O Anime é um dos grandes sectores da indústria do entretenimento no Japão. Incontáveis são os estúdios que se dedicam a produzir animações fantásticas, proporcionando grandes momentos e despertando vários sentimentos em nós. Ação, Tristeza, Comédia, Êxtase, tudo é válido no que toca à produção destas obras de arte em movimento que muitos animadores tentam embeber em cada cena! Contudo, neste vasto mar, alguns estúdios de animação alcançaram o seu nível de excelência no que toca à qualidade das suas obras. Com isto, quero destacar um estúdio em particular, que tentou ir mais além, cego por uma forte ambição, de uma magnitude nunca antes vista, prometendo abanar todo o sector e alcançar um novo título de reconhecimento. O nome: Madhouse.

Madhouse, fundado em 1972, é um dos estúdios japoneses de grande renome da indústria, arrecadando um sério e bem composto catálogo de êxitos de animação. Passando pelos animes mais clássicos como Cardcaptor Sakura, Death Note, Black Lagoon e Trigun, até a alguns mais “recentes”, como One Punch Man, No Game No Life, Hunter x Hunter e o mais recente, Frieren: Beyond Journey’s End. Focando-nos algures nos inícios de 2000, eis que o estúdio decidiu escolher a palavra “ambição” e dar uso a esta,  iniciando um novo projecto para um novo filme de animação. Algo, fora de adaptações de manga ou comics, algo original, com um estilo próprio. Um filme que poucos ou nenhuns sonhavam em tentar fazer. Foi então que a ideia para Redline veio à mesa.

Redline não seria um filme de anime qualquer. Este exigia que tudo fosse desenhado à mão, sem efeitos CGI ou outros métodos que desvalorizassem o empenho manual dos desenhadores. Um processo que, eventualmente, levaria imenso tempo a ser cumprido e que recorreria mais pessoal para a equipa. Mas nada parou esta cega ambição da Madhouse, que acabou por nomear Takeshi Koike (que trabalhou nos filmes Animatrix e Lupin the IIIRD) como o diretor deste massivo projeto. Com o trabalho de toda a equipa, ao fim de 7 anos, mais de 100000 (cem mil) frames desenhados à mão e um total gasto aproximado de 30 milhões de dólares (um valor incrível para um filme de anime), Redline ficou pronto para ser exibido nas bilheteiras nipónicas!

A história de Redline envolve loucas corridas de carros retro todos quitados com peças altamente futuristas, fundindo uma espécie de Wacky Races com o Universo Sci-Fi. A personagem principal, com aparência de Elvis Presley do Futuro, decide entrar na grande corrida (Red Line), que acontece apenas de 5 em 5 anos, almejando o grande título de Piloto das Galáxias. No entanto, com a concorrência, o dinheiro, a corrupção e a máfia metidas ao barulho, esta corrida não vai ser pêra doce! Já na direção artística, esta é sublime, composta por cores altamente contrastadas, utilizando fortemente os pretos como substituto das sombras (também lembrando muito os detalhes visuais de jogos como Viewtiful Joey e No More Heroes). A animação segue o mesmo forte, vendo-se que grande parte do orçamento foi aqui apostado, com os detalhes bem executados, deformações incríveis e muitas explosões lindas de se ver. Isto tudo acompanhado de uma rítmica e cativante banda sonora, composta por James Shimoji, pai de algumas faixas de Lupin the IIIRD.

Para que não fiques de fora, aqui vai o pequeno trailer do filme:

A 9 de Outubro de 2010, Redline estreou nos cinemas do Japão. E qual o espanto quando as receitas totais arrecadadas mal superaram os 8 milhões de dólares, ficando muito aquém do esperado, e causando um prejuízo brutal nas contas da Madhouse. Mesmo a boa pontuação nas plataformas de classificação de filmes (7.5 no IMDB) não foi suficiente para continuar a encher as salas de cinema, resultando numa era negra para o estúdio. Com este flop de bilheteira, Madhouse não tinha por onde recorrer, só restando anunciar o fecho do seu estúdio. Contudo, como uma luz ao fundo do túnel, eis que a Nippon TV decidiu “salvar o dia”, adquirindo 95% das ações da Madhouse, sendo esta a nova possuidora do estúdio, ficando a Sony Entertainment Pictures Japan com os restantes 5%. Ainda que esta mão bem esticada da Nippon TV tenha tirado a Madhouse do seu buraco, os estragos já estavam feitos, com as saídas de alguns membros importantes da equipa. Um deles foi Masao Maruyama, que descontente com os trabalhos forçados, ganância e má gestão da Madhouse o levaram a pisar o tapete de saída e a fundar o seu próprio estúdio, de nome: MAPPA (Maruyama Animation Produce Project Association).

MAPPA tem sido a nova casa de muitos grandes êxitos de anime, entre estes o famoso Attack on Titan, Jujutsu Kaisen, Chainsaw Man, Vinland Saga e Hell’s Paradise. Contudo, devido ao grande crescimento do estúdio, Maruyama não quis continuar no mesmo, com receio que pudesse tornar-se em algo semelhante à Madhouse. Com isto, Manobu Otsuka foi nomeado o novo CEO e Maruyama mais uma vez decidiu criar mais um estúdio: Studio M2. Até hoje, o estúdio não possui um leque grande de obras, contudo há que destacar a sua última produção, Pluto, que foi muito bem recebida pelo público.

Quanto ao estado atual da Madhouse, esta continua a produzir ainda bons animes, ainda que não com a qualidade de antigamente. Contudo, mesmo com as duras criticas de trabalhos esforçados e as más condições, estas não deixaram de ser alvo de impedimento para que o estúdio pudesse entregar ocasionalmente obras que se destacam. Friso novamente a última produção do estúdio, Frieren: Beyond Journey’s End, que foi nomeado melhor anime do ano pela Tokyo Anime Award Festival de 2025, entre outras grandes nomeações.

Nos dias de hoje, Redline continua a ser uma obra visual bem à frente do seu tempo. Este pode já ser considerado um anime de culto, uma gema preciosa perdida no tempo. Pessoalmente só há cerca de 1 ano é que tive a oportunidade de assistir a este filme. E posso-te confessar que Redline parece algo criado nos dias de hoje. Se disser que o filme já tem 15 anos, a maioria não acreditaria! O seu enredo pode parecer algo confuso e não tão convidativo como noutros animes de renome, mas a sua execução visual transcende muitas outras obras, tornando-se em algo verdadeiramente majestoso e excitante de se ver. Caso tenhas interesse em ver Redline, via meios oficiais, poderás fazê-lo na plataforma da Amazon Prime, por meio do uso de uma VPN.

E tu, conheces mais algum anime que não teve o seu devido destaque? Conta-nos tudo nos comentários!

Bruno Dores
Um fanático por Nintendo, de nome "Nintendista", que procura mostrar ao mundo o lado mágico da empresa que o acompanhou durante toda a vida.