Como um ser bastante céptico que sou em relação a praticamente todos os temas de espiritualidade, confesso que por diversas vezes pensei que iria jogar The Medium com o foco pleno nas suas novas propostas de jogabilidade um pouco invulgares (no bom sentido), visuais, e qualquer outro elemento característico que não estivesse relacionado com a história, que sempre deixei para último plano. Pois bem, parece que me enganei em cheio…
The Medium não se trata de uma experiência milionária de um AAA, não obstante de ser o projecto mais ambicioso e com mais fundos investidos pela Bloober Team, o estúdio Polaco responsável por toda a obra, e conhecido também por títulos como Layers of Fear, Observer, e o mais recente Blair Witch. No entanto, por diversas vezes, muito por culpa da sua estrondosa atmosfera, conseguiu deixar-me a completamente espantado e agarrado no clima com a qualidade colocada no projecto e, portanto, apresento desde já o meu apreço por todo este capricho e paixão disposta no jogo por parte deste promissor e crescente estúdio.
“Tudo começa com uma menina morta”, e assim de forma melancólica enquanto acende o seu cigarro, Marianne, a personagem principal que dá vida a esta história, começa a narrar-nos tudo por que passou e continua a passar com esta série de experiências sobrenaturais que a perseguem desde muito nova, das quais ela já se parece ter acostumado.
Perguntas-me então, caro leitor: mas que tipos de experiências sobrenaturais são essas, Igor? Pois bem, tal como o nome que faz jus ao título indica, Marianne é uma Medium que tem a dádiva ou a carga pesada como um fardo de comunicar com o mundo sobrenatural, mais especificamente o mundo dos mortos, atrás das almas penadas, que diversas vezes ajudou a “caminharem para casa”, para a luz, para o infinito.
Sem querer entrar em muitos spoilers que te possa estragar a experiência, deixa-me dizer-te que mencionei acima que não esperava muito da história e que me enganei completamente, certo?! Isso mesmo, volto a frisar, enganei-me mesmo. A história é o ponto mais forte de The Medium, e senti que assim o iria ser muito rapidamente, logo nos primeiros momentos do jogo após a morte do seu pai adoptivo. A cutscene apresentada nesse segmento após Marianne o encontrar no mundo dos mortos, é de uma espetacularidade de detalhe, compaixão e escrita mas, acima de tudo, tocante. Foi nesse momento que me apercebi que a componente humana iria ser muito presente e explorada no jogo, algo que talvez por preconceito com este estilo de horror games, pensei estar ausente.
The Medium tem uma direcção artística muito única e peculiar, com tudo o que esperas ver num bom jogo de terror. Temos florestas tenebrosas e completamente desertas, locais de obras inacabadas abruptamente pronto a causar aquela sensação de solidão, mistério e medo, uma cidade completamente fantasma, e claro, com um hotel abandonado, que logo após o primeiro contacto sabemos de fonte segura que ali há gato, só pelo aspecto da coisa -ok-, e talvez porque quase todos os jogos de terror têm hotéis a cair aos bocados.
Se esperas que The Medium seja um jogo para te provocar aqueles jumpscares fáceis e muitas vezes desenquadrados, talvez este não seja o jogo para ti. Não digo que não exista um ou outro, mas o segredo do “terror” de The Medium encontra-se na brilhante atmosfera criada. Todas estas sensações passadas pelos visuais ficam ainda melhores quando acompanhado pela melancólica banda sonora do majestoso Akira Yamaoka, compositor e músico da série Silent Hill.
A proposta de jogabilidade que a Bloober Team quis trazer para o seu público foi, de certa forma, arrojada. Bebeu, claramente, imenso da fonte de Resident Evil e Silent Hill, duas inspirações enormes a olhos vistos. Com uma proposta em terceira pessoa bastante diferenciada dos demais do género actualmente, o jogo foca-se na utilização de elementos clássicos como câmara fixa apenas em transições, quando moves a personagem para os limites do cenário, e a maior fatia de toda esta proposta foi colocada no conceito de split-screen, ou seja, nos momentos em que Marianne, estará simultaneamente em ambos os mundos, com visuais diferentes, mas que a controlarás em síncrono.
Um dos problemas de The Medium passa pela falta de ritmo após umas longas horas, quando sentes que a jogabilidade nada mais te vai oferecer, já que toda a progressão de Marianne é feita através de resolução de puzzles, que são, por sinal, bastante fáceis. Também a falta de desafio pode ser a conclusão se este jogo irá ser ou não para ti, tendo em conta que a dificuldade é um elemento completamente ausente do título. Se fores jogar The Medium, tens que pensar mais propriamente numa experiência curta, totalmente absorvida pela sua narrativa. Demorei cerca de 7 horas para o terminar, uma longevidade que considero justa, mas no entanto com pouco valor de repetição.
Toda a minha jornada na pele e mente de Marianne foi experienciada através do meu computador, a partir do magnífico serviço Xbox Game Pass, e com todas as especificações recomendadas para jogar nas definições gráficas altas. The Medium tem uma performance razoável, com algumas quebras exponenciais nos momentos split-screen de dupla realidade, e com um tanto de texturas “borratadas” que podem demorar alguns segundos a a fazer o carregamento completo.
The Medium está disponível para Xbox Series X/S e na Steam para PC – Windows 10. Também podes experienciar a jornada de Marianne a partir do catálogo Xbox Game Pass.