiante a recolha destes materiais.
As relações interpessoais desempenham um papel importante em Story of Seasons: Grand Bazaar, nomeadamente ao nível da amizade e do romance com habitantes da vila. Na vertente humana, oferecer presentes e manter contacto com os NPCs é uma excelente forma de criar relações fortes, desbloquear cutscenes e missões e conduzir esta componente da história. Para além disso, a proximidade com os animais é essencial para melhorar a qualidade do que estes produzem, abrangendo até o treino de animais de estimação.

O desafio de gestão de espaços no armazém e na mochila, frequente no género e em RPGs no geral, não se sente muito neste Grand Bazaar. A ampliação é simples de fazer e a base com que o jogo arranca é desde logo generosa. Organizar e encontrar itens guardados também não é problemático, até porque a interface é quase irrepreensível. O apoio e as indicações dadas também não deixam ninguém desamparado e tudo tende a ser intuitivo. Ainda assim, dado o vasto aparato de ferramentas, itens transportados e opções de interação, pode ser confuso utilizar alguns comandos, sobretudo quando variam consoante o contexto ou a ação. Não é, no entanto, algo que possa ser considerado grave. Em termos técnicos, não há igualmente grandes falhas a apontar.
Ao nível da ação, o movimento também foi reformulado. Com o progresso, e apesar de o mapa ser relativamente limitado, é possível desbloquear técnicas como o duplo salto e o parapente, que permitem alcançar novas partes do cenário e mover a personagem do ponto A para o ponto B em menos tempo, beneficiando até do próprio vento. Geralmente, um dos pontos mais desafiantes – e até chatos – deste género é a deslocação a pé ou a cavalo e a necessidade de alcançar locais e personagens em momentos específicos. Aqui, com o comércio focado no bazar e estas novas técnicas de movimento, esse problema praticamente não existe. Só não deixem a vossa personagem cair à água, porque as aulas de natação continuam em falta!

À semelhança de Doraemon Story of Seasons, o dia-a-dia no campo recebeu aqui uma nova roupagem e um toque inovador, tornando-se, dentro do que é tradição e expectável, renovado e original. O bazar, os moinhos, o movimento mais livre e a componente social deram um simpático impulso a esta criação, tornando-a ainda mais especial. Graficamente, este Grand Bazaar é simples e colorido, mantendo o estilo a que a série nos habituou, incluindo desde o pioneiro Harvest Moon: Grand Bazaar.
Uma das vantagens de criações que empregam o modo slow living é que, mantendo a consistência e não havendo picos, o interesse não desaparece com o tempo, garantindo a relevância e uma experiência duradoura. O hábito perde-se quando surge outro título similar, porque manter dois em paralelo é redundante e desinteressante. Dito isto, tenho a certeza de que, para além de todas as horas que já investi em Story of Seasons: Grand Bazaar, continuam reservadas muitas mais, até porque o trabalho não acaba e há sempre algo para produzir, melhorar ou descobrir.
Story of Seasons: Grand Bazaar está disponível para PC na Steam, Nintendo Switch e Nintendo Switch 2.