“Regressar” a Yooka-Replaylee foi uma surpresa incrivelmente agradável, especialmente porque passei por Yooka-Laylee em 2017, onde vi imenso potencial, mas que culminou numa experiência inchada e monótona, com áreas vazias que matavam o ambiente, e uma taxa de fotogramas desajeitada nas consolas. Ora, regressei altamente curiosa para saber se esta versão daria vida à magia que senti que faltava da primeira vez e claro, deixem-me que vos escreva, assim o foi.
A história retorna simples, mas encantadora, girando em torno de Yooka e Laylee, que exploram uma torre misteriosa composta por vários mundos peculiares. Ao contrário do humor e do diálogo por vezes dolorosos do original, a escrita aqui é mais leve, trazendo aquela sensação de platformers dos anos 2000, onde a patetice se sentia em casa. Claro que as tolices sem sentido continuam presentes, mas desta vez com muito mais charme. As personagens mantêm-se idênticas, mas têm mais margem para expor a personalidade, o que nos permite ter uma maior aproximação emocional.
Um dos principais destaques são os mundos. Estes encontram-se muito mais recheados e interessantes em comparação com as extensões monótonas do jogo original. Os colecionáveis desempenham um papel importante, desde os Pagies que desbloqueiam novas áreas e fazem progredir a história, até vários tesouros escondidos que encorajam uma exploração minuciosa. Passei mais tempo a caçar estes segredos do que esperava, procurando todos as recompensas visuais ou power-ups associados à recolha.
Há uma boa mistura de plataformas e combates ligeiros, e senti que os combates contra os bosses foram bem pensados e bem ritmados, especialmente o boss do segundo mundo. O combate, que antes era um ponto instável, foi devidamente trabalhado para os inimigos mais fracos se tornarem um obstáculo divertido e não uma tarefa aborrecida. Os inimigos são estranhos mas ao mesmo tempo engraçados. Ocasionalmente surgem globos oculares saltitantes, robôs peculiares ou pequenas criaturas sorrateiras que têm como principal hobby esconderem-se pelo mapa. Claro que boa parte do tempo recorremos à cauda de Yooka, mas quando bem feita, a repetição não precisa de ser cansativa.
Visualmente, a atualização corresponde aos padrões esperados. Yooka-Replaylee traz um aspeto muito mais nítido e vibrante do que o original na PS4. Os mundos parecem e sentem-se mais vivos, com um design mais rigoroso, com modelos e fundos coloridos e vivos que tornam a exploração merecedora. Podemos ainda desbloquear efeitos visuais, como filtros que dão ao jogo uma sensação retro. A banda sonora sente-se familiar, mas polida, continuando a ser uma das melhores do género, com melodias encantadoras que se enquadram no tom caprichoso.
Claro que nem tudo é perfeito. Dado que o remake utiliza as versões “expandidas” dos mundos do original (em que os mundos aumentam de desbloqueio para desbloqueio), temos o mundo inteiro aberto desde o início. Embora aprecie esta liberdade, a orientação pode sentir-se confusa, uma vez que podemos ir diretamente para as lutas de bosses se soubermos onde procurar, ou nos enganarmos. Esta liberdade significa que, se não tivermos a certeza dos objectivos, é fácil perdermo-nos ou ficarmos presos a vaguear. Claro que surgem marcadores de warp e o mapa também nos guia, mas eu por exemplo não gosto de recorrer muito a mapas, deixando a experiência como uma viagem ao desconhecido.
Em suma, Yooka-Replaylee sente-se como uma reinicialização amorosa que acerta na jogabilidade e nos visuais, mantendo o coração peculiar do original. É um jogo que me tentou a continuar a explorar, apreciando tanto as melhorias como as peculiaridades e, apesar de subsistirem algumas arestas arenosas, é um regresso entusiasmante ao género de plataformas em 3D de que sinto muita falta, principalmente nas consolas, pois na Steam sinto que existe mais margem e facilidade para inovar, seja qual for o género.
Um agradecimento à editora pela cedência de uma cópia digital para análise.
































