Dos ares frescos de Norwyn chega-nos Fresh Tracks.

Quando este jogo foi apresentado para análise, vi o trailer e a primeira coisa que me saiu logo à cabeça foi “isto é literalmente um Beat Saber” e gostei imenso do que vi.

Fresh Tracks é o jogo de estreia do estúdio canadiano Buffalo Buffalo e financiado pelo Canada Media Fund e Creative BC. O estúdio sediado em Vancouver, British Columbia conta com elementos veteranos com experiência em vários jogos de renome como o Gears 5, Gears Of War E-Day ou Pokémon GO, e além de já terem vários jogos não anunciados em desenvolvimento, o estúdio contribui com aulas de design de jogos em instituições como o MTI Xpro’s Game Design Bootcamp e Berklee College of Music.

Fresh Tracks conta com uma forte inspiração da mitologia nórdica e passa-se em Norwyn. O jogo segue Skaii, que foi incumbido pela Mythic Koda com a missão de reunir os outros Mythics para derrotar o Mar, o Mythic de terror. Para conseguir reunir os Mythics, Skaii tem que completar as Story-Songs dos Mythics e derrotar inimigos.

Fresh Tracks é uma combinação única de jogo rítmico com elementos de roguelite. O objetivo é simples: tentar completar a aventura. O jogo é jogado por runs, ou seja, é um ciclo que nunca acaba. Em cada run a estrutura é a mesma: duas músicas, mercador de Whyspers e o Boss.

Sobre os níveis musicais temos sempre três trilhos diferentes (com a exceção do mercador e do Boss da região que estamos) com a música e a dificuldade aleatórias e o jogo faz a questão de tomarmos decisões porque cada trilho que escolhemos ganhamos um bónus que vai desde meio coração extra a colares, o que dificulta a nossa decisão mas aumenta as probabilidades de risco/recompensa.

Decisões, decisões…

O jogo brilha em vários aspetos. Logo no início do jogo escolhemos a uma das quatro dificuldades do jogo (e podemos alterar em qualquer altura do jogo) e a dificuldade vai afetar o número de corações que temos por definição, sorte (afeta o quão facilmente encontramos novos skis que precisamos desbloquear ou itens), redução de dano que sofremos, timing para acertar dos inimigos e se os Mythics baixam a dificuldade das músicas de Boss ou não.

Os controlos são simples. Temos o botão para salto com possibilidade de fazer salto duplo para evitar obstáculos mais longos, botões para inclinar para a esquerda e para a direita, direções para mudar de linha ou agachar, botão para ativar a habilidade da Rhythmic (que só é preenchida com uma mecânica que explicarei mais à frente), analógico direito para golpear o Rhythmic e um botão para consultar o mapa.

A jogabilidade é muito simples: para quem jogou Beat Saber vai sentir-se “em casa” graças às semelhanças entre os dois jogos. Cada música tem um ambiente diferente e mesmo que tenhamos a hipótese de fazer a mesma música com uma dificuldade diferente, a experiência é sempre diferente. Por exemplo, se houver a oportunidade de selecionar uma música que já tenhamos feito mas com dificuldade diferente, o nível traz sempre algo novo, como mais e novos obstáculos e o percurso muda ligeiramente, o que muda a nossa memorização das localizações dos obstáculos e items.

Hora de abanar o esqueleto

Além de desviarmos dos obstáculos, também colecionamos Whyspers, Ekkos, corações para recuperar a vida e Resyn para a Rhythmic. Os Whyspers é a “moeda” do jogo que gastamos no mercador de Whyspers onde podemos comprar itens de uso único (e o jogo acrescenta um botão para o usar) e colares com habilidades permanentes que ajudam com a nossa run. Se o mesmo colar for comprado, esse colar sobe de nível e melhora o efeito.

Os Ekkos são os mais raros de aparecer e servem para comprar skis que vamos encontrando ao longo da run e desbloquear os trilhos das músicas que vamos descobrindo durante a aventura. Quando existe um trilho com uma música ou dificuldade da música nova, o jogo aponta logo que é novo e basta entrar nesse trilho para ficar disponível para compra no The Lark independentemente do resultado da run.

As Resyn servem para encher a barra da Rhythmic e usamos a Rhythmic para destruir obstáculos como árvores e atacar inimigos. Outra forma de encher a barra da Rhythmic é com golpes nos obstáculos e inimigos com um Perfect Timing, com o efeito visual laranja do on-beat sendo o mais eficaz. Quando a barra da Rhythmic fica preenchida, é possível ativar a habilidade da Rhythmic e cada Rhythmic tem uma habilidade diferente. Existem três tipos de Rhythmics no total com dois por encontrar em condições certas nos níveis de Boss.

