A aventura de Bloomtown: A Different Story tem início quando Emily e o irmão mais novo, Chester, vão até casa do avô, numa sossegada vila americana dos anos 60, para passar as férias de verão. No entanto, a aparente pacatez dos subúrbios esconde segredos obscuros, e o verão dos dois irmãos, que até então parecia monótono, acaba por se tornar incrível. À boleia de fenómenos sobrenaturais, do desaparecimento de crianças da vizinhança e de figuras caricatas que vão alimentando o enredo, Bloomtown progride de forma sólida, tornando-se cada vez mais interessante.

Juntamente com Ramona e com o corajoso Hugo, Emily e Chester são confrontados com a existência de um submundo, o Underside, uma espécie de dimensão paralela, e com a presença de demónios que terão de ser combatidos e derrotados, para desvendar o mistério sombrio que assola a cidade e restaurar a tranquilidade a que todos estavam habituados. Equilibrando o real e o fantástico, Bloomtown oferece uma viagem repleta bons diálogos, suspense e missões secundárias que enriquecem a experiência.

Uma história diferente

Sob a atmosfera ideal, Bloomtown permite a exploração de diversos cenários, mergulhando o jogador num mundo que tem tanto de acolhedor como de desconfortável. O estilo minimalista e pixelizado com que se apresenta não compromete de forma alguma a riqueza de detalhes, reservando constantes surpresas e segredos para desvendar. A profundidade narrativa, mascarada pela simplicidade gráfica, é claramente um dos pontos fortes do jogo.

Em termos narrativos, Bloomtown tem uma história altamente interessante. Construída com base em diálogos inteligentes, frequentemente com piada e de múltiplas escolhas, a abordagem foge à lógica linear, abrindo portas ao erro e a caminhos opcionais. Sem aborrecer, apresenta uma história bem escrita e contada de forma cativante, dando constantemente ao jogador a expectativa de estar prestes a descobrir algo ou a percorrer caminhos secretos ainda não explorados.

Bloomtown: A Different Story

Bloomtown inclui missões secundárias, tarefas, colecionáveis e um leque de personagens cujos passados nos vão sendo dados a conhecer. Fora dos acontecimentos do enredo principal, Emily pode requisitar e ler livros da biblioteca, plantar e cozinhar em casa do avô, pescar em vários locais do mapa e visitar as inúmeras lojas que estão disponíveis pela cidade, numa série de atividades que alimenta a seção de colecionáveis, permite adquirir recursos e impulsiona as várias competências da personagem.

Combates e itens

A par da história, os combates desempenham um papel essencial ao longo de toda a aventura. Ao entrar no Underside, Emily e a equipa são confrontados com demónios que deambulam um pouco por todo o mapa. Com recurso a ataques diretos, a armas, à magia proporcionada pelos guardiões e pelos demónios capturados e ainda aos itens que vão sendo comprados ou criados, o grupo tem de derrotar os inimigos que encontra pelo caminho, num sistema de combate por turnos.

Se por um lado sou adepto de ação em movimento, a vertente por turnos não me desagrada, uma vez que permite optar por uma abordagem estratégica que antecipa jogadas, combinando itens e ataques. Bloomtown incorpora muito bem este elementos, uma vez que disponibiliza uma generosa variedade de itens e, como bom RPG que é, inclui ataques mágicos, classificados por tipo, e stats de inimigos e de personagens que podem ser aproveitados.

Bloomtown: A Different Story

No final de cada combate, é arrecadada uma determinada quantidade de pontos de experiência, numa dinâmica que não é propriamente clara, mas que permite evoluir personagens e guardiões, desbloqueando novas habilidades. Para maior complexidade, quando atordoados, os demónios adversários podem ser capturados e posteriormente atribuídos a uma das quatro personagens principais, assegurando-lhes as respetivas vantagens e técnicas especiais. Como se tal não fosse suficiente, existe ainda a opção de fundir demónios, gerando parceiros mais poderosos, o que torna esta componente ainda melhor.

Os combates são desafiantes e podem ser mais ou menos longos, dependendo da abordagem, da resposta dos inimigos e da capacidade de cada jogador gerir pontos de vida, pontos de magia e itens. Uma boa e longa batalha por turnos é sempre interessante, mas por vezes pode tornar-se frustrante, sobretudo porque os inimigos parecem não esgotar energia, atacando ininterruptamente e sendo particularmente esquivos.

Uma questão de hábito

No começo, Bloomtown é confuso, mesmo para quem está familiarizado com o género e com o conceito da história. Com o tempo, o hábito cria-se e a experiência torna-se muito mais satisfatória. No meu caso, a aventura principal durou cerca de 25 horas, número acima de vários títulos semelhantes. Um dos pontos que mais me incomodou no começo do jogo prende-se com o facto de não ser possível salvar manualmente, estando o salvamento restrito ao modo automático, sem que seja inicialmente claro quando ou como tal vai acontecer. Neste sentido, o que parece ser um detalhe pode apanhar desprevenidos alguns jogadores, levando-os a perder progresso no jogo ou a ter dificuldade para regressar a pontos-chave na história.

Bloomtown: A Different Story

Por outro lado, a nível de experiência e acessos, não há muito a apontar. A utilização do menu passa igualmente por uma questão de hábito e o uso do mapa também. A funcionalidade de viagem rápida existe, mas nem sempre é imediata, o que pode causar alguma confusão. Determinadas componentes dos combates, nomeadamente a captura de demónios, também não são claras, levando algum tempo a compreender.

Apesar das ligeiras falhas, Bloomtown consegue superar as expectativas. Com uma atmosfera única e uma capacidade de storytelling que combina na perfeição com o ritmo do jogo, esta obra oferece muitas e boas horas de concentração e imersão. No fundo, é como se Stardew Valley, Stranger Things, Digimon e Sea of Stars caminhassem em conjunto, numa fusão que resulta extremamente bem.

Bloomtown: A Different Story foi lançado a 24 de setembro e está disponível para PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox Series X & S, Xbox One, Nintendo Switch e PC.

+ Pontos Positivos

  • História interessante e bem escrita
  • Combates dinâmicos
  • Variedade de itens e tarefas
  • Arte detalhada num estilo acolhedor

– Pontos Negativos

  • Sem salvamento manual
  • Navegação confusa

CONCLUSÃO
A não perder!
8
bloomtown-a-different-story-analiseComo é que não há mais gente a falar disto? Equipado com uma narrativa incrível e carregado de conteúdo, Bloomtown proporciona uma longa e viciante viagem a todos os que decidem embarcar na experiência. Com magia, mistério, ação e humor, Bloomtown: A Different Story cai-nos nas mãos como obra imersiva, criativa e, numa só palavra, extraordinária.