Se há vantagem que o PC nos entrega de forma sublime, são as experiências city builder. As consolas conseguem entregar, mas é no computador que a magia acontece neste estilo. O rato e o teclado oferecem uma velocidade e precisão incomparáveis relativamente a um comando, além da interface ser muito mais prática e acessível, habitualmente. City Tales – Medieval Era é um destes títulos (ainda em early access) que necessita destas duas ferramentas como acessórios, tanto que pelo que me parece, as versões para consolas estão para já descartadas num futuro próximo, e não encontrei suporte para comando nas opções.
Este título desenvolvido pela Irregular Shapes coloca-nos na pele do filho(a) e herdeiro do Duque Leon IV de Montalba. Somos uma espécie de duque que mais parece um rei, e que tem uma árdua tarefa de construir um assentamento, e quem sabe, até o transformar num enorme reino. Somos acompanhados por acessores que serão desde muito cedo o nosso tutorial, e a nossa presença narrativa durante o jogo. O jogo tem uma narrativa interessante, algo que não esperava de todo; e muitas vezes somos surpreendidos com linhas únicas e personalidades muito singulares dos nossos ajudantes.
Desde as primeiras horas de jogo para este título me brindar com belas memórias nostálgicas de um nome em específico: Populous. Não pelas suas mecânicas, mas pela vertente visual e pela maneira que City Tales foge do sistema padronizado do género. A interface é simples, limpa, e é a forma como colocamos os edifícios a chave da experiência. Em City Tales, podes construir os teus distritos da forma mais maneável que pretenderes, usando um desenho com o próprio rato, deixando bem claro os limites e formatos a usar. Isto deixa uma experiência mais dinâmica e visualmente apelativa, sem os padrões quadrados e rectangulares que estamos habituados a presenciar no género.
Mesmo com os desenvolvedores a descreverem City Tales como um jogo cozy, há elementos e recursos para gerir: madeira para transformar em tábuas, mineração, caça e colheita, edifícios para evoluir, e até progressão de cada um dos personagens. São mais de 50 tipos de recursos com produção dividida em até 4 níveis. É interessante designar tarefas para cada um deles, e mais tarde aproveitar os frutos do seu trabalho, quando nos apresentam uns fazendeiros que deixam o serviço praticamente autônomo, e os vemos ganhar experiência no processo. Para evoluir certos distritos, será necessário ter serviços básicos da época, como uma igreja, mercado e até teatro, já que um povo apenas progride em City Tales com cultura, fé, e circulação de imposto.
A parte visual é um misto de emoções. O jogo é belo, e com pormenores interessantes. As estradas surgem naturalmente com a chegada dos habitantes e a forma como se vão movimentando de forma consistente para um determinado lugar, criando assim caminhos por onde passam. O estilo apresentado parece uma tela pintada à mão, sempre carregado por uma atmosfera tranquila, focado essencialmente na gestão e bem-estar dos cidadãos, ignorando os conflitos militares que o estilo city builder medieval quase sempre apresenta. No entanto, mesmo com o jogo na qualidade high ou ultra, alguns detalhes falham redondamente neste produto ainda em desenvolvimento. Algumas pessoas andam sobre a água como se ali não estivesse; outros movimentam-se e desaparecem sem deixar rasto, e alguns detalhes perdem-se quando alteramos a perspectiva, ficando um tanto desbotado, demorando assim para renderizar.
A banda sonora é calma, combinando assim com o core da jogabilidade. É gratificante ver um castelo ganhar forma e vivenciar todo o ecossistema funcionar e produzir enquanto somos absorvidos por temas medievais de Benoît Vanhoffelen, que apresentou 10 faixas originais incríveis. Se a direção artística sonora procurou evocar uma sensação de serenidade em toda a experiência, mesmo que nos momentos mais stressantes, acertaram em cheio.
City Tales é uma lufada de ar fresco no género city builder, uma experiência envolvente e criativa que encanta pela sua liberdade artística e narrativa. Mesmo com algumas arestas por limar, está aqui uma promessa muito grande para o género, capaz de brilhar, e muito mais…
Um agradecimento especial à editora pela cedência de uma cópia digital para análise na STEAM.