Quando falhamos a música, perdemos todos os Whyspers e o equipamento (colares e items), mas retemos os Ekkos e voltamos ao início da run, mas se voltarmos à música que falhamos (com a mesma dificuldade) temos a possibilidade de recuperar o equipamento.

O jogo destaca o perfeito equilíbrio entre a curva da aprendizagem e a dificuldade. Como já abordei mais acima, logo no início podemos escolher a dificuldade geral do jogo, e esse é um dos fatores que faz com que o jogo seja bastante convidativo para os iniciantes deste tipo de jogos e para os veteranos de jogos musicais.

Outra coisa a falar sobre este aspeto é os Divine Favors. Antes de iniciarmos a run, podemos ter acesso aos Divine Favors. Os Divine Favors é uma espécie de menu que facilita imenso para quem tem dificuldades em algumas trilhas. Podemos ativar ou desativar três opções: eliminar as músicas de dificuldade fácil na run, eliminar as músicas de dificuldade máxima na run (mas não altera a dificuldade das músicas de Boss) e o perdão dos Mythics, que faz aumentar exponencialmente a procura de vida e Resyn se falharmos constantemente numa música.

Toca a bater nos mauzões

No menu principal da run além de podermos mudar o nosso equipamento e a Mythic, o jogo oferece a opção para treinarmos as músicas que passamos e falhamos no The Lark, que ficam disponíveis para compra quando são descobertas ao longo da run.

O Memory Palace é o menu da pausa do jogo. Lá podemos consultar o mapa para sabermos onde estamos atualmente, resumir ou acabar a nossa run ou voltar ao ecrã principal, consultar objetivos, ver o Lore de Norwyn (que, curiosamente, são os textos do início dos níveis e outras coisas narrados pelo Mythic que temos equipado), consultar os tutoriais do jogo e alterar as definições do jogo.

A banda sonora é outro dos pontos fortes. O jogo conta com 25 músicas originais e vem com a opção de ativarmos as letras das músicas e os tipos de músicas vão desde música electronica a Metal nórdico. Cada música complementa a história que é narrada pelo nosso Mythic e os níveis têm uma coordenação perfeita entre a música, as batidas e a «coreografia» dos obstáculos. Como nota pessoal, a banda sonora está bem diversa e encaixa muito bem com o jogo e tenho algumas das músicas como minhas favoritas.

O departamento musical tornou a experiência tão imersiva que se pausarmos o jogo, mudar os skis ou o Mythic ou ir ao Memory Palace merecemos levar com um comentário do Mythic que temos equipado. Está um trabalho fenomenal nos detalhes e dá uma grande alegria ao jogo especialmente com auscultadores.

Em resumo, Fresh Tracks é uma experiência musical linda e única com uma banda sonora produzida pelo estúdio Ictos Audio. Traz elementos de Beat Saber que cativa os fãs do jogo ou de jogos musicais no geral e é altamente recomendável o uso de auscultadores para maximizar a experiência que o jogo proporciona (e o próprio jogo recomenda evitar o uso dos auscultadores com Bluetooth). Na minha opinião, o jogo não vacila e não consegui apontar qualquer falha do jogo graças à mistura equilibrada de dificuldade e aprendizagem, os caminhos que escolhemos e uma história simples e bem contada faz com que o Fresh Tracks tenha nota 8 facilmente e é um exemplo de um trabalho bem feito e original por um estúdio estreante.

Como nota final dar o destaque aos créditos, onde o estúdio menciona orgulhosamente o seu departamento de hospitalidade encabeçado pelo responsável do departamento Obi-Wan Kenobi the Corgi e os seus elementos do departamento que são os animais de estimação da equipa que criou o jogo.

Fresh Tracks já disponível para Steam PC, PS5 e Xbox Series S/X. Agradecemos gentilmente à editora a cedência da chave digital.

CONCLUSÃO
Pistas Frescas
8
Hugo Campos
Tendo o Mortal Kombat II como o 1º jogo que jogou desde os 5 anos, teve todos os PCs até ao Pentium 3 e mudou para as consolas quando consegiu ter dinheiro. Grande viciado de jogos de corridas, luta, RPGs e musicais, tem uma grande de coleção de jogos de ps2 até ao 5. É fundador do canal da Twitch Squil TV.
fresh-tracks-analiseFresh Tracks é uma experiência única onde reina a música. O conjunto de tipos de jogos estão bem misturados e resulta num jogo que combina decisões difíceis, reflexos rápidos e uma história cativante. Fresh Tracks é um jogo facilmente recomendado para os fãs de Beat Saber, de jogos musicais ou para quem queira uma experiência diferente.