Regressar ao mundo de Katamari é sempre uma peculiaridade. Aproximadamente 13 anos depois do último título original na série, o que rapidamente me impressionou em i foi a forma como conseguiu a capturar a eterna sensação cósmica da série sem perder o encanto. Logo desde o ecrã de título, ficou claro que não se tratava apenas de recauchutar terreno antigo, encontrei uma energia reciclada no melhor sentido, sobretudo graças a uma inteligente reviravolta na viagem no tempo que aparece na narrativa e no design dos níveis.

Fruto da minha obsessão (altamente saudável), já agrupei milhares de coisas em esferas/bolas antes, mas ver o meu katamari passar de civilizações antigas para cenários retro-futuristas, foi como se os criadores estivessem a dar largas à sua imaginação. Ainda que a série nunca tenha apostado numa história profunda, encontramos um maior destaque desta vez. O Rei de Todos os Cosmos está novamente a fazer disparates (cósmicos) e, desta vez, abriu um buraco na realidade, espalhando pedaços do próprio tempo. Claro que “Príncipe, por favor limpa a minha porcaria no formato de uma bola gigante” continua a ser o enredo principal, só que agora passamos por eras recheadas de novas piadas e personagens secundárias estranhas.

Como sempre, enrolar coisas é o ato central de Once Upon a Katamari. São introduzidas novas engenhocas, sendo a minha favorita um íman que permite apanhar grupos de objectos e que antes nos fariam ter de andar às voltas durante muito tempo. Os controlos sentem-se mais suaves e a câmara não nos desafia tanto mas, admito que nem tudo funcionou na perfeição. Os controlos, mesmo com os ajustes, sentem-se sempre um pouco desajeitados para os padrões modernos, e honestamente, em metade das vezes, isso faz parte da experiência e estou cá para sofrer convosco. Ainda assim, deparei comigo em alguns momentos a murmurar baixinho pois tive de reposicionar a katamari para apanhar algo em específico.

As viagens no tempo tornam cada fase diferente, com objectos e física específicos de cada época, sendo que cada nível traz sempre desafios diferentes. Cada fase está repleta de piadas visuais e pequenas histórias, como ao passar por um mercado egípcio, não dar para não reparar na densidade surreal de estátuas de gatos e petiscos antigos, ou, quando nos encontramos numa cidade a apanhar panfletos e skates enquanto a multidão corre pelas suas vidas. A quantidade e qualidade na construção do mundo é óbvia, e escrevo sem grandes dúvidas que esta é a equipa de Katamari mais criativa desde os tempos da PS2.

Para além das aventuras geográficas, encontramos também diversão nos objetivos. Por vezes encontro-me a ter de atingir um tamanho enorme dentro de um limite de tempo, noutras, estou a desviar-me de perigos ou até a correr com um amigo no modo de quatro jogadores. Um dos principais pontos de horas gastas foi, claramente, à caça de pontuações altas, especialmente nas missões experimentais. Alguns níveis introduzem o que quase parece ser um combate de Katamaris, onde de repente estamos a rolar contra primos rivais, empurrando-os para manter o nosso ímpeto. A variedade acaba por complementar perfeitamente a clássica fórmula.

Os visuais surgem com um grande passo em frente. Mesmo tendo em conta os remasters, as texturas são super nítidas, com cores exuberantes e todo o tipo de animações polidas. Os objetos não se limitam a colar à bola, pois saltam, giram e caem de uma forma que surge bastante animada. A luz reflecte-se no caos e a atenção ao pormenor dos cenários torna até o tempo de inatividade divertido. Nota especial para a absurdamente boa banda sonora. Encontramos uma mistura de músicas antigas e novas, cativantes, estranhas e jazzy, ou seja, tudo o que esperamos de Katamari. Mesmo os efeitos sonoros, sejam os estalos, os chocalhos, ou os disparates do Rei, trazem dão coesão a toda a atmosfera caótica.

Um agradecimento à PlayNXT pela cedência de uma cópia digital para análise!

CONCLUSÃO
Caótico!
8
Matilde Silva
Gosto de caminhadas na ténue linha entre a análise e a opinião
once-upon-a-katamari-ps5-anlisePara quem procurava uma boa e velha dose de Katamari, vencemos. Esta traz novas reviravoltas que justificam a sequela, e claro, Once Upon a Katamari não é perfeito, mas é o jogo mais divertido que encontramos com a série desde o seu apogeu